Uma das mais celebradas autoras de novela do Brasil, Glória Perez (foto) reclamou da cultura woke em entrevista publicada pela Folha de S.Paulo.
Um dos raros expoentes da dramaturgia brasileira a manifestar apoio a Jair Bolsonaro nos últimos anos, Perez, que encerrou seu longo contrato com a Globo em abril, não foi questionada sobre o ex-presidente na entrevista, nem falou espontaneamente sobre ele.
A crítica à cultura woke foi feita quando a autora respondia se a teledramaturgia brasileira vive uma crise.
“Sem dúvidas. As novelas não estão tendo a relevância de antes nem como entretenimento nem como porta-voz de temas importantes. A explicação disso não se resume à multiplicação das telas e das opções do público. A cultura ‘woke’ introduziu um cerceamento à imaginação. A opção de não desagradar, de não tocar em temas sensíveis, de transformar conflitos humanos em pautas, acabou por encerrar a dramaturgia numa espécie de fórmula, retirando dela a capacidade de provocar. A cultura ‘woke’ foi arrasadora para a dramaturgia”. comentou.
Ditadura
Perez chegou a afirmar que hoje a censura é pior do que na época da ditadura militar:
“Na época [da ditadura], você tinha uma censura comandada pela dona Solange [Hernandes, chefe da Divisão de Censura de Diversões Públicas do regime militar]. Era ela quem mandava cortar as coisas. Só que agora nós temos uma multiplicidade enorme de ‘Solanges’. Nas redes sociais, com raras exceções, cada pessoa é uma Solange diferente, julgando o outro e tentando cassar a palavra alheia. Não era assim. Antes, você tinha uma censura. Agora, a censura está espalhada na sociedade. É muito pior.”
Na entrevista, a autora também atribuiu a decisão de deixar a Globo a falta de liberdade para criar.
“Eu decidi pôr um ponto final porque meu contrato acabaria quando terminasse esta novela que foi barrada. Decidiram adiar a novela por causa do aborto. Aí eu falei ‘gente, se tem uma pessoa que sabe tocar com delicadeza nesse tipo de tema, sou eu, a minha história toda mostra isso’. Mas aí veio o medo de desagradar algumas áreas. A minha assinatura é lidar com temas delicados e trazer o público para a discussão. Se eu não puder fazer isso, eu acabo”, reclamou.
Segundo a autora, “a emissora queria que eu assinasse um contrato de extensão para fazer a próxima novela, que viria depois de ‘Três Graças’, do Aguinaldo Silva”.
“Eu falei que não me interessava e que queria rescindir o contrato. Eu senti que eu não conseguiria mais fazer as novelas que sei e quero fazer. Eu sou incapaz de pensar engessada. Ou eu tenho liberdade para voar, ou não tenho liberdade nenhuma”, completou.

