Política 03/10/2025 13:08
Análise: Diálogo entre Trump e Lula é imprevisível

O possível encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante a cúpula da Asean, em Kuala Lumpur, a partir de 26 de outubro, vem sendo preparado em meio a gestos diplomáticos calculados, mas carrega imprevisibilidade semelhante ao improvisado abraço entre ambos na Assembleia-Geral da ONU.
O Brasil participará como convidado, e a expectativa é de que Trump confirme presença. A reunião pode abrir caminhos para uma acomodação no momento mais tenso das relações bilaterais desde o início do governo Lula, mas dificilmente resultará num acordo, porque os interesses contrariados são profundos e complexos.
Na semana passada, o vice-presidente Geraldo Alckmin conversou por telefone com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, enfatizando que a preferência do Brasil é pelo diálogo, apesar do “tarifaço” de 50% imposto unilateralmente por Washington.
Também a Camex adiou em 30 dias a decisão sobre retaliações, sinalizando disposição de negociar. O chanceler Mauro Vieira, ao declarar que o Brasil “vai aplaudir” o plano de paz de Trump para Gaza, ofereceu gesto simbólico de deferência.
Essa questão de Gaza é um fio desencapado nas relações do Brasil com Israel, em razão da firme posição brasileira de que estaria havendo um genocídio de palestinos, inclusive perante tribunais e organismos internacionais. Mas o apoio à proposta de paz dos EUA representa uma mudança de abordagem e, indiscutivelmente, agrada Trump.
Entretanto, o contencioso comercial fala mais alto.
Na conversa com Alckmin, Lutnick deixou claro que Brasil, Índia e Suíça continuam no radar das correções impostas por Trump. Em entrevista, disse que esses países precisam “jogar segundo as regras do presidente dos EUA”, ou seja, abrir mercados e abandonar práticas vistas como nocivas ao comércio norte-americano.
Apesar do tom duro, afirmou acreditar numa “resolução”, ou seja, admitiu que há um diálogo em curso e esse é o primeiro passo para qualquer acordo. Antes da Assembleia da ONUN, não existia essa possibilidade.
O problema principal, porém, continua sendo a imprevisibilidade de Trump, que oscila entre gestos afáveis e imposições ríspidas.
O segundo é a própria postura de Lula, que pretende negociar de cabeça em pé e não é de levar desaforo para casa.
O presidente brasileiro às vezes exagera na busca de mais protagonismo internacional — como quando sugeriu mediação na guerra da Ucrânia — e seu assessor especial, Celso Amorim, tem claras posições antiamericanas, o que tensiona as relações e atrapalha as negociações do Itamaraty.
Temas delicados, como regulação digital e julgamento de Jair Bolsonaro, precisarão ser enfrentados com concessões de ambas as partes. Nem Trump deixará de representar os interesses das big techs americanas, nem Lula vai aceitar interferência no Judiciário brasileiro.
Apesar das divergências nos quesitos democracia, clima e regulação digital, é possível avanços estratégicos na área empresarial. Há campos férteis para isso.
O Brasil ainda tem uma economia muito fechada, o peso relativo do comércio com os EUA é pequeno em relação ao PIB e, por isso, uma maior abertura comercial pode beneficiar os consumidores brasileiros.
Na tecnologia e na mineração, projetos conjuntos de exploração e refino de terras-raras, com transferência de tecnologia, fortaleceriam a indústria nacional.
No setor militar, a compra de armamentos norte-americanos e eventuais parcerias industriais reforçariam a capacidade das Forças Armadas. No campo empresarial, Embraer e JBS poderiam expandir fábricas nos EUA, projetando capital brasileiro no maior mercado mundial.
As empresas norte-americanas aqui instaladas e as “campeãs nacionais” que operam nos EUA têm cadeias de produção muito integradas e estão ajudando a melhorar o clima para as negociações.
Foram fundamentais para “cair a ficha” de que condicionar as relações entre os dois países à anistia para Bolsonaro era uma posição insustentável do ponto de vista da diplomacia mundial e da política interna.
Os norte-americanos não rasgam dólares. O Brasil é o nono maior destino das exportações dos EUA e o quinto em termos de superavit comercial para eles. Para os brasileiros, Washington é o segundo parceiro exportador e responde por um terço dos investimentos estrangeiros.
O peso é visível em diversos setores, do agronegócio ao financeiro, dos automóveis aos smartphones. Ignorar essa interdependência seria custoso para ambos os lados.
Um tema que aumenta a distância entre Lula e Trump, porém, é a questão climática. Em discurso no Pará, o presidente brasileiro cobrou compromissos concretos, dos Estados Unidos e da China, para o financiamento da preservação das florestas.
Trump resiste a mecanismos multilaterais de combate às mudanças climáticas, enquanto o Brasil busca recursos externos para sustentar sua política ambiental.
A cobrança pode gerar atrito, mas não a ponto de impedir um acordo. O encontro na Malásia, se confirmado, pode se tornar o primeiro passo para superar a pior crise bilateral em décadas.
O risco está no choque de personalidades e agendas ideológicas. Lula e Trump, porém, também têm a oportunidade de transformar a tensão comercial em cooperação concreta em setores estratégicos, que é o que mais importa.
Descrição Jornalista
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