Saúde 24/08/2025 17:39
Vasos sanitários de aviões são verdadeiros criadouros de superbactérias
A água residual dos sanitários de aviões pode funcionar como um “espelho microbiológico” dos passageiros e, por isso, ser uma ferramenta em potencial para monitorar a circulação global de genes de resistência a antibióticos (Gras).
A pesquisa, conduzida por cientistas da agência científica australiana Csiro e pela Universidade de Xiamen, na China, analisou amostras de 44 voos de repatriação que aterrissaram na Austrália entre 2020 e 2021, vindos de nove países.
As análises, publicadas na revista Microbiology Spectrum, encontraram não apenas bactérias indicadoras de contaminação fecal, mas patógenos considerados críticos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como Klebsiella pneumoniae e Enterococcus faecium, além de genes que conferem resistência a antibióticos essenciais, incluindo blaNDM-1 e blaCTX-M-1.
A circulação aérea é apontada há décadas como uma via de disseminação de vírus e bactérias. A novidade do estudo é mostrar que, além de patógenos, os aviões também transportam genes resistentes a antibióticos, um dos maiores desafios de saúde pública do século.
Segundo estimativas, a resistência antimicrobiana foi responsável por 1,27 milhão de mortes em 2019 e poderá causar mais de 39 milhões de óbitos até 2050.
Ásia
Os cientistas verificaram que determinados genes de resistência aparecem em maior abundância em voos provenientes da Ásia, especialmente da Índia, do que os vindos da Europa.
“Detectamos níveis significativamente mais altos dos genes blaCTX-M-1 e qnrS nas águas residuais de aeronaves que partiram da Índia, em comparação às que partiram do Reino Unido e da Alemanha”, explica a primeira autora, Yawen Liu.
Entre os genes analisados, alguns chamaram atenção pela onipresença. O tetM, que confere resistência às tetraciclinas, e o sul1, imune às sulfonamidas, foram detectados em todas as amostras. Já o blaKPC e o vanA, associados a resistências mais raras, não foram encontrados. O blaNDM-1, conhecido como “gene da superbactéria indiana”, apareceu em 17 voos — principalmente vindos da Ásia, mas também em alguns aviões da Europa e África.
Para os pesquisadores, o dado é particularmente preocupante porque esse gene não havia sido detectado no esgoto urbano australiano.
“Isso sugere que as viagens internacionais podem introduzir genes resistentes inéditos no sistema de saneamento local, aumentando o risco de disseminação para a população”, alerta Warish Ahmed, pesquisador da CSIRO e autor senior do estudo.
Coleta
O método utilizado é relativamente simples: a coleta de um litro de água dos tanques dos sanitários, analisada em laboratório por PCR quantitativo. Os autores testaram também a resistência do material genético à ação dos desinfetantes aplicados nas aeronaves.
Constatar que, mesmo após 24 horas de exposição, a degradação dos ácidos nucleicos foi menor que 10%, indicando que as amostras se mantêm estáveis na duração típica de voos intercontinentais.
“Mostramos que é possível implementar a vigilância de resistência antimicrobiana a partir de amostras não invasivas e com alta representatividade populacional”, Nicholas J. Ashbolt, da Universidade de Adelaide, que colaborou com o estudo.
“Essa estratégia pode complementar sistemas de saúde locais e fornecer alertas antecipados sobre genes emergentes”, afirma
Os autores destacam que, embora o estudo tenha sido realizado durante a pandemia de covid-19 — em voos de repatriação com perfil de passageiros atípico —, os resultados evidenciam o potencial de se criar uma rede internacional de monitoramento de resistência antimicrobiana a partir de aeronaves.
“O avião é um microcosmo que reúne pessoas de diferentes origens geográficas. Monitorar seus dejetos é, de certa forma, observar em tempo real a movimentação global dos genes de resistência”, sintetizou, em nota, Wendy J. M. Smith, coautora da pesquisa.
Diferentemente de vírus, como o Sars-CoV2, cuja transmissão se manifesta rapidamente, a resistência antimicrobiana avança de forma silenciosa. Passageiros podem carregar genes resistentes no intestino sem apresentar sintomas, mas contribuir para a sua disseminação nos países de destino.
Por isso, os pesquisadores defendem a integração dessa abordagem a estratégias globais de saúde. “Estamos diante de uma pandemia silenciosa. O monitoramento de esgoto de aeronaves não substitui os sistemas tradicionais, mas pode oferecer uma camada extra de vigilância internacional”, reforça Ahmed.
Os autores sugerem que, em estudos futuros, análises metagenômicas sejam incorporadas, para identificar genes ainda desconhecidos e avaliar mais detalhadamente os riscos. Eles também defendem comparações diretas entre esgoto de aviões e a rede de resíduos municipal para estabelecer linhas de base que permitam medir o impacto real da introdução de novos genes resistentes.
As viagens aéreas comerciais modernas conectam populações humanas díspares. A indústria aérea global transportou cerca de 4,5 bilhões de passageiros anualmente nos anos que antecederam a pandemia da covid-19.
Embora essas conexões sejam convenientes para o comércio e o turismo, as redes de viagens aéreas também podem ser distribuidoras eficientes de doenças infecciosas. A vigilância de águas residuais de aeronaves pode ser integrada a modelos de rede e doenças infecciosas para melhor direcionar as medidas tradicionais de controle de saúde pública durante o início de uma epidemia.
Dado o potencial demonstrado para o bem público e os enormes custos econômicos das epidemias, os governos devem considerar a colaboração e o investimento internacionais para criar um sistema global de vigilância de águas residuais de aeronaves.”
Deu em Correio Braziliense
Descrição Jornalista
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