“Cultura ‘woke’ foi arrasadora para a dramaturgia”, diz Glória Perez - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Censura 11/08/2025 10:05

“Cultura ‘woke’ foi arrasadora para a dramaturgia”, diz Glória Perez

“Cultura ‘woke’ foi arrasadora para a dramaturgia”, diz Glória Perez

Uma das mais celebradas autoras de novela do Brasil, Glória Perez (foto) reclamou da cultura woke em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo.

Um dos raros expoentes da dramaturgia brasileira a manifestar apoio a Jair Bolsonaro nos últimos anos, Perez, que encerrou seu longo contrato com a Globo em abril, não foi questionada sobre o ex-presidente na entrevista, nem falou espontaneamente sobre ele.

A crítica à cultura woke foi feita quando a autora respondia se a teledramaturgia brasileira vive uma crise.

“Sem dúvidas. As novelas não estão tendo a relevância de antes nem como entretenimento nem como porta-voz de temas importantes. A explicação disso não se resume à multiplicação das telas e das opções do público. A cultura ‘woke’ introduziu um cerceamento à imaginação. A opção de não desagradar, de não tocar em temas sensíveis, de transformar conflitos humanos em pautas, acabou por encerrar a dramaturgia numa espécie de fórmula, retirando dela a capacidade de provocar. A cultura ‘woke’ foi arrasadora para a dramaturgia”. comentou.

Ditadura

Perez chegou a afirmar que hoje a censura é pior do que na época da ditadura militar:

“Na época [da ditadura], você tinha uma censura comandada pela dona Solange [Hernandes, chefe da Divisão de Censura de Diversões Públicas do regime militar]. Era ela quem mandava cortar as coisas. Só que agora nós temos uma multiplicidade enorme de ‘Solanges’. Nas redes sociais, com raras exceções, cada pessoa é uma Solange diferente, julgando o outro e tentando cassar a palavra alheia. Não era assim. Antes, você tinha uma censura. Agora, a censura está espalhada na sociedade. É muito pior.”

Na entrevista, a autora também atribuiu a decisão de deixar a Globo a falta de liberdade para criar.

“Eu decidi pôr um ponto final porque meu contrato acabaria quando terminasse esta novela que foi barrada. Decidiram adiar a novela por causa do aborto. Aí eu falei ‘gente, se tem uma pessoa que sabe tocar com delicadeza nesse tipo de tema, sou eu, a minha história toda mostra isso’. Mas aí veio o medo de desagradar algumas áreas. A minha assinatura é lidar com temas delicados e trazer o público para a discussão. Se eu não puder fazer isso, eu acabo”, reclamou.

Segundo a autora, “a emissora queria que eu assinasse um contrato de extensão para fazer a próxima novela, que viria depois de ‘Três Graças’, do Aguinaldo Silva”.

“Eu falei que não me interessava e que queria rescindir o contrato. Eu senti que eu não conseguiria mais fazer as novelas que sei e quero fazer. Eu sou incapaz de pensar engessada. Ou eu tenho liberdade para voar, ou não tenho liberdade nenhuma”, completou.

Deu em O Antagonista
Ricardo Rosado de Holanda
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