Wi-Fi com os dias contados: nova tecnologia transmite dados pela luz e atinge velocidades até 100 vezes maiores - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Tecnologia 19/10/2025 13:30

Wi-Fi com os dias contados: nova tecnologia transmite dados pela luz e atinge velocidades até 100 vezes maiores

Wi-Fi com os dias contados: nova tecnologia transmite dados pela luz e atinge velocidades até 100 vezes maiores

Li-Fi, sistema de comunicação sem fio baseado em luz, desponta como alternativa ao Wi-Fi e promete conexões até cem vezes mais rápidas, com maior estabilidade e segurança.

Segundo especialistas, a tecnologia pode ganhar escala ao longo da próxima década e alterar a forma como residências, empresas e espaços públicos acessam a internet.

Ao contrário do Wi-Fi, que utiliza ondas de rádio, o Li-Fi transmite dados por luz visível, ultravioleta ou infravermelha.

O sinal é emitido por lâmpadas de LED adaptadas, que variam de intensidade em cadências imperceptíveis ao olho humano para codificar a informação.

Esse mecanismo permite alta taxa de transferência e reduz interferências, sobretudo em ambientes congestionados.

Ainda que o conceito não seja novo, o impulso recente vem de ganhos de eficiência e de testes práticos em diferentes setores.

Em cenários com grande densidade de usuários, o Li-Fi se destaca pela velocidade e pelo controle do feixe luminoso, que limita a propagação do sinal a uma área definida.

Como a transmissão por luz acontece

Na prática, a rede funciona com luminárias equipadas com transmissores e receptores instalados em dispositivos compatíveis.

O LED modula a luz para enviar o pacote de dados; do outro lado, um sensor converte essas variações em informação digital.

Como o “meio” é o próprio feixe luminoso, o canal tende a ser mais previsível do que o espectro de rádio, frequentemente sujeito a ruídos e disputas de frequência.

A comunicação por luz também se beneficia da eficiência energética dos LEDs.

A mesma infraestrutura usada para iluminar salas, corredores e veículos pode, em tese, servir simultaneamente como via de dados, reduzindo etapas e aproveitando instalações existentes.

Essa dupla função é apontada por desenvolvedores como diferencial para projetos em larga escala.

Velocidade, estabilidade e segurança

O argumento mais repetido pelos defensores do Li-Fi é a velocidade superior, estimada em até 100 vezes a do Wi-Fi tradicional em condições ideais.

Além de downloads praticamente instantâneos, o modelo favorece streaming sem travamentos e baixa latência, inclusive com muitos usuários conectados na mesma área.

Outro ponto é a estabilidade.

Como a luz não atravessa paredes com facilidade, o sinal fica confinado ao ambiente iluminado, o que diminui interferências externas e pode elevar o desempenho.

Essa característica, por consequência, é vista como vantagem de segurança, porque restringe a área de alcance do pacote de dados e dificulta acessos indevidos vindos de fora.

O que muda na infraestrutura

Apesar do potencial, a adoção exige adaptações.

Para operar em Li-Fi, será necessário instalar luminárias específicas e incorporar receptores compatíveis a computadores, celulares, televisores e sensores industriais.

Fabricantes e integradores também terão de padronizar protocolos para garantir interoperabilidade entre diferentes marcas e modelos.

Essa atualização de parque não se faz de um dia para o outro.

Provedores, empresas e órgãos públicos costumam planejar ciclos de investimento em redes com antecedência.

Especialistas, no entanto, avaliam que a substituição pode ocorrer de forma gradual, começando por ambientes em que as vantagens técnicas são mais claras e os ganhos justificam o custo inicial.

Aplicações em ambientes críticos

Na saúde, a tecnologia surge como alternativa onde as ondas de rádio são indesejadas por risco de interferência.

Hospitais e clínicas poderiam oferecer conectividade a prontuários eletrônicos, monitores e tablets de equipe sem comprometer a operação de equipamentos sensíveis.

No transporte, a proposta é levar conexão estável a aviões, metrôs e trens, aproveitando a iluminação já presente nas cabines.

Com a luz como meio, o sistema tende a manter desempenho consistente mesmo com muitos passageiros conectados, além de permitir delimitação de áreas de acesso.

Em espaços culturais, como museus e centros de exposições, o Li-Fi possibilita experiências imersivas.

A própria iluminação das salas pode transmitir conteúdos multimídia para o celular do visitante, de acordo com a posição e o acervo observado, sem sobrecarregar as redes de rádio locais.

Limites, desafios e horizonte de adoção

Embora prometa ganhos expressivos, o Li-Fi tem condições de contorno.

O sinal depende de linha de visada ou, ao menos, de reflexão suficiente para atingir o receptor; obstáculos podem degradar a conexão.

Em locais com iluminação reduzida ou apagada, a rede precisa de arranjos que mantenham o feixe infravermelho ativo sem prejudicar o conforto visual.

Por isso, especialistas apontam que a convivência com o Wi-Fi e outras tecnologias sem fio deverá continuar por anos, com cada uma atendendo a cenários específicos.

Há também o desafio de distribuição de dispositivos compatíveis.

Enquanto roteadores Wi-Fi estão amplamente difundidos, módulos de Li-Fi ainda são minoria no mercado de consumo.

A massificação depende de acordos com fabricantes, incentivos para testes em ambientes reais e, principalmente, de padrões de comunicação amplamente aceitos para orientar projetos e garantir que um equipamento funcione com outro.

Mesmo assim, a expectativa no setor é de avanço progressivo.

Pesquisadores e empresas estimam que, em até dez anos, o Li-Fi possa se consolidar como novo padrão de conectividade em nichos relevantes, abrindo caminho para adoção mais ampla à medida que custos caiam e soluções maduras se provem no dia a dia.

O que esperar para casas e escritórios

Em residências, a transição tende a começar por aplicações específicas, como salas de home office, espaços de estudo ou entretenimento que exigem alta largura de banda.

Escritórios e plantas industriais, por sua vez, podem optar por implantações por setor ou por andar, priorizando áreas com maior densidade de pessoas e necessidade de performance.

A integração com sistemas de iluminação inteligente deve se tornar um eixo central desses projetos.

Em um cenário típico, os pontos de luz passariam a operar como “células de acesso”, com controle de potência, direcionamento e handover entre luminárias para manter a sessão estável conforme o usuário se movimenta.

A gestão de rede, portanto, precisará contemplar tanto parâmetros de conectividade quanto de conforto e eficiência energética.

Por que o debate ganhou tração agora

O interesse renovado por alternativas ao Wi-Fi ocorre em um momento de aumento contínuo do tráfego de dados e de disputa por espectro em áreas urbanas.

A capacidade de usar a luz — um recurso presente em praticamente todos os ambientes — como meio de transmissão cria uma via paralela para desafogar redes tradicionais, mantendo desempenho para aplicações críticas.

Para gestores de TI e planejamento urbano, a pergunta central passa a ser onde o Li-Fi agrega mais em relação ao custo e à complexidade de implantação.

Em locais com requisitos rigorosos de segurança e previsibilidade do sinal, os argumentos técnicos são mais fortes.

Em outros, a combinação de Wi-Fi, redes móveis e cabos seguirá como solução de melhor relação custo-benefício até que a produção em escala traga preços mais acessíveis.

Enquanto as primeiras experiências ganham corpo, a discussão sobre conectividade por luz deixa o laboratório e chega a projetos-piloto em setores como saúde, aviação, transporte sobre trilhos e espaços expositivos.

À medida que resultados forem divulgados e que dispositivos compatíveis se tornem mais comuns, a decisão de adotar o Li-Fi deixará de ser uma aposta e passará a ser um cálculo de retorno mensurável — na sua casa e no seu trabalho, em que cenário a luz faria mais sentido como canal de dados?

Deu em CPG

Ricardo Rosado de Holanda
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista