Mulheres estudam mais, trabalham igual, mas ainda ganham menos; Censo explica o porquê - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Mulheres 14/10/2025 15:15

Mulheres estudam mais, trabalham igual, mas ainda ganham menos; Censo explica o porquê

Mulheres estudam mais, trabalham igual, mas ainda ganham menos; Censo explica o porquê

Apesar dos avanços em escolaridade feminina, a desigualdade de gênero no mercado de trabalho brasileiro ainda é gritante.

Dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revelam que as mulheres brasileiras continuam recebendo, em média, 19,6% a menos do que os homens, mesmo ocupando funções semelhantes e tendo, em muitos casos, nível de instrução superior.

Educação não é sinônimo de igualdade salarial

Foto: iStock

De acordo com o levantamento, 28,9% das mulheres ocupadas possuíam ensino superior completo em 2022 — uma proporção 11,6 pontos percentuais maior que a observada entre os homens (17,3%). Ainda assim, esse maior grau de instrução não se refletiu em salários equivalentes.

O rendimento médio mensal feminino foi de R$ 2.506, enquanto o dos homens alcançou R$ 3.115. Essa diferença mostra que, apesar do esforço e da qualificação, as mulheres continuam enfrentando barreiras estruturais e culturais no mercado de trabalho.

Desigualdade aumenta entre os mais qualificados

A discrepância é ainda mais acentuada entre os trabalhadores com ensino superior completo. As mulheres com diploma universitário receberam, em média, R$ 4.591 por mês, valor 37,5% inferior ao dos homens com o mesmo nível de escolaridade, cuja média salarial foi de R$ 7.347.

Para o pesquisador Marcos Hecksher, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), parte da diferença está ligada à segregação ocupacional.

Segundo ele, há mais mulheres em carreiras de menor remuneração, como pedagogia, enfermagem e psicologia, e menor presença feminina em áreas de alta renda, como engenharia e tecnologia.

O economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, complementa:

“As diferenças salariais se ampliam nos estratos mais ricos da população. Mesmo sendo mais escolarizadas, as mulheres seguem ganhando menos.”

Desigualdade também reflete raça e cor

O Censo 2022 também escancarou as disparidades raciais. Os trabalhadores amarelos tiveram a maior renda média mensal (R$ 5.942), seguidos pelos brancos (R$ 3.659). Já os pardos, pretos e indígenas apresentaram rendas de R$ 2.186, R$ 2.061 e R$ 1.683, respectivamente.

Mesmo entre profissionais com ensino superior, a diferença persiste. Um trabalhador amarelo com diploma recebia R$ 8.411, enquanto um indígena na mesma condição ganhava R$ 3.799. Entre brancos e pretos, a discrepância chegava a 56,8%.

Perspectivas e novas políticas

A desigualdade de gênero e raça continua sendo um desafio estrutural no Brasil. Para enfrentar essa realidade, o governo federal sancionou em julho de 2023 a Lei da Igualdade Salarial entre homens e mulheres, que busca garantir remunerações iguais para funções equivalentes.

Apesar disso, especialistas afirmam que o avanço dependerá não apenas da legislação, mas também de uma mudança cultural profunda que valorize de forma justa a participação feminina no mercado de trabalho.

O Censo 2022 deixa claro: mesmo com mais estudo, dedicação e qualificação, as mulheres brasileiras ainda enfrentam um teto invisível de desigualdade que precisa ser quebrado.

Deu em Capitalist

Ricardo Rosado de Holanda
Ricardo Rosado de Holanda


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