Que pessoas têm mais chances de criar obsessão por alimentação saudável? Estudo descobriu - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Alimentos 28/11/2025 14:25

Que pessoas têm mais chances de criar obsessão por alimentação saudável? Estudo descobriu

Que pessoas têm mais chances de criar obsessão por alimentação saudável? Estudo descobriu

Manter uma rotina saudável, com alimentação equilibrada e a prática regular de exercício físico, é reconhecido como um ótimo caminho para o bem-estar e a prevenção de doenças.

Em alguns casos específicos, no entanto, essa busca pela alimentação saudável perfeita pode ser prejudicial.

É o que os especialistas têm chamado de ortorexia nervosa, uma obsessão pela alimentação saudável que leva a comportamentos rígidos, ansiedade, isolamento social e até mesmo desequilíbrios nutricionais.

A preocupação excessiva com a “pureza” e a qualidade dos alimentos pode transformar o que seria um cuidado em um sofrimento silencioso.

Um estudo publicado na revista Psychology, Health & Medicine com 1.359 brasileiros fisicamente ativos (a maioria mulheres, com média de 29 anos) conseguiu identificar características de pessoas mais suscetíveis a desenvolver essa relação problemática com a comida.

O estudo analisou duas dimensões: a de pessoas mais propensas à ortorexia nervosa e a de indivíduos com interesse genuíno e funcional em comer de forma equilibrada.

O levantamento foi conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e recebeu financiamento da FAPESP.

“Embora ainda não seja oficialmente classificada como um transtorno alimentar – como a anorexia ou a bulimia – a ortorexia já é considerada um comportamento disfuncional por clínicos. No estudo, encontramos diferentes relações desse padrão alimentar com comportamentos indesejados, o que pode, futuramente, contribuir para a identificação e tratamento da questão”, explica Wanderson Roberto da Silva, professor do Programa de Pós-Graduação em Alimentos, Nutrição e Engenharia de Alimentos da Unesp, que coordenou o estudo.

Silva explica que entre os comportamentos frequentemente observados na ortorexia nervosa estão a eliminação radical de alimentos considerados “impuros” ou “não saudáveis”, como produtos ultraprocessados, itens com aditivos (corantes e conservantes) e açúcar adicionado, podendo incluir também restrições injustificadas a grupos como glúten ou laticínios.

Nessa busca pela pureza alimentar, entram no cardápio apenas alimentos percebidos como saudáveis, a exemplo dos orgânicos, e de procedência conhecida.

“Essa obsessão pela pureza dos alimentos e a busca pela alimentação perfeita acaba gerando desequilíbrios importantes. A alimentação é mais complexa que uma lista de alimentos permitidos, envolve cultura, relações pessoais, carinho e afeto. Curiosamente, esse tipo de alimentação que segue tantas regras acaba gerando desequilíbrios nutricionais, além dos psicológicos. Isso acontece porque não existe variedade alimentar, entram no cardápio só os alimentos considerados ‘perfeitos’. A proteína passa a ser supervalorizada em detrimento das gorduras, fibras e carboidratos, que também são importantes”, aponta Silva.

De acordo com o estudo, o interesse saudável pela alimentação está ligado a fatores como maior idade, prática regular de exercícios, ausência de cirurgias estéticas e uso moderado de suplementos.

Já a ortorexia nervosa foi mais comum entre mulheres, pessoas desempregadas, com histórico de transtornos alimentares e que seguem dietas restritivas com foco estético.

“Esses padrões indicam uma rigidez cognitiva e uma busca excessiva por controle, que podem gerar culpa, ansiedade e até levar a pessoa a evitar o convívio social”, afirma Silva. Ele destaca ainda que o desemprego pode agravar o quadro ao aumentar o estresse e desorganizar a rotina.

O pesquisador ressalta que um achado particularmente interessante foi que os dois casos se associaram à prática frequente de exercício físico.

“Isso reforça a dupla face do comportamento saudável: o exercício pode ser um instrumento de promoção da saúde, mas, quando combinado com rigidez extrema e preocupação estética, pode se tornar parte do problema. No contexto brasileiro, onde há forte valorização da imagem corporal, pressões estéticas podem contribuir para a adoção de padrões alimentares rígidos”, diz Silva.

“É preciso resgatar o equilíbrio na relação com a comida. Como nutricionista, incentivo que as pessoas comam alimentos nutritivos e desenvolvam hábitos saudáveis. No entanto, é fundamental compreender que uma alimentação verdadeiramente saudável é aquela que nutre o corpo, a mente e as relações sociais. Isso também não significa buscar prazer constante em alimentos hiperpalatáveis, mas reconhecer que, eventualmente, um alimento pode fazer parte da alimentação por outro motivo, como o de proporcionar bem-estar, conforto ou vínculo social”, comenta.

Ricardo Rosado de Holanda
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista