Artigo 28/10/2022 12:17

Nós, que pensamos igual, nos entendemos, mas os outros são só os outros?

Quando interagimos com uma pessoa diferente de nós, temos a tendência em nos preparar melhor para a argumentação. Pesquisas mostram que empresas que têm mais mistura étnica e de gênero ganham mais dinheiro que as muito homogêneas

Cada clique de curtida que você recebe nas redes sociais faz com que seja disparado no seu cérebro um circuito de recompensa que é o mesmo ativado quando experimentamos um delicioso chocolate ou quando terminamos uma tarefa que estava pendente.

Temos realmente uma máquina que nos faz sentir confortáveis e seguros com o pensamento daqueles que pensam como a gente.

O diferente dá mais trabalho. Ele ativa outro circuito, o da amígdala, localizado no lobo temporal, que sinaliza medo e desconfiança daquilo que pode nos trazer perigo, do que é estranho, diferente.

Isso tudo é muito mais inconsciente do que podemos imaginar. Estudos mostram que brancos acham que os negros são mais violentos e propensos a provocar transtornos, simplesmente por serem negros. E essa “opinião” inconsciente acontece mesmo quando se fala em crianças negras de cinco anos de idade.

Nessas situações, estudos de neuroimagem mostram que as amígdalas estão bem ativadas e essa ativação reflete o quanto as pessoas são relutantes em acreditar nas outras.

Por outro lado, o sistema de recompensa desempenha o seu papel de contrabalancear o efeito de desconfiança das amígdalas. Esses circuitos de recompensa são antigos na evolução dos vertebrados e estão presentes em pássaros, répteis, anfíbios e mamíferos.

Uma pesquisa clássica, conduzida por pesquisadores da Universidade de Stanford, mostrou que o sistema de recompensa de camundongos era bastante ativado quando eles encontravam outro camundongo desconhecido, mas que era da sua própria linhagem genética.

Os cientistas desconhecem todos os segredos desses sistemas na promoção de interações sociais, mas a expansão dessa linha de pesquisa pode nos dar rumos de como fazer com que os “diferentes” cooperem entre si. Já sabemos que essa cooperação traz grandes resultados e é mais desafiador. Onde iremos parar com uma vida banhada de recompensa cerebral por aqueles que nos cercam, sem sermos desafiados por pontos de vista diversos?

Pessoas com diferentes expertises têm mais sucesso no desempenho de uma tarefa complexa que um time de pessoas com formação muito homogênea. E a diversidade social também traz vantagens. Juntar pessoas com diferentes convicções políticas, etnias, gêneros e orientações sexuais pode ser muito melhor que uma turma de homens branquinhos que apoia o mesmo partido político.

Essa diversidade é vista hoje como condição necessária para uma equipe alcançar a inovação. Pesquisas mostram que empresas que têm mais mistura étnica e de gênero ganham mais dinheiro que as muito homogêneas. Grupos de cientistas multiétnicos têm mais sucesso.

A diversidade permite mais criatividade. Quando interagimos com uma pessoa diferente da gente, temos a tendência em nos preparar melhor para a tarefa, para a argumentação. É mais comum anteciparmos alternativas de opinião e temos a expectativa de que o esforço será grande para um consenso. As pessoas acabam se esforçando mais.

Qualquer que seja o candidato que vença nas urnas neste domingo, precisaremos exercitar nosso respeito e convivência com os que estão fora da nossa bolha. Na política, o desafio de cooperação entre os diferentes será bem mais fácil, na minha opinião e de um oceano de pessoas, com a vitória do meu Landidato Lecreto.

*Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília

Deu no Correio Braziliense

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista