O toque é um dos pilares da comunicação emocional entre humanos. Capaz de ativar a ocitocina – o chamado “hormônio do amor” –, um simples contato físico pode aliviar o estresse, acalmar a mente e até fortalecer os laços entre parceiros. Frente a tantos pontos positivos, os autores da pesquisa seguiram outra linha, e decidiram estudar as suas nocividades nas dinâmicas afetivas.
“A novidade em nosso trabalho não está apenas na identificação de usos problemáticos do toque: é na vinculação desses comportamentos ao tipo de pessoa que tende a usá-los com um parceiro romântico”, afirma Richard Mattson, da Universidade de Binghamton, em comunicado.
Quando o carinho domina
O estudo analisou a maneira como 526 estudantes universitários recebiam e respondiam ao toque físico.
Os participantes responderam questões sobre seu grau de conforto ao serem tocados, a frequência com que evitavam o toque por desconforto e, principalmente, como e quando utilizavam o toque com seus parceiros.
Os resultados revelaram padrões distintos entre homens e mulheres. Entre os homens, o uso do toque esteve mais associado à insegurança: aqueles ansiosos quanto ao status do relacionamento recorriam ao contato físico como forma de garantir atenção e reafirmar o vínculo.
Já os homens que evitam intimidade física frequentemente relataram desconforto ao serem tocados, independentemente de outros fatores.
No caso das mulheres, elas eram mais propensas a evitar o toque quando direcionado a elas, mas também a usá-lo como forma de manipulação, caso fossem pessoas com personalidades consideradas mais “obscuras”.
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Por personalidades “obscuras”, os autores do estudo apontaram para os participantes que usavam o toque de forma manipulativa, aqueles pertencentes à “tríade sombria”, composta por três traços de personalidade:
narcisismo (autoimagem inflada), maquiavelismo (manipulação intencional) e psicopatia (falta de empatia e impulsividade).
Pessoas com essas características tendem a buscar vantagens pessoais nas relações interpessoais, inclusive nas demonstrações de afeto.
Segundo Mattson, o problema do uso de toque em relacionamentos que envolvem pessoas dessa tríade é que apenas um lado sai ganhando: o que manipula. Normalmente, esses relacionamentos costumam ser curtos, com muitos deles sendo marcados pela violência.
Alerta: toque!
Os pesquisadores apontam que, em vez de funcionar como um termômetro de afeto e proximidade, o toque em certos contextos pode ser um indicador de desequilíbrio no relacionamento e até de abuso emocional. Com isso, o estudo também sugere que o toque pode ser usado como ferramenta clínica: identificar padrões de toque manipulativo pode ajudar psicólogos a propor intervenções precoces e acessíveis.
“Podemos alavancar o toque nesses cenários para desenvolver intervenções de linha de frente, especialmente para pessoas que não aprenderam a usá-lo de forma saudável e recíproca”, destacou Mattson em comunicado.
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Moral da história? Apesar da aparência semelhante entre gestos de carinho e ações de controle, a intenção por trás do toque faz toda a diferença.
Em relacionamentos marcados por personalidades antagonistas e pouco empáticas, o abraço que deveria acolher pode, na verdade, servir como uma forma de pressão.

