O diminutivo -inho, de cafezinho ou Ronaldinho, é frequentemente associado a um traço da afetividade e da cordialidade brasileira.

Mas esse elemento, afirma Venâncio, é uma criação da língua galega, que passou pelo seu processo de formação bem antes dos 1500 da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil.

“O -inho é uma criação galega, realmente. Não há no resto da Península Ibérica nenhum diminutivo como esse”, afirma Venâncio.

“Para nós portugueses é muito interessante ver como os brasileiros usam muitos diminutivos e são esses diminutivos afetivos que têm muito uso no Brasil. É uma coisa que nós usamos e que os galegos também usam com valor.”

Já a origem da mais famosa expressão nordestina, oxente, “podemos dizer sossegadamente que é de influência galega”, diz o linguista.

Não há um registro definitivo do surgimento de oxente no linguajar nordestino.

Na internet, até se encontra a tese de que é uma derivação da expressão do inglês “oh shit” (“que m…”, em tradução livre), que teria chegado com militares americanos estacionados no Nordeste brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial.

As evidências, no entanto, apontam para o noroeste da Península Ibérica.

Xente” (gente) é uma palavra galega. O fonema do X no lugar dos sons de G e J no português, aliás, é um dos traços mais marcantes da língua galega (José vira Xosé na Galícia, por exemplo).

Não se pode ignorar que o termo “galego” — um povo com a genética norte-europeia dos celtas — seja usado amplamente no Nordeste brasileiro para designar “pessoa loira”. A região, de fato, chegou a receber imigrantes oriundos da Galícia.

E para mostrar que, durante séculos, as línguas portuguesa e a galega foram as mesmas, Venâncio lista em seu livro palavras com igual estrutura, formação e significado que só existem neste dois idiomas.

Confira abaixo palavras que o português e o galego compartilham. Às vezes, há variação na grafia, demarcada entre parênteses sua versão em galego, porque as línguas se distanciaram ao longo dos séculos.

Para comparação, foram colocadas à direita, em itálico, a palavra em castelhano, a língua mais falada na Península Ibérica e que hoje em dia é mais corrente na Galícia do que o próprio galego.

Arrepio (arrepío) — escalofrío

Cachoeira — cascada

Cão (can) — perro

Cheiro — olor

Borboleta (bolboreta) — mariposa

Desabafo — desahogo

Desleixo — descuido

Enteado — hijastro

Enxurrada — torrente

Ervilha (ervella) — guisante

Espirro — estornudo

Esquecimento (esquecemento) — olvido

Escolha (escolla) — elección

Furo — agujero

Golfinho (golfiño) — delfín

Jeitoso (xeitoso) — de buena presencia

Lixo — basura

Maresia (marusía) — olor de mar

Mergulho (mergullo) — zambullida

Minhoca (miñoca) — lombriz

Namoro — noviazgo

Orvalho (orballo) — rocío

Pêssego (pexego) — melocotón

Rua (rúa) — calle

Saudade — añoranza

Trapalhada (trapallada) — desastre

Urro — rugido

Vadiar — holgazanear

Vagalume — luciérnaga

Deu em BBC