Estudo prevê clima de deserto em metade do Nordeste até 2100 - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Água 11/11/2025 08:29

Estudo prevê clima de deserto em metade do Nordeste até 2100

Estudo prevê clima de deserto em metade do Nordeste até 2100

Um estudo apresentado pelo Centro Estratégico de Excelência em Políticas de Águas e Secas (CEPAS), em parceria com a Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará, projeta que até o final do século o Nordeste brasileiro poderá ter até 99% de seu território sob condições áridas e semiáridas.

O levantamento, divulgado no Boletim CEPAS na COP30, indica que o fenômeno da desertificação tende a se intensificar nas próximas décadas, especialmente no interior cearense, caso as emissões de gases de efeito estufa sigam em alta.

Projeções alarmantes

Com base em 19 modelos climáticos globais (CMIP6), o estudo avaliou a evolução das classes climáticas de Thornthwaite — que medem o equilíbrio entre temperatura e umidade — sob dois cenários de emissões: o intermediário (SSP2-4.5) e o de altas emissões (SSP5-8.5).

Os resultados mostram que, mesmo com ações moderadas de mitigação, a área classificada como árida deve saltar de 3% para 26% do Nordeste até 2100, enquanto o semiárido avançará de 43% para quase 60%.

Em um cenário extremo, de altas emissões, o quadro é ainda mais grave: o território árido pode alcançar 56,7% da região, e o semiárido, 42,4% — o que representa 99% da área total.

O futuro está sob disputa e a COP30 é uma arena importantíssima desta batalha”, afirma o relatório. “O planeta e o semiárido nordestino podem ser diferentes, com menos estresse hídrico, dependendo das decisões tomadas pelos Estados e coletivos humanos.”

Impactos no Ceará e no semiárido

O Ceará deve sentir os efeitos antes do restante da região. O estudo aponta que áreas hoje subúmidas — como os sertões dos Inhamuns, o Cariri e o médio Jaguaribe — tendem a se tornar semiáridas já nas próximas duas décadas.

O Ceará apresenta antecipação e intensificação da aridização em relação ao conjunto do Nordeste”, destaca o documento. “Os refúgios altimétricos e litorâneos resistem por mais tempo, mas encolhem e se fragmentam até 2100.”

Entre as consequências diretas estão a redução da recarga subterrânea, o aumento da intermitência dos rios, a pressão sobre reservatórios. Por fim, a queda na produtividade agrícola. O avanço do clima seco também ameaça a biodiversidade e amplia a vulnerabilidade de comunidades rurais.

Para o professor Alexandre Araújo Costa, da Universidade Estadual do Ceará, o quadro exige urgência. “Identificar as possibilidades e limites de adaptação dos sistemas humanos e naturais em nosso semiárido é uma tarefa urgente”, afirma.

Foto: Wilson Dias – Agência Brasil

O engenheiro José Kerlly Soares de Araújo, pesquisador do grupo de risco climático da Universidade Federal do Ceará, reforça a gravidade das projeções:

O avanço da aridez, mesmo sob cenários moderados, evidencia a necessidade de fortalecer políticas públicas antecipatórias e inovar em tecnologias de uso eficiente da água.”

Chamado à ação

Além disso, na avaliação do diretor do CEPAS, Francisco de Assis de Souza Filho, o Nordeste é hoje “a fronteira climática do Brasil”. Ele defende que a gestão hídrica precisa se tornar adaptativa, integrando ciência, políticas públicas e comunidades locais.

O boletim encerra, portanto, com três recomendações principais para os debates da COP30, que será realizada em Belém:

  1. Reconhecer que o processo de aridização é antecipado e amplamente corroborado por evidências científicas;

  2. Basear as respostas em ciência e gestão integrada dos recursos hídricos;

  3. Planejar a adaptação de forma territorial, com foco especial no semiárido nordestino.

Os sistemas de recursos hídricos devem se preparar para maior pressão de escassez”, conclui o estudo. Ou seja, “A adaptação precisa ser rápida, integrada e territorialmente focalizada.”

Deu em Agro em Campo

Ricardo Rosado de Holanda
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