Penhora dos imóveis de Pelé: a humilhação que expõe o abismo entre os craques antigos e os milionários de hoje - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Celebridades 07/11/2025 12:36

Penhora dos imóveis de Pelé: a humilhação que expõe o abismo entre os craques antigos e os milionários de hoje

Penhora dos imóveis de Pelé: a humilhação que expõe o abismo entre os craques antigos e os milionários de hoje

A notícia é chocante. Dois apartamentos que pertenciam ao espólio de Edson Arantes do Nascimento, Pelé, poderão ir a leilão para pagamento de dívidas de condomínio acumuladas desde sua morte.

Sim: o maior jogador da história do futebol mundial, o homem que colocou o Brasil em outro patamar, está sendo executado por dívida de condomínio.

Se isso não escancara a distorção econômica do futebol moderno, nada mais escancara.

Hoje qualquer perna-de-pau, qualquer reserva nota 5, ganha um milhão de reais por mês. Qualquer jogador mediano, como Gabigol, ganha dois milhões.

Neymar, no Al-Hilal, recebia mais de 2,5 milhões de reais por dia. Um único dia trabalhado dele gerava mais receita pessoal do que Pelé ganhava em diversos contratos somados.

E é justamente aí que está o contraste brutal: antigamente o craque era ídolo – mas não era tratado como patrimônio econômico.

Eram estrelas sem blindagem financeira. Eram semideuses sem proteção estrutural.

Enquanto isso, o maior de todos os tempos tem, depois de morto, apartamentos com risco real de leilão.

E não é caso isolado.

Nilton Santos – o melhor lateral esquerdo da história do futebol – terminou a vida como funcionário de uma escolinha do GDF. Professor de futebol. Salário baixo para quem foi o maior de todos os tempos na posição.

O futebol brasileiro usou os heróis e os descartou.

Agora, o caso de Pelé

A Justiça determinou a penhora dos direitos de dois apartamentos na Avenida Almirante Cochrane, nº 123, bairro do Embaré, em Santos. Como os imóveis ainda não estavam totalmente quitados, a medida recai sobre os direitos de aquisição.

Ou seja: o processo não bloqueia apenas o bem físico – bloqueia o direito sobre ele. Caso a dívida não seja quitada, pode, sim, virar leilão judicial. O filho Edinho foi nomeado como representante do espólio.

A especialista em Direito Imobiliário, Siglia Azevedo, explica que esse tipo de penhora é comum em imóvel ainda não integralmente registrado ou pago. Ela ressalta que o leilão é etapa futura: primeiro vem a penhora; depois, caso não haja acordo, a alienação judicial.

E esse é o ponto final – e mais triste – desse retrato: o Brasil é o país que mais produz talento bruto no futebol, mas é o país que menos protege suas lendas.

Não é exagero dizer que, se Pelé tivesse sido Pelé no século 21, ele teria uma fortuna geracional impossível de ser consumida nem com 1.000 condomínios atrasados.

Mas Pelé foi Pelé no século XX.

E o século XX foi cruel com seus gênios.

Deu em Jornal de Brasília

Ricardo Rosado de Holanda
Ricardo Rosado de Holanda


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