Emprego 24/10/2025 12:51
Surpresa: ninguém quer trabalhar em supermercado e o culpado é o próprio setor. Baixos salários e jornadas exaustivas

Nos anos 2000, trabalhar em supermercado era quase um ritual de passagem. Ser empacotador, operador de caixa ou repositor era sinônimo de conquista: o primeiro contracheque, a primeira independência e o primeiro “barzinho” no fim de semana.
Mas duas décadas depois, essa realidade desapareceu. Hoje, mesmo com centenas de milhares de vagas abertas, o setor supermercadista simplesmente não consegue contratar. E o problema não é falta de gente, e sim de atratividade.
O desemprego está em seu menor nível histórico — 6,6% segundo o IBGE — e a internet redefiniu completamente o modo como os jovens encaram o trabalho.
O modelo tradicional de oito horas diárias, sem ar-condicionado, salário mínimo e pouca perspectiva de crescimento, perdeu o apelo. Como resume o vice-presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Marcio Milan, “os jovens que tinham o supermercado como primeiro emprego preferem hoje trabalhos informais pela flexibilidade”.

A escassez de mão de obra é um retrato de um novo tempo.
Se antes os trabalhadores procuravam emprego, hoje são as empresas que procuram trabalhadores. Mesmo quando conseguem preencher uma vaga, a rotatividade é alta e muitos funcionários abandonam o cargo em poucas semanas.
Os motivos são claros: salários baixos, funções acumuladas e jornadas longas. Em Nova Iguaçu (RJ), por exemplo, uma vaga de operador de caixa oferecia R$ 1.600, mas incluía também tarefas de limpeza e reposição — um “faz tudo” disfarçado.
Quando se compara esse valor ao custo de vida, a conta simplesmente não fecha. A cesta básica custa cerca de R$ 432, o aluguel de um pequeno apartamento ultrapassa R$ 900, e somando luz e transporte, o salário desaparece antes do fim do mês.
Conforme análise da Elementar, muitos trabalhadores têm preferido alternativas informais, mesmo sem estabilidade, apenas para escapar do modelo engessado e mal remunerado.
E esse comportamento não é isolado. Casos como o da rede Hirota, que não conseguiu preencher 80 vagas em São Paulo e precisou deslocar funcionários de outras unidades, se tornaram cada vez mais comuns.
A dificuldade de contratação forçou redes a adotar estratégias inusitadas. Algumas, como o Carrefour, contrataram 53 mil pessoas via CadÚnico apenas em 2024, priorizando famílias de baixa renda. Outras recorreram a idosos, aposentados e pessoas com deficiência, reconhecendo neles um perfil mais estável e disciplinado.
A aposta mais curiosa veio das parcerias com o Exército Brasileiro. Supermercados passaram a recrutar jovens reservistas recém-egressos do serviço militar, partindo da lógica de que disciplina e rotina poderiam se traduzir em resiliência no ambiente de trabalho.
De acordo com a Abras, 80% desses reservistas conseguem emprego logo após deixar a farda, um dado que evidencia o esforço do setor para preencher vagas.
Ainda assim, a reposição de mão de obra continua problemática. O economista Fabio Bentes, da CNC, afirma que “aumentar o salário inicial acima da média do mercado é uma das poucas estratégias eficazes para atrair candidatos”. No entanto, mesmo com reajustes, muitos trabalhadores não permanecem. O setor virou uma esteira girando sem parar.
Diante das margens de lucro apertadas — entre 2% e 5% — e da dificuldade de aumentar salários, o setor tem investido pesado em tecnologia. O autoatendimento e os self-checkouts se espalharam por redes como o Pão de Açúcar, que já possui 90% das lojas automatizadas, e o Hortifruti, que ampliou o sistema até para pesagem de frutas e verduras.
Segundo a consultoria RBR, o Brasil já conta com 8 mil unidades de autoatendimento, número que cresce rapidamente. Contudo, em países como o Reino Unido e os EUA, algumas redes estão revertendo a automação por causa de queixas de lentidão, furtos e impessoalidade.
No Brasil, ainda há espaço para expansão, mas especialistas alertam: sem melhoria nas condições humanas, a tecnologia não resolve a crise estrutural.
Enquanto isso, o supermercado — que já foi o primeiro emprego dos jovens — hoje é visto como o último recurso. O setor tenta se reinventar com reservistas, idosos e automação, mas enfrenta uma barreira mais profunda: a falta de motivação e propósito.
E a pergunta que fica é — se ninguém quer mais trabalhar em supermercado, o que será do varejo no futuro?
Deu em CPG
Descrição Jornalista
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