O presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN), Roberto Serquiz, afirmou que a missão empresarial promovida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) aos Estados Unidos deixou clara para os interlocutores norte-americanos que o empresariado brasileiro “tem pressa” na busca de soluções para os impasses econômicos provocados pelo tarifaço.
Segundo ele, os empresários brasileiros intensificaram esforços para abrir canais de diálogo e discutir alternativas.
“Está claro que o problema é essencialmente político — ouvimos isso em todas as reuniões que participamos. Diante da falta de avanços por parte do governo federal, o empresariado decidiu agir por conta própria, pois nós temos pressa”, afirmou Serquiz, que integrou a comitiva ao lado do presidente do Sindipesca/RN, Arimar França.
O dirigente destacou que, embora as restrições impostas pela motivação política do tarifaço sejam evidentes, a missão abriu espaço para negociações técnicas e para a aproximação com o mercado norte-americano, com o objetivo de mostrar os impactos ao consumidor e ao empresário local.
“Na ausência de avanços imediatos no campo político, a indústria se apresentou e conseguiu abrir canais relevantes de interlocução”, disse.
Ainda de acordo com Serquiz, a meta central foi “construir pontes”. “Com foco no RN, apresentamos nossos argumentos sobre os impactos que os setores mais atingidos — sal e pesca — geram para o mercado americano. Esse é um processo contínuo, fruto da arte do diálogo, sem soluções prontas. Seguimos confiantes nas pontes que estamos construindo”, pontuou.
Ele ainda ressaltou a importância dos escritórios de lobby nos Estados Unidos, contratados por empresários brasileiros para dar continuidade às articulações. “Eles têm agora a informação e o canal conosco de alimentação permanente, que pode ajudar na busca de entendimentos comerciais”, afirmou.
Durante os três dias da missão, os empresários tiveram encontros com a Embaixada brasileira, com a US Chamber – maior federação empresarial do país; com o Parlamento, no Capitólio, e participaram de audiência sobre a Seção 301, no Escritório do Representante Comercial dos EUA.
Consequências
Um mês após o tarifaço que passou a vigorar sobre as exportações brasileiras aos EUA, no último dia 6 de agosto, os impactos já foram sentidos de forma significativa na economia do RN.
As exportações potiguares para o país norte-americano caíram 74% entre julho e agosto. Em números absolutos, as vendas saíram de US$ 6,25 milhões para US$ 1,62 milhão, com impactos em diversos setores como pescado e sal.
De acordo com um relatório do Observatório da Indústria Mais RN, a queda de US$ 4,6 milhões é justificada pela diminuição nos produtos: açúcar e produtos de confeitaria (- US$ 2,5 mi); peixes (- US$ 850 mil); pedras-gesso-cimento-mica (- US$ 671 mil); frutas (- US$ 143 mil) e óleos combustíveis (- US$ 12 mil).
Apesar disso, quando observadas especificamente as exportações para os EUA, de janeiro a agosto de 2025 verifica-se crescimento de US$ 40 milhões nas exportações, atingindo o total, neste ano, de US$ 75 milhões (crescimento de 100,5% quando comparado ao mesmo período do ano passado).
Já no que se refere às exportações gerais do Estado, de acordo com o relatório, de janeiro a agosto de 2025 verificou-se queda de 15,8%, equivalente a menos US$ 108,7 milhões no mesmo período de 2024.
Entre julho e agosto, as exportações totais do Estado passaram de US$ 62,25 milhões para US$ 23,32 milhões, uma retração de 62,5%.
Já na comparação anual, o mês de agosto de 2025 registrou queda de 79,9% frente a agosto de 2024. A importação geral também recuou, de US$ 37,36 milhões para US$ 29,90 mi, indicando retração de 20% de um mês para o outro.
Com isso, o déficit comercial do RN alcançou US$ 6,6 milhões em agosto, com corrente de comércio de US$ 53,2 milhões, queda de 70,2% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Conclui-se que, o Rio Grande do Norte, apesar da melhora entre janeiro e agosto especificamente registrada com os EUA, observa, em termos gerais, uma piora no cenário das exportações, registrando uma queda geral de 15,8% quando comparado ao mesmo período de 2024”, aponta o relatório do Mais RN.