Mortes 11/06/2021 07:02

Tema doloroso: aumenta o número de suicídios no RN durante a pandemia, revela pesquisa

A tendência temporal da mortalidade por suicídios no estado do Rio Grande do Norte mostrou-se ascendente para homens e mulheres, conforme pode ser observado nos gráficos a seguir, nas mulheres o aumento passou a ser percebido no ano de 2015 e nos homens em 2016.

O Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) da UFRN está analisando os suicídios no Rio Grande do Norte durante a pandemia da Covid-19.

“O tema é doloroso, porque representa uma morte por desespero, o que segundo a Organização Mundial da Saúde  (OMS),  é uma morte evitável”, diz Karina Meira, pesquisadora participante do estudo em conjunto com Eder Dantas, Weverton Rodrigues e Jordana de Jesus.

“Existem medidas de prevenção  efetivas e eficazes na prevenção  desse agravo à Saúde, mas é necessário  que o estado se implique, ampliando o acesso à educação, renda e atenção  psicossocial”, complementa Karina.

A OMS conceitua como suicídio o ato intencional, deliberado e consciente de pôr fim à própria vida. É um agravo à saúde complexo, multideterminado que envolve questões socioeconômicas, biológicas, psicológicas, políticas e culturais.

Segundo estudos de outras crises sanitárias, como a pandemia da gripe espanhola (1918-1919) nos Estados Unidos, em Hong Kong após a epidemia da SARS, em 2003, além do suicídio consumado, também foram reportados aumento de automutilação em países africanos que viveram o surto de Ebola.

Além disso, existem os estudos relacionados à economia, nos quais o aumento também foi visto durante a crise econômica e o ajuste fiscal implementado em 2008.

A tendência temporal da mortalidade por suicídios no estado do Rio Grande do Norte mostrou-se ascendente para homens e mulheres, conforme pode ser observado nos gráficos a seguir, nas mulheres o aumento passou a ser percebido no ano de 2015 e nos homens em 2016.

Verificou-se maior taxa de mortalidade de suicídio em mulheres no ano de 2020 (3,29 óbitos por 100 mil mulheres) representando um aumento de 55,92% em relação ao coeficiente de mortalidade do ano 2019 (2,11 óbitos por 100 mil mulheres).

O mesmo perfil foi verificado nos homens (13,17 vs 12,92 óbitos por 100 mil homens), correspondendo a um aumento de 1,93% em relação ao ano de 2019, na população geral o aumento foi de cerca de 10%.

As maiores taxas de mortalidade foram observadas em idosos, tanto em homens quanto em mulheres. As mulheres apresentaram aumento das taxas a partir da quarta década de vida e os homens a partir da sexta década. Em 2020, houve aumento nas taxas de mortalidade em todas as faixas etárias, com aumento significativo nas mulheres quando se compara com o período de 2011 a 2019.

Esse aumento da mortalidade por suicídio em 2020 pode estar correlacionado à pandemia da covid-19, estudos têm discutido o efeito da pandemia na saúde mental, em virtude do isolamento social, medo do desconhecido, temor de contaminar a si ou os familiares, impacto socioeconômico, como desemprego, insegurança alimentar e falta de assistência médica para o manejo de problemas psicossociais.

“Isso nos mostra que suicídio não pode ser tratado apenas no nível  individual,  questões  subjetivas são  importantes.  Cada ser humano apresenta suas particularidades, mas este é um problema social e econômico”, diz Karina.

“Não é possível pensar em saúde mental na pandemia apenas com técnicas de respiração, meditação e prática de atividade física. Temos mais 14 milhões de brasileiros sem emprego, milhares sem segurança alimentar e sem renda. Como promover saúde mental para essa parcela da população sem o Estado garantindo proteção social, cuidado em liberdade?”, encerra com o questionamento.

CVV

O Centro de Valorização da Vida (CVV) recebe chamadas diariamente para dar apoio emocional e prevenir suicídios de forma voluntária. Segundo dados do CVV, entre janeiro e março de 2021, foram recebidas 283.692 ligações.

O serviço por telefone pode ser contatado pelo 188 e está disponível 24h. Já o chat tem horários específicos: Dom – 17h à 01h, Seg a Qui – 09h à 01h, Sex – 15h às 23h, Sáb – 16h à 01h.

Deu no Portal da UFRN

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista