O casamento é frequentemente pensado como a união de dois indivíduos, que naturalmente se encaminham para uma felicidade eterna.

O mundo real, porém, é diferente. Pesquisas demonstram continuamente que relacionamentos bem-sucedidos não dependem necessariamente de química ou paixão, mas são construídos deliberadamente, dia após dia, decisão após decisão.

Um dos modelos mais poderosos da ciência dos relacionamentos, a Teoria da Casa do Relacionamento Sólido do Dr. John Gottman, compara um casamento saudável a uma casa bem construída, em que cada “pilar” simboliza um componente importante que dá força a toda a estrutura.

Assim como um prédio não se mantém de pé sem uma base sólida, de forma semelhante, um casamento não dura se não possuir competências relacionais fundamentais.

Cada “pilar” subsequente depende do anterior, mostrando que o sucesso relacional a longo prazo é sequencial e cumulativo.

Ao estar ciente e praticar esses elementos essenciais, os casais podem construir deliberadamente um casamento resiliente, emocionalmente rico e profundamente satisfatório.

1º Pilar: Mapear o Mundo Interno do Parceiro

O conhecimento profundo do parceiro é a base de todo casamento bem-sucedido. Gottman chama isso de “mapa do amor”, ou seja, um mapa interno do mundo do parceiro, incluindo sua história, sentimentos, valores e aspirações.

Pesquisas extensas sobre teoria do apego reforçam o mesmo ponto: parceiros que possuem um bom mapa da vida interior do outro experimentam maior intimidade e segurança emocional.

O processo de criar um mapa do amor é consciente e contínuo. Exige curiosidade, escuta ativa e persistência.

Pergunte a si mesmo para começar:

Quais são os principais objetivos de vida do seu parceiro, profissional e pessoalmente?
Quem são as pessoas importantes na vida dele(a), e por quê?
Como ele(a) costuma lidar com estresse, felicidade e, mais importante, decepções?
Mesmo aspectos que podem parecer insignificantes, como comidas favoritas, preferências de rotina ou hobbies, contribuem para uma sensação mais profunda de intimidade. Conhecer detalhadamente o mundo do outro ativa partes do cérebro ligadas à empatia e à conexão social, tornando o vínculo emocional mais robusto. Essencialmente, o mapa do amor serve como a base concreta sobre a qual todas as outras habilidades de relacionamento são construídas.

2º Pilar: Cultivar Afeição e Admiração

Uma vez criado o mapa do amor, o segundo pilar da casa se baseia em quanto afeto e admiração os parceiros demonstram um pelo outro. É aqui que os parceiros precisam aprender a reconhecer e valorizar a individualidade do outro. Pesquisas longitudinais sobre casamento mostram que casais com uma proporção de cinco interações positivas para cada negativa têm muito mais chances de manter satisfação a longo prazo.

Essas expressões de afeto e admiração não precisam ser grandiosas. Basta apreciar como o parceiro se mostra, comentar gestos atenciosos ou valorizar sua ética de trabalho. Essas ações afirmam a conexão emocional e demonstram que o parceiro é valorizado.

Criticamente, admiração não é bajulação; é reconhecimento das qualidades genuínas que tornam o relacionamento saudável. Na prática, um casal que expressa regularmente gratidão e prazer um pelo outro fortalece essencialmente o segundo pilar de sua “casa relacional”, criando uma estrutura estável para desafios futuros.

3º Pilar: Responder às Solicitações Emocionais

Gottman classifica o terceiro pilar como o espaço onde os parceiros devem “se voltar” um para o outro, ou seja, responder às pequenas tentativas de conexão no dia a dia. Essas solicitações sutis buscam atenção, afeto ou compreensão. Essas interações ativam vias de oxitocina, fortalecendo o vínculo e reduzindo o estresse, mostrando os benefícios fisiológicos da atenção receptiva.

Voltar-se para o parceiro exige consciência, empatia e ação imediata. Pode ser tão simples quanto ouvir quando ele(a) descreve um dia estressante (sem propor soluções rápidas), oferecer um toque afetuoso ou rir juntos de uma piada interna pela vigésima vez. Casais que rotineiramente se voltam para o outro em pequenos momentos relatam maior confiança e proximidade emocional.

Ignorar ou rejeitar essas solicitações ao longo do tempo pode prejudicar a segurança relacional e aumentar o risco de distanciamento emocional. O terceiro pilar, portanto, trata de consistência e presença: estar presente, dia após dia, de maneiras que digam “você é importante para mim”.

4º Pilar: Manter uma Perspectiva Positiva

Mesmo os casais mais ideais enfrentam problemas. Por isso, o quarto pilar foca em manter uma mentalidade positiva, vendo o parceiro com espírito de bondade e compreensão, em vez de suspeita e crítica.

Estudos de psicologia social mostram que casais que interpretam os erros do parceiro com benevolência, em vez de atribuir malícia ou falhas de caráter, relatam maior satisfação e menos brigas.

Ter uma atitude positiva não é ingenuidade; é um estado mental intencional que funciona como recurso de enfrentamento. Implica dar o benefício da dúvida, desescalar conflitos e perceber divergências como oportunidades de aprendizado, e não como ameaças.

Por exemplo, se o parceiro esquecer uma tarefa doméstica, criticar menos e perguntar mais pode reduzir defensividade e aumentar a cooperação. Adotar essa mentalidade torna os casais mais resilientes ao estresse e cria um clima relacional de apoio e desenvolvimento.

5º Pilar: Gerenciar Conflitos Construtivamente

O conflito é parte natural de qualquer relacionamento íntimo. O quinto pilar, portanto, foca em como os casais resolvem desacordos. Pesquisas de Gottman mostram que os casais mais felizes não evitam conflitos; eles os resolvem de forma construtiva, priorizando compreender o parceiro em vez de vencer a discussão.

Ferramentas úteis para resolver conflitos:
Escuta ativa: ouvir o parceiro sem responder imediatamente
Regulação emocional: pausar diante de raiva ou frustração, criando espaço para reflexão
Orientação para resolução: tratar desacordos como oportunidades de compromisso, não como disputas de poder
Quando resolvem disputas colaborativamente, os casais têm maior chance de manter benefícios a longo prazo, como satisfação no relacionamento, mesmo com discussões frequentes. O quinto pilar trata de equilíbrio e reconhecimento das diferenças sem permitir que elas desestabilizem a estrutura da relação.

6º Pilar: Apoiar os Sonhos do Outro

Pesquisas indicam que casais que apoiam ativamente os objetivos individuais, além dos objetivos coletivos do relacionamento, apresentam maior satisfação conjugal. O sexto pilar da casa do relacionamento trata exatamente disso.

Apoiar os sonhos do parceiro envolve priorização, coordenação, flexibilidade e, às vezes, sacrifício. Seja uma transição de carreira, uma meta de saúde ou qualquer passo para autodesenvolvimento, parceiros que trabalham juntos no alcance de objetivos constroem confiança e interdependência.

Nem tudo sai como planejado: contratempos financeiros, doenças ou estresse externo podem ocorrer. Mas casais que enfrentam esses desafios de frente constroem um relacionamento resiliente. O sexto pilar torna o casamento mais do que uma coexistência; é uma plataforma vibrante para transformação pessoal e relacional.

7º Pilar: Criar Significado Compartilhado

O sétimo pilar integra vidas individuais em uma vida comum: significado, propósito e visão como casal. Essa etapa representa o auge da intimidade, quando os parceiros concordam sobre valores, objetivos e visão de longo prazo.

Pesquisas mostram que casais que desenvolvem significado compartilhado, por meio de rituais, tradições, metas ou filosofias de vida alinhadas, sentem maior satisfação e estabilidade. Perguntas a considerar:

Quais valores éticos guiam nossas escolhas financeiras, familiares e sociais?
Como vemos nosso futuro juntos, curto e longo prazo?
Quais rotinas ou tradições nos dão senso de identidade e propósito comum?
Aqui, o relacionamento é maior que a soma de suas partes. Os dois constroem juntos um “mapa do amor” de seu universo compartilhado, dando direção, pertencimento e satisfação a cada um. Este pilar é o ápice da realização relacional: uma parceria emocionalmente gratificante e intencionalmente integrada.

Construindo Sua Própria Casa do Casamento

A metáfora da casa do relacionamento sólido oferece uma visão poderosa sobre o casamento. Ela enfatiza que relacionamentos duradouros são intencionais, multilayered (multicamadas) e cumulativos. Fundamentos de conhecimento, admiração e responsividade são pré-requisitos para os pilares superiores da casa do amor.

Cada pilar depende da integridade do anterior, mostrando que negligenciar habilidades fundamentais compromete toda a estrutura.

Casais que investem em cada pilar, dia após dia, escolha após escolha, criam relacionamentos emocionalmente resilientes e orientados ao crescimento.

Deu em Forbes