Montenegro fala sobre crise na SAF e sobe tom: ‘John Textor tem que estar no muro dos ídolos, mas há limite. Ele não vai deixar o Botafogo numa armadilha, sem dinheiro, sem futuro’ - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado
PMN – Agosto Lilás – 0808 a 0809

Futebol 01/09/2025 07:28

Montenegro fala sobre crise na SAF e sobe tom: ‘John Textor tem que estar no muro dos ídolos, mas há limite. Ele não vai deixar o Botafogo numa armadilha, sem dinheiro, sem futuro’

Montenegro fala sobre crise na SAF e sobe tom: ‘John Textor tem que estar no muro dos ídolos, mas há limite. Ele não vai deixar o Botafogo numa armadilha, sem dinheiro, sem futuro’

Ex-presidente do Botafogo e figura muito influente nos bastidores do clube, Carlos Augusto Montenegro participou de uma live na noite deste domingo (31/8) no canal “Panorama Glorioso” e deu fortes declarações sobre a crise jurídica envolvendo a SAFJohn Textor e Eagle Football.

O ex-dirigente destacou a importância de John Textor para o crescimento esportivo e estrutural do clube, mas disse que o empresário norte-americano não pode ser maior do que o Botafogo.

– O Textor se apaixonou pelo Botafogo. Eu, particularmente, tenho ele no meu coração, vou ser grato a vida toda. Ele tem que estar no muro dos ídolos. Pelo pouco tempo que ele esteve, ele mostrou muita paixão e foi vitorioso. Ele e o Durcesio [Mello] são os grandes nomes do Botafogo. [Final da Libertadores] Foi o dia mais emocionante da minha vida, graças ao Textor. Ponto. Agora, só tem uma coisa acima do Textor: o Botafogo. O Botafogo de Futebol e Regatas não pode viver de aventura, o Botafogo não pode apostar ou arriscar qualquer coisa, o Botafogo tem que ter garantias de continuidade, pagamento da dívida etc. Não tem nenhum CPF na história maior que o Botafogo – disse Montenegro.

– Nós estamos falando de instituições. O Botafogo fez um contrato com a Eagle, tanto é que o Durcesio, que assinou o contrato, saiu, porque nesse período teve eleição, entrou o João Paulo, e o João Paulo está lá mantendo o contrato. Então, a gente quer que a Eagle mantenha o contrato. Com quem? Eu não sei, eles que resolvam. Mas o Botafogo precisa de ter garantias para o futuro, não pode ir para uma aventura, para as Ilhas Cayman, sei lá o quê. Uma coisa que eu estranhei muito é que o Textor passou por vários lugares e não fez amigos. Brigou na França, brigou com a federação [francesa], brigou com o Lyon, brigou com a torcida. Foi para a Bélgica, pegou o Molenbeek, também brigou lá, o Molenbeek acabou caindo, a torcida não gosta. Ele foi para a Inglaterra e também os torcedores do Crystal Palace, antes de vender, não estavam gostando muito dele, ele volta para os Estados Unidos e briga com todo mundo, com os sócios da Eagle, que estão muito chateados com ele etc e tal. E aí chega aqui no Botafogo e ele é ídolo. Todo mundo, a começar por mim, adora ele. Mas tem alguma coisa aí de aventura, e não sei também se não tivesse aventura se a gente ganharia. E também, óbvio, que a gente não vai ganhar sempre, mas o que é importante agora é números, orçamento, dinheiro, credibilidade e seriedade para a gente continuar. Se a gente tiver que dar um passinho atrás para ter mais firmeza, etc, é melhor que seja assim – completou.

O ex-dirigente disse que não tem dormido direito de tanta preocupação acerca do futuro do Glorioso e garantiu que o clube está atento a todo o cenário. Segundo ele, o Botafogo, na situação atual, teria dinheiro para honrar seus compromissos até o fim do mês de outubro apenas. Montenegro afirmou que Textor está buscando dinheiro no mercado, mas que o clube precisa de garantias para honrar os compromissos assumidos, e que uma eventual parceria com o grego Evangelos Marinakis não é garantia de nada.

– Não sei se existe essa parceria [com Evangelos Marinakis], porque tem um momento que a gente passa a duvidar de tudo. A gente está vendo algumas coisas, mais próximas, conversando com o pessoal da SAF. Tem muita gente brigando contra ele. Eu não sei mais o que é verdade e o que é mentira, ou o que é verdade e o que não é verdade. Porque tem muita gente torcendo a favor e muita gente torcendo contra. Quem torce a favor, aposta tudo nessa parceria, do Marinakis com o Textor. Agora, a gente sente que o Textor está procurando dinheiro. Ele já conseguiu parece que uma parte, mas andou ligando, mandando alguns recados. Até para mim [ligou]. Ele está precisando de alguma coisa para complementar isso e aí, talvez, oficializar uma parceria. Mas, e o dia de amanhã? Esse dinheiro, se ele conseguir, teoricamente, ele resolve o problema dele com a Ares, se a Ares aceitar a proposta. Mas ele não resolveu o problema dele com o Botafogo, onde tem uma série de compromissos, feitos por ele, acordos trabalhistas, acordos na área civil, acordos fiscais, pagamento de jogadores por contratos, etc. Isso tem que ser honrado. Isso tem que ser honrado por ele, ou por alguém do grupo Eagle. Ele fez um acordo. Será que o grego vai continuar honrando isso tudo? Ou é um acordo pura e simplesmente com o Textor? Esses jogadores que estão indo, estão indo por que preço? O dinheiro vai para que caixa? Será que eles fazem parte do acordo? Nesse caso, eu fico mais preocupado. Porque esse dinheiro está sendo levantado, o Textor pega, paga a Ares, e o Botafogo não tem o dinheiro para pagar. O Botafogo, eu digo, a SAF Botafogo. Quando eu falo Botafogo, é que há uma confusão tremenda. Essa dívida toda é da SAF. Você entende o dilema? É uma coisa complicada – disse.

Montenegro afirmou que o Botafogo tem dado um tempo para John Textor tentar solucionar o problema, mas que “tudo tem um limite”. Segundo o ex-presidente, o atual mandatário, João Paulo Magalhães Lins, está conversando com quatro grupos de investidores interessados na SAF.

– Se a gente soubesse que esses valores todos estavam vindo para a gente pagar todos os passivos que a gente tem, eu ficaria mais tranquilo, mas a gente não sabe. E a gente, até por gratidão, tem dado um tempo ao Textor. No fundo, todo mundo gostaria que o Textor conseguisse sobreviver e tocar isso. Mas isso tem um limite. Daqui a pouco acaba o dinheiro e você não tem dinheiro para pagar a folha. E você disputando Copa do Brasil, tentando chegar entre os quatro da Libertadores no ano que vem, tendo que honrar uma série de compromissos. Então, tem um limite. A gente tem dado todo o tempo que ele precisa para tentar conseguir se arrumar, mas não está acontecendo. Uma coisa eu te garanto: promessa não vai ter. Não vamos aceitar porque a situação é muito difícil. “Ah, não, deixa que vai aparecer o dinheiro, deixa que eu vou fazer isso, deixa que eu vou vender fulano”. Não. Vai ter que ter um plano, seja com grego ou sem grego, de continuar pagando. Quer adiar um pouco o investimento de novos jogadores? Tudo bem. É aceitável. Nós já ganhamos dois títulos importantes, estamos disputando outros, quer adiar um pouco, o ano que vem, a gente aceita. Eu já sei que a gente aceita. Mas deixar de pagar compromissos, levar transfer ban, não poder disputar campeonato, perder acordos que foram feitos de dívida do clube, etc., isso eu acho que a gente não vai aceitar não – garantiu.

Veja outras declarações de Montenegro abaixo:

‘Está nas nossas mãos decidir para que lado a gente vai’

“O Botafogo mudou de patamar. Mais adiante, a gente não esperava nunca estar acontecendo essa briga entre sócios. O contrato do Botafogo de Futebol e Regatas, e que fez a SAF Botafogo, é com o sócio Eagle. Quem era o representante do Botafogo na época, como presidente, era o Durcesio. E quem era o representante da Eagle na época, era o John Textor. E, para nossa surpresa, começou uma briga muito grande. Agora a gente está sabendo mais detalhes, realmente foi um passo maior que a perna do Textor, que se transformou no nosso ídolo… Mas ele deu um passo maior do que a perna, com uma ideia fixa de fazer um grupo de clubes e um IPO na bolsa americana, pegou muito dinheiro emprestado e investiu no Lyon. E não deu certo. E também não está dando certo ele conseguir acertar a dívida, etc. E quem emprestou o dinheiro e que ficou com ações dele como garantia etc, está brigando com ele na justiça. É uma briga que, teoricamente, não tem nada a ver com o Botafogo. É uma briga de cachorro grande, de grandes grupos. Apesar de a gente não ser cachorro grande, o contrato nosso foi tão bem feito que hoje em dia está nas nossas mãos decidir para que lado a gente vai. Porque você tem hoje um lado de ir com o Textor, talvez numa aventura, ele saindo da Eagle, com o grego ou sem o grego; você tem a possibilidade, que é a segunda hipótese, de ficar na Eagle, e o grupo Ares, ou quem eles nomearem, ficariam pilotando a Eagle, no lugar do Textor; e você tem uma terceira hipótese, já que o ativo hoje está tão valorizado, de você ir com um grupo novo. Alguns grupos, algumas pessoas estão se movimentando e estão interessadas, com chance de fazer uma proposta.”

Elogios ao presidente João Paulo

“A gente está conduzindo isso com muita tranquilidade. Estou preocupado, sem dormir direito, porque você está falando do destino da Botafogo. O nosso presidente, João Paulo Magalhães Lins, está conduzindo isso de uma forma brilhante, falando com todos os lados, falando com o Textor todo dia, falando com representantes do grupo Ares, falando com pessoas interessadas no Botafogo, a terceira hipótese, está negociando, está querendo garantias para o Botafogo e está conduzindo muito bem, muito bem mesmo.”

Gratidão eterna a John Textor

“A gente está falando de uma coisa muito séria, é um momento delicado, eu torço para acabar bem, mas a gente está se preparando para se tiver que fazer alguma coisa e não acabar bem, entendeu? Então, essa é exatamente a situação, tem uma parte da torcida que torce para que seja tudo bem, tem uma parte da torcida que já está um pouco desconfiada… Em nenhum momento eu aceito ou admito que se fale em ingratidão. Eu acho que a torcida do Botafogo vai ser grata a vida toda ao Textor. Mas eu tenho certeza também que a torcida do Botafogo está mais preocupada com o Botafogo do que com qualquer CPF do planeta.”

‘Eu não tenho dormido, o presidente menos ainda. Estou preocupado, mas otimista’

“Ele tem uma ação na justiça rolando na França, o Textor contra o Lyon. Às vezes o engraçado é o Textor contra ele mesmo, contra a Eagle, e aí ele sentado na Eagle. Tem uma ação rolando na Inglaterra, tem uma ação rolando nos Estados Unidos, dos sócios contra ele. E tem uma ação, várias ações, rolando no Brasil. Às vezes ele pode ganhar nos Estados Unidos e perder no Brasil. Às vezes ele continua no Brasil, mas perdeu o poder na Eagle lá nos Estados Unidos. Então, é muito complicado. Eu acho que eles agora estão caminhando, talvez, para sentar e tentar fazer um acordo. Porque também, veja bem, a Ares entrou nisso meio de gaiato, ela não esperava isso. A especialidade dela não é gestão de futebol. Então, o que ela está querendo é receber o empréstimo que ele pegou e não pagou. Também a gente não sabe se a Ares continuar, se ela vai repassar para um outro, ou se ela vai querer vender mais ativos nossos, se remunerar e ir embora. Então, a gente tem que tomar cuidado com tudo, e tudo que for acordado, colocar no papel, estar bem equacionado, resolvido. É uma situação muito delicada. Eu não tenho dormido, o presidente não tem dormido mais ainda. O João Paulo, com toda razão, vi ele até abatido, mas sereno. A marca dele é negociação e ouvir. João Paulo ouve muito mais do que fala. Eu não, eu sou meio falastrão, vocês me conhecem, mas o João Paulo não. Ele está ouvindo e está esperando para colocar na mesa e decidir. Estou preocupado, mas estou otimista que a gente vai acabar saindo bem disso.”

‘Textor não vai deixar o Botafogo numa armadilha’

Tem muita coisa em justiça. Se não sentar e fizer um acordo geral, acho que vai ser muito difícil, porque está todo mundo acionando todo mundo. Agora, quem tem o poder por contrato, até por uma série de cláusulas importantes que não foram cumpridas, de determinar qual vai ser o nosso destino, somos nós. Tem gente devendo a gente, gente da França, a Ares mesmo pode, se não se pronunciar, levar um processo, porque tem que definir para não nos trazer prejuízo. Aí chega notícia de todos os lados, e o pessoal fica empolgado. Outro dia eu vi uma notícia do nosso ex-vice-presidente, Vinicius Assumpção, que eu tenho o maior carinho por ele, todo feliz, “eu estou com o Textor, ele está resolvendo isso, ter um acordo”… Não pode fazer isso, cara. A situação está muito séria. Você pode dizer que torce por ele, ou está com ele e tal, mas que vai resolver, que está tudo combinado e vai ter acordo? Não faz isso. Eu, às vezes, sou criticado, xingado porque falo a verdade, entendeu? E eu falava a verdade na época que o Botafogo não tinha dinheiro para nada, não tinha dinheiro para comprar bola, não tinha dinheiro para pagar a luz, para pagar a taxa de arbitragem. Esse negócio de ficar botando no Twitter, Instagram: “Ah, tudo bem, ele é o maior do mundo.” Ele é o maior do mundo, eu estou falando aqui, eu comecei falando que ele é o maior do mundo, um dos maiores ídolos, tem que estar encabeçando o muro dos ídolos, nos deu uma Libertadores e um Brasileiro, elevou o Botafogo, o patamar, hoje o Botafogo é um ativo cobiçado, mas ele não é maior que o Botafogo, não. Ele não vai deixar o Botafogo numa armadilha, sem dinheiro, sem recursos, sem futuro. Não pode.

Títulos ‘encobriram’ os problemas da SAF

“Você não pode investir sem saber o dia de amanhã, sem conhecer números, sem saber a quem você deve, qual é a sua receita a receber, etc. A verdade é que os títulos do ano passado funcionaram um pouco como um nevoeiro. Encobriram uma série de problemas que estavam por vir. E aí começou a vender jogadores, etc. E aí começou a ter essa confusão. Ficou mais gritante o negócio do Lyon e tal. Mas imagina se alguém ia no ano passado falar assim: “Está faltando informação aqui, hein?” Ninguém era maluco de fazer isso. Se fizesse, ia ser linchado. Então, isso encobriu um pouco algumas coisas que não deveriam ter sido feitas, porque foi um passo maior que a perna.”

Deu em FogãoNet

Ricardo Rosado de Holanda
Ricardo Rosado de Holanda


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