Hospitais 13/05/2020 12:10

Surge o debate da “fila única” para as UTIs de Covid-19 em hospitais públicos e privados

Com os leitos de UTI no Brasil atingindo capacidade máxima, o país precisará encontrar alternativas para acolher pacientes em estado grave da covid-19, doença causada pelo coronavírus.

Com os leitos de UTI no Brasil atingindo capacidade máxima, o país precisará encontrar alternativas para acolher pacientes em estado grave da covid-19, doença causada pelo coronavírus.

Especialistas falam em criar uma “fila única” de leitos do sistemas público e privado, ou então em “empréstimos” de alguns leitos privados pela gestão pública, já que há um grande desequilíbrio entre a proporção de usuários e leitos dos dois sistemas.

Até quarta-feira (22/04), havia mais de 45,7 mil casos e 2,9 mil mortes no país em decorrência da doença causada pelo vírus.

Isolamento e distância social foram impostos no mundo todo e em Estados brasileiros para tentar ganhar tempo e impedir que o sistema chegasse a esse ponto, ficando sobrecarregado.

Mas hospitais em diferentes regiões do Brasil já estão acusando superlotação em UTIs. Isso é grave porque as unidades de terapia intensiva proveem o cuidado que pacientes de covid-19 em situações piores podem precisar para sobreviver. A falta de leitos na Itália, por exemplo, obrigou médicos a terem de optar por pacientes com mais chances de sobrevivência.

A ideia, defendida até agora por pelo menos dois grupos acadêmicos que estudam o mercado de planos de saúde no Brasil, seria utilizar o poder, previsto em Lei neste caso, de requisitar “bens e serviços” (pagando indenização posterior) para unificar os leitos de UTI da rede pública e privada.

O paciente grave de covid-19 que precisar de uma vaga na UTI entraria em uma fila única de leitos, independentemente de ser usuário da rede pública ou privada. Funcionaria mais ou menos como funciona o Sistema Nacional de Transplantes. Os recursos seriam coordenados pelo sistema público, que pagaria o setor privado por isso.

O método já foi utilizado em outros países durante a pandemia do coronavírus. Na Espanha, por exemplo, o governo provisoriamente estatizou todos os hospitais privados.

No Brasil, a proposta é defendida pelo Grupo de Estudos Sobre Planos de Saúde, ligado à Universidade de São Paulo (USP), e pelo Grupo de Pesquisa e Documentação sobre Empresariamento na Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

“O Brasil tem uma medicina privada sofisiticada para muito poucos. Nesse momento, esses recursos precisam ser melhor distribuídos”, diz a médica santiarista Ligia Bahia, professora da UFRJ que defende a proposta. “Vamos corrigir essa desigualdade, considerando que estamos numa emergência sanitária.”

“A ideia é que todos os pacientes graves tenham a mesma chance de ter atendimento com cuidados intensivos. A maior parte dos leitos de UTI no Brasil não são públicos. As pessoas que não têm plano de saúde vão morrer sem atendimento.”

Ela admite que dificilmente a proposta será adotada – por falta de interesse do setor privado. Por isso, diz, o grupo tem abordado os Ministérios Públicos estaduais e os Tribunais de Justiça.

Para Amaral, da UFMG, é preciso encarar a pandemia como um “choque absolutamente fora do padrão sobre o sistema, totalmente atípico”. Então “faz sentido que a solução seja atípica”.

Deu na BBC

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista