Abaixo, o R7 relembra sete episódios em que o mundo esteve à beira de uma Terceira Guerra Mundial — de Berlim, nos anos 1960, até as recentes tensões entre Rússia e países membros da Otan.
1. Tanques frente a frente em Berlim (1961)
Em outubro de 1961, poucos meses após a construção do Muro de Berlim, um diplomata norte-americano tentou cruzar o ponto de controle “Checkpoint Charlie” em direção à Alemanha Oriental. Policiais locais exigiram documentos, mas os Estados Unidos não reconheciam a autoridade da Alemanha comunista.
O diplomata se recusou e retornou escoltado por jipes e soldados aliados. Os soviéticos, avisados sobre a movimentação, enviaram seus próprios tanques. Durante três dias, veículos blindados dos EUA e da União Soviética ficaram cara a cara em uma rua da capital alemã.
O impasse terminou apenas quando Washington sugeriu aos soviéticos que recuassem um tanque como gesto inicial – o que foi seguido pelos norte-americanos logo depois. A crise foi encerrada sem disparos, mas Berlim Ocidental continuou sendo, até 1989, o principal símbolo da presença ocidental dentro do bloco comunista.
2. Mísseis em Cuba (1962)
A Crise dos Mísseis em Cuba, um ano depois, é considerada o momento mais perigoso da Guerra Fria. A União Soviética instalou mísseis nucleares na ilha caribenha, levando o presidente norte-americano John F. Kennedy a impor um bloqueio naval.
Durante 13 dias, as duas superpotências ficaram em impasse. Qualquer erro de cálculo – ou até mesmo um simples acidente – naquele momento poderia ter provocado uma guerra nuclear.
O líder de Cuba, Fidel Castro, então aliado de Moscou, chegou a sugerir que os soviéticos lançassem um ataque nuclear preventivo caso Cuba fosse invadida. Nikita Khrushchev recusou e repreendeu o cubano.
O confronto terminou com um acordo secreto: Kennedy concordou em retirar mísseis norte-americanos da Turquia, e Khrushchev, em troca, removeu os de Cuba. Mesmo assim, o líder soviético saiu enfraquecido e acabou deposto dois anos depois.
3. Vietnã (1965)
Em novembro de 1965, o presidente norte-americano Lyndon Johnson discutia a escalada da Guerra do Vietnã com seus generais, irritado por considerá-los dispostos a “arriscar uma guerra nuclear pelo Vietnã”.
No mesmo período, em Moscou, algo semelhante acontecia. Segundo as memórias do político soviético Anastas Mikoyan, o Estado-Maior da URSS defendia ações mais agressivas contra o Ocidente, como uma “demonstração militar” em Berlim e até o envio de tropas à fronteira com a Europa Ocidental.
Os militares diziam não temer o risco de uma eventual guerra global àquela altura. Mikoyan escreveu que ficou “assustado” com a proposta e que os líderes civis soviéticos rapidamente a rejeitaram.
Com ambos os lados – norte-americanos e soviéticos – ampliando o envolvimento indireto no Vietnã, que durou de 1955 a 1975, o ano de 1965 esteve mais próximo do que se imagina de uma escalada global.
4. Oriente Médio em chamas (1973)
Após a derrota árabe na Guerra dos Seis Dias, em 1967, o Egito buscava revanche contra Israel. Em 1973, com apoio da Síria, lançou o ataque surpresa que deu início à Guerra do Yom Kippur.
Israel reagiu e, com o apoio dos EUA, conseguiu cercar o Terceiro Exército egípcio. Moscou, que apoiava o Egito, propôs uma intervenção militar conjunta para separar os lados – o que Washington rejeitou, vendo na ideia uma tentativa de enviar tropas soviéticas ao Oriente Médio.
A União Soviética então ameaçou intervir sozinha. O governo de Richard Nixon respondeu elevando o alerta militar dos Estados Unidos, inclusive o nível de prontidão nuclear.
Os soviéticos acabaram recuando. Mas, segundo Henry Kissinger, secretário de Estado norte-americano, aquela foi uma das mensagens mais ameaçadoras que Moscou já enviou à Casa Branca.
5. Exercício militar que quase virou guerra (1983)
Em 1983, a tensão entre Estados Unidos e União Soviética atingia níveis inéditos. O presidente Ronald Reagan chamava a URSS de “império do mal”, enquanto o líder soviético Yuri Andropov, ex-chefe da KGB, via conspirações em cada movimento ocidental.
Em novembro, a Otan realizou o exercício “Able Archer”, uma simulação de guerra nuclear que testava a transição de operações convencionais para ataques atômicos. Embora todas as mensagens fossem identificadas como parte de um exercício, Moscou acreditou se tratar de um ataque real.
Os soviéticos colocaram suas forças estratégicas em alerta. A reação, percebida pelos serviços de inteligência britânicos, alarmou Washington. Assim que o fluxo de comunicações da Otan diminuiu, a URSS recuou.
Reagan ficou convencido de que o risco de erro era real e passou a adotar uma postura mais conciliadora depois do episódio. O caos se tornou um dos últimos grandes sustos da Guerra Fria.
6. Foguete confundido (1995)
Segundo o Centro de Controle de Armas e Não Proliferação, em 25 de janeiro de 1995, oficiais russos na Estação de Radar de Olenegorsk, no norte do país, detectaram o lançamento de um foguete de quatro estágios próximo à costa da Noruega.
O comportamento do projétil parecia o de um míssil norte-americano Trident 2. O que a tripulação não sabia é que se tratava de um foguete científico, o Black Brant 12, lançado por pesquisadores para estudar a Aurora Boreal.
A Noruega havia informado oficialmente o experimento, mas o aviso nunca chegou ao sistema russo. Em minutos, as forças estratégicas entraram em alerta máximo, e o presidente Boris Yeltsin recebeu a maleta nuclear – a única vez na história em que isso ocorreu.
Os radares acompanharam o foguete até que ele se desintegrou no ar. Só então ficou claro que a Rússia não estava sob ataque. O incidente só foi revelado ao público uma semana depois, segundo o Centro.
7. Novas tensões na Europa (2025)
Um dos incidentes mais recentes da atual fase de tensões entre Rússia e Europa ocorreu na Estônia, país membro da Otan, que fechou parte de sua fronteira com o território russo após a aparição de sete homens armados e sem identificação.
Segundo o The Sun, as autoridades afirmaram que os homens “definitivamente não eram guardas de fronteira” e representavam uma ameaça. O episódio lembrou a tática usada na anexação da Crimeia, em 2014, quando militares russos sem insígnias ocuparam pontos estratégicos antes da invasão.
O ISW confirmou que este foi o primeiro registro de presença desses agentes não identificados nas proximidades de uma fronteira da Otan nesta nova campanha ofensiva da Rússia.
Em resposta, o Reino Unido – que mantém 900 soldados a apenas 180 km da região – enviou dois aviões da Força Aérea Real (RAF) para patrulhas. O ministro da Defesa britânico, John Healey, disse que a missão reforça “a unidade da Otan e a disposição para responder a qualquer provocação”.
Nas últimas semanas, países europeus têm relatado um aumento de ações consideradas “ataques híbridos” da Rússia. Drones sobrevoaram bases militares na Dinamarca, Polônia e Romênia, e o aeroporto de Copenhague precisou ser fechado duas vezes em um mesmo dia.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, declarou que o país foi “vítima de ataques híbridos” e apontou Moscou como principal ameaça à segurança europeia. O chefe de inteligência, Finn Borch, foi direto: “O risco de sabotagem russa na Dinamarca é alto”.
Ao mesmo tempo, um ataque cibernético paralisou aeroportos de Heathrow, no Reino Unido, Bruxelas, na Bélgica, e Berlim, na Alemanha, forçando um retorno temporário a check-ins manuais.
O especialista em segurança Anthony Glees disse ao The Sun que “não há dúvida de que os russos estão por trás dos ataques cibernéticos”.
Além do ciberespaço, caças russos têm violado o espaço aéreo da Otan. Na semana passada, três jatos MiG-31, armados com mísseis hipersônicos Kinzhal, entraram no território da Estônia e permaneceram por quase 12 minutos antes de serem interceptados por F-35 da aliança.
Recentemente, a Polônia registrou 19 violações aéreas em duas semanas, incluindo sobrevoos em plataformas de petróleo e gás. O país chegou a acionar o Artigo 4 da Otan, que prevê consultas entre aliados em caso de ameaça à segurança.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu afirmando que a Otan “não deve hesitar” em abater aviões russos caso novas invasões ocorram. Moscou, por outro lado, negou envolvimento nos incidentes e classificou as acusações como “provocações”.
