China teve comportamentos diferentes para encobrir o surto - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Saúde 11/01/2021 05:21

China teve comportamentos diferentes para encobrir o surto

As autoridades de Wuhan primeiro tentaram encobrir o surto e depois perderam semanas preciosas negando a transmissão entre humanos.

As autoridades de Wuhan primeiro tentaram encobrir o surto e depois perderam semanas preciosas negando a transmissão entre humanos.

Desde o início, as autoridades chinesas afirmaram que o surto começou no mercado atacadista de frutos do mar Huanan de Wuhan.

Mas dados da China de janeiro de 2020 mostram que vários dos primeiros casos não estavam relacionados ao mercado, sugerindo que a origem do vírus poderia estar em outro lugar.

A versão chinesa mudou em março, quando uma autoridade chinesa para o controle de doenças, Gao Fu, disse que o mercado não era a fonte, mas uma “vítima”, um lugar onde o patógeno simplesmente havia sido amplificado.

Desde então, a China não conseguiu amarrar nenhuma ponta solta, fornecendo em conta-gotas informações sobre as amostras animais e ambientais coletadas no mercado, que poderiam ser de grande ajuda aos pesquisadores, segundo especialistas.

Além disso, afastou por muito tempo especialistas estrangeiros.

Agora, uma missão da Organização Mundial da Saúde (OMS) aguarda no limbo. No sábado, um responsável chinês disse que o país estava “preparado” para a visita de uma equipe de 10 especialistas da OMS em Wuhan. –

Sem rastros -O que os cientistas terão permissão para ver ou o que eles esperam encontrar um ano depois também é uma incógnita.

Especialistas dizem que as autoridades poderiam ter destruído ou eliminado evidências cruciais, em uma resposta inicial impulsionada pelo pânico.

“Cada surto segue um caminho. É um tanto caótico e disfuncional”, diz Daszak. “Eles não fizeram um bom trabalho na investigação animal no início”, acrescenta.

“Em algumas coisas foram bastante abertos, mas em outras bem menos abertos”, aponta.

Os motivos que levaram a China a agir com tanto sigilo não são claros, mas o Partido Comunista – no poder – tem uma longa história de eliminação de informações que podem ser politicamente prejudiciais.

Denunciantes e jornalistas cidadãos que compartilharam detalhes online do que aconteceu nas primeiras terríveis semanas do vírus foram amordaçados ou presos.

Pequim pode querer ocultar omissões ou falhas na regulamentação ou na investigação para evitar embaraços internos ou que “atrasos” globais venham à tona, acredita Daniel Lucey, epidemiologista da Universidade de Georgetown.

O mercado de Wuhan pode não ser o ponto de partida, acrescenta Lucey.

Segundo ele, o vírus já havia se espalhado rapidamente por Wuhan em dezembro de 2019, o que indica que já estaria circulando muito antes.

Isso ocorre porque pode levar meses ou mesmo anos para que um vírus desenvolva as mutações necessárias para se tornar altamente contagioso entre humanos.

A teoria de que se originou no mercado “não é plausível”, insiste Lucey.

“Aconteceu naturalmente e foi muitos meses antes, talvez um ano, talvez mais de um ano”, acrescenta.

E se as dúvidas não bastam, em dezembro a China disse que em Wuhan, no início da epidemia, poderia ter havido até 10 vezes mais casos de covid-19 do que os declarados na época.

De qualquer forma, o rastro se perdeu e as pistas que surgiram só serviram para criar mais confusão, como as que sugerem que o vírus poderia ter existido na Europa e no Brasil antes do surto de Wuhan, nunca confirmadas, mas que a China aproveitou a oportunidade para desviar a atenção.

Deu no UOL

Ricardo Rosado de Holanda
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