Pesquisa 05/08/2023 09:40

Apenas 5% dos brasileiros fazem psicoterapia, aponta estudo nacional

Entre 19 de janeiro e 20 de fevereiro de 2023, os participantes do estudo, moradores de 746 municípios, responderam a um questionário geral de saúde, que resultou no Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), composto por um módulo fixo e um variável.

Um estudo lançado nesta sexta-feira (4), baseado em uma amostra representativa de 2.248 pessoas, de todas as regiões do Brasil, aponta que 62% dos brasileiros não usam serviços de apoio à saúde mental e só 5% relatam fazer psicoterapia.

A pesquisa, intitulada Panorama da Saúde Mental, foi desenvolvida pelo Instituto Cactus, entidade filantrópica e de direitos humanos referência em prevenção e promoção de saúde mental no país, em parceria com a Atlas Intel, empresa de tecnologia especializada em inteligência de dados.

Entre 19 de janeiro e 20 de fevereiro de 2023, os participantes do estudo, moradores de 746 municípios, responderam a um questionário geral de saúde, que resultou no Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), composto por um módulo fixo e um variável.

A cada edição, o módulo variável irá abordar um tema de relevância social. Neste primeiro levantamento, buscou-se identificar como os brasileiros cuidam da saúde mental. Segundo os resultados, entre os 5% dos respondentes que relatam fazer psicoterapia, um terço deles afirma fazer uso de medicação.

Além disso, 41% dos entrevistados se dizem insatisfeitos com serviços de saúde em alguma medida.

Já o módulo fixo do iCASM revelou uma pontuação de 635 para a população brasileira, numa escala de saúde mental de zero a 1000 pontos, considerando as respostas dadas no 1º trimestre de 2023.

As respostas dos participantes foram agrupadas em três dimensões: confiança (733 pontos), que reflete a autoestima do indivíduo sobre seu papel na sociedade; vitalidade (637 pontos), isto é, a disposição e a capacidade de ação para superar desafios do cotidiano; e foco (535 pontos), o que representa a habilidade de se relacionar com o entorno de forma produtiva, conseguindo se concentrar, tomar decisões e realizar as atividades cotidianas.

“Os resultados estabelecem o início de uma série histórica inédita, que será reproduzida periodicamente para acompanhar o comportamento dos diversos aspectos relacionados à saúde mental da população brasileira ao longo do tempo”, conta Maria Fernanda Resende Quartiero, diretora-presidente do Instituto Cactus, em comunicado.

Desempregados, mulheres e trans sofrem mais

O iCASM para a população em busca de emprego foi de 494 — 186 pontos abaixo dos assalariados e 141 pontos abaixo da média populacional.

Da mesma forma, a condição financeira representa um dos principais desafios para a saúde mental dos brasileiros: aqueles com renda acima de R$ 10 mil alcançam 737 pontos, enquanto os que ganham até R$ 2 mil marcam 576 pontos.

Questões de gênero também afetam o índice.

Os homens tiveram uma pontuação maior do que as mulheres nas três dimensões do iCASM: eles tiveram pontuação média de 672, frente aos 600 pontos delas — que ficam 35 pontos abaixo da média populacional.

Apesar de 94,6% entrevistados se identificarem como cisgênero e 81,8% como heterossexuais, é possível notar que as pessoas transgênero e não heterossexuais apresentam pontuações mais baixas.

O iCASM da população trans ficou em 445 — um dos mais baixos entre todos os grupos demográficos — frente aos 638 pontos dos cisgênero.

Já os heterossexuais tiveram pontuação de 665, frente a 576 do grupo que se identifica como homossexual. Bissexuais, assexuais e pansexuais tiveram um índice abaixo de 500, sendo os piores resultados entre todas as diferentes orientações sexuais.

Além disso, quanto mais jovem, menor foi o índice de saúde mental. A faixa etária de 16 a 24 anos obteve apenas 534 pontos — um nível abaixo da média nacional.

Em contrapartida, os resultados melhoraram progressivamente entre aqueles acima de 35 anos, sendo que os com mais de 60 anos obtiveram maior pontuação (757).

Ao revelar todas essas divergências, o novo índice pode apoiar pesquisas, iniciativas inovadoras e políticas públicas, segundo comenta Luciana Barrancos, gerente-executiva do Instituto Cactus.

“Diferentemente de um olhar clínico, o estudo se propõe a trazer uma abordagem social e estrutural para o tema da saúde mental e a aproximar a população desse assunto”, afirma.

“O convite é para a ampliação do debate a partir das evidências.”

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista