Artigo 11/06/2021 08:44

O dia que fui chamado de subversivo e por escrito

Nestes tempos de pandemia, clausura e medo, sobra espaço para escarafunchar os escaninhos e lá, quase sempre, é possível encontrar tesouros do passado.

Nestes tempos de pandemia, clausura e medo, sobra espaço para escarafunchar os escaninhos e lá, quase sempre, é possível encontrar tesouros do passado.

Do seu passado e dos amigos.

Pois foi exatamente o que aconteceu com este bilhete/vale, assinado pelo jornalista, radialista,  ex-vereador, ex-deputado estadual e colega de estúdio num programa político da Rádio Tropical, ao final da tarde.

Eugênio Neto, Eu e Jânio Vidal, além de vários outros companheiros e convidados, fazíamos um programa muito parecido com os tempos atuais.

Uns atacavam pela esquerda, outros pela direita, uns chamados de comunistas e subversivos, outros de direitistas ou conservadores.

Um ou outro mais cauteloso e conciliador. Dependia do tema.

Ao vivo.

Na mesma mesa, no mesmo estúdio, na mesma rádio, na mesma hora.

Era assim.

Mas o bilhete/vale assinado por Eugênio Neto é uma parte deste tempo das boas polêmicas que não encerravam amizades. Não descambava para o desaforo, a agressão gratuita, a desqualificação pessoal, a “lacração” e o extermínio total de quem pensava diferente.

No outro dia, mesmo o anterior tendo sido bem quente, lá estávamos nós para continuar o programa movidos por novas polêmicas.

Amigos que divergiam das coisas da política, que entendiam e desejavam um mundo melhor.

Cada um ao seu modo livre de pensar.

Não cabia alguém pensar em doutrinação.

Nem indo e nem voltando.

Mas que permaneciam se respeitando e respeitando a opinião divergente.

Lembro um dia que Eugênio Neto, sem avisar a ninguém, convenceu o operador de mesa (se chamava de controlista e acho que o apelido dele era Coalhada), a usar na abertura do programa a ópera Lohengrin, do compositor romântico alemão Richard Wagner (1813-1883).

A música, apesar de muito bonita, era usada pelos nazistas de Hitler em suas comemorações e batalhas.

Foi uma surpresa no estúdio. E ele rindo da gente e da sua “vingança”.

Mas, vamos ao bilhete/vale.

Diz lá: Vale – $ 5.000,00

“Vale este ao subversivo Ricardo Rosado, a importância de Cinco Mil Cruzeiros que pagarei quando Deus der bom tempo.

5/11/84

Eugênio Netto.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista