Entrar na faculdade continua sendo um dos principais projetos de vida dos jovens brasileiros, mas a jornada até o diploma nem sempre se concretiza.
Um levantamento do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior) mostra que mais da metade dos estudantes de cursos presenciais desiste antes da formatura.
A situação é ainda mais crítica no sistema EAD (ensino a distância): 63,7% dos matriculados não concluem a graduação.
Segundo especialistas ouvidos pelo R7, o fenômeno da evasão é resultado de múltiplos fatores e traz impactos tanto aos estudantes quanto às instituições.
Além do prejuízo pessoal e profissional para quem interrompe a graduação, há problemas enfrentados pelas universidades, como a queda de receita e o comprometimento da reputação. Um dos desafios das instituições, portanto, é manter os alunos engajados até a conclusão do curso.
Laís de Mattos, doutora pela USP e gerente pedagógica do Grupo Kefraya, observa que a questão financeira é uma das principais causas da evasão dos estudantes. Muitos encontram dificuldades para arcar com mensalidades, transporte e materiais, especialmente em instituições privadas.
“Uma parcela expressiva dos alunos precisa trabalhar para se sustentar, o que reduz o tempo e a dedicação aos estudos, realidade ainda mais presente no ensino a distância”, explica.
O ensino a distância, aliás, apresenta desafios ainda maiores. A interação limitada com professores e colegas, o isolamento e a necessidade de disciplina extra contribuem para o alto índice de desistências.
“O EAD atende, em grande parte, alunos com rotinas intensas e responsabilidades familiares. Essa realidade, somada à dificuldade de manter engajamento, explica o motivo de quase dois terços não chegarem ao diploma.”

Outro ponto destacado pela especialista é a falta de identificação com o curso escolhido. “A ausência de orientação adequada leva a decisões precipitadas. Quando o estudante percebe que não se identifica com a área ou enxerga baixa perspectiva de empregabilidade, a frustração cresce e, muitas vezes, o abandono se torna inevitável”, constata.
Orientação desde o ensino médio
Se muitos abandonam a graduação por frustração ou falta de identificação, a raiz do problema pode estar na etapa precedente ao ensino superior.
Para Gabriel Carvalho, diretor de segmento do Ensino Médio do colégio Sigma, localizado em Brasília, um acompanhamento próximo ainda na escola pode reduzir significativamente as desistências.
“As grandes escolhas de futuro não precisam ser solitárias. Coordenadores e conselheiros precisam acompanhar cada estudante de forma individualizada, conversando sobre interesses, aptidões e sonhos. Isso fortalece a autoconfiança e ajuda a evitar decisões apressadas”, afirma.

Segundo Carvalho, esse trabalho vai além do desempenho acadêmico e inclui experiências práticas que aproximam os alunos da realidade profissional.
“Simulações de órgãos internacionais, projetos artísticos ou vivências em anatomia colocam o aluno em contato direto com áreas como Relações Internacionais, Direito, Comunicação ou Saúde. Quando o estudante conhece na prática, tem mais clareza sobre o caminho que deseja seguir”, ressalta.
Essa preparação, diz o especialista, pode ser decisiva para reduzir arrependimentos no futuro. “Quando a escolha é consciente, o risco de evasão diminui consideravelmente.”
Consequências
Para os alunos, interromper os estudos pode gerar frustração, insegurança e até dívidas com mensalidades. A médio e longo prazos, a ausência de diploma compromete o acesso ao mercado de trabalho e reduz o potencial salarial.
Um levantamento do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) mostra que, no segundo trimestre de 2024, quem tinha ensino superior completo recebia, em média, 126% a mais do que pessoas com apenas o ensino médio ou faculdade incompleta. Ou seja, a evasão limita de forma concreta as oportunidades de inserção profissional e de ascensão econômica.
Perguntas e Respostas
Qual é a taxa de evasão entre os estudantes de cursos presenciais e a distância?
Mais da metade dos estudantes de cursos presenciais desiste antes da formatura, enquanto no ensino a distância (EAD), a taxa de desistência é ainda mais alta, com 63,7% dos matriculados não concluindo a graduação.
Quais são os principais fatores que contribuem para a evasão no ensino superior?
Os especialistas apontam que a evasão é resultado de múltiplos fatores, incluindo dificuldades financeiras, falta de identificação com o curso e a necessidade de trabalhar para se sustentar, o que reduz o tempo dedicado aos estudos.
Como a situação financeira dos estudantes impacta a conclusão dos cursos?
Estudantes de baixa renda enfrentam dificuldades para arcar com mensalidades, transporte e materiais, especialmente em instituições privadas. Isso pode levar muitos a interromper a graduação.