Efeito colateral do tarifaço de Trump: China inunda o mundo com onda de exportações baratas - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Exportação 25/09/2025 05:34

Efeito colateral do tarifaço de Trump: China inunda o mundo com onda de exportações baratas

Efeito colateral do tarifaço de Trump: China inunda o mundo com onda de exportações baratas

O motor exportador do presidente Xi Jinping mostrou-se imbatível durante cinco meses de tarifas altíssimas impostas pelos Estados Unidos, levando a China a um superávit comercial recorde de US$ 1,2 trilhão.

Apesar das restrições de acesso ao mercado americano, os fabricantes chineses não recuaram: as compras da Índia atingiram um recorde em agosto, os embarques para a África caminham para bater um recorde anual e as vendas ao Sudeste Asiático superaram o pico da pandemia.

Esse avanço generalizado está causando alarme no exterior, enquanto governos ponderam o impacto sobre suas indústrias locais diante do risco de se indispor com Pequim, o principal parceiro comercial de mais da metade do planeta.

Até agora, apenas o México respondeu publicamente neste ano, impondo tarifas de até 50% sobre produtos chineses como automóveis, peças e aço. Outros países, porém, enfrentam pressão crescente para agir.

Autoridades indianas receberam 50 pedidos recentes para investigar dumping de produtos da China e do Vietnã. Na Indonésia, o ministro do Comércio prometeu controlar a enxurrada de mercadorias após viralizarem vídeos de vendedores chineses oferecendo calças jeans e camisas por apenas US$ 0,80.

Temor de melindrar 2ª economia do mundo

Ainda assim, as chances de medidas mais amplas são limitadas. Países já envolvidos em negociações tarifárias com a administração Trump hesitam em abrir nova frente de guerra comercial com a segunda maior economia do mundo. Isso dá fôlego a Pequim diante de tarifas americanas que devem cortar pela metade o crescimento anual da China.

— A resposta moderada provavelmente se deve às negociações em curso com os EUA — disse Christopher Beddor, da Gavekal Dragonomics. — Alguns países não querem ser responsabilizados por um colapso do sistema comercial mundial; outros podem estar segurando tarifas contra a China para usá-las como moeda de troca com os EUA.

O ministro do Comércio da África do Sul desaconselhou tarifas punitivas sobre carros chineses, que quase dobraram neste ano, e busca mais investimentos. Chile e Equador aplicam discretamente taxas específicas a importados de baixo custo, após a plataforma Temu crescer 143% em usuários mensais na América Latina desde janeiro.

O Brasil, embora tenha ameaçado represálias, concedeu neste verão uma janela de isenção à BYD para ampliar a produção local.

Charme diplomático e ameaças financeiras=

Pequim mistura charme diplomático e ameaças econômicas. Xi reuniu países do Brics para condenar o protecionismo, enquanto o Ministério do Comércio advertiu o México a “pensar duas vezes” antes de agir. Trump, por sua vez, pressiona aliados da Otan a impor tarifas de até 100% contra a China por apoiar a Rússia.

Autoridades chinesas defendem que o comércio do país é razoável e negam prática de dumping (venda de produtos abaixo do preço de custo).

— Quando há demanda externa, a China exporta — disse o vice-ministro das Finanças, Liao Min.

Para analistas da Bloomberg Economics, se Trump conseguir unir outros países contra a China, Pequim poderá retaliar com tarifas, correndo o risco de afastar parceiros no momento em que precisa de aliados.

Apesar da maré favorável, os exportadores não estão ficando mais ricos: os lucros industriais caíram 1,7% nos primeiros sete meses, já que fabricantes reduziram preços para vender no exterior, aprofundando a deflação doméstica.

A explosão de exportações chinesas também pode minar os esforços de Pequim de reequilibrar a economia via consumo interno, frustrando apelos de autoridades americanas.

Para Xi, no entanto, mostrar que a China não depende do consumidor dos EUA pode fortalecer sua posição antes da cúpula com Trump na Coreia do Sul. Ambos ainda negociam um possível acordo comercial, com trégua tarifária de 90 dias que mantém, por ora, a paz.

Ricardo Rosado de Holanda
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