Decisão de Gilmar sobre impeachment pode travar agenda do governo no Congresso - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Ditadura 07/12/2025 08:59

Decisão de Gilmar sobre impeachment pode travar agenda do governo no Congresso

Decisão de Gilmar sobre impeachment pode travar agenda do governo no Congresso

decisão liminar do ministro Gilmar Mendes, que mudou as regras sobre pedidos de impeachment contra ministros do STF, abriu um novo foco de tensão entre os Poderes. Agora, apenas a PGR (Procuradoria-Geral da República) pode apresentar esse tipo de denúncia ao Senado.

A mudança foi recebida como um recado direto ao Congresso.

Especialistas ouvidos pelo R7 afirmam que a medida deve intensificar o embate entre Senado e STF e criar um cenário em que o governo pode tentar se manter distante da disputa para evitar desgaste. No entanto, o conflito poderia acabar respingando nas articulações do Executivo no encerramento do ano legislativo.

Desgaste entre poderes

Na decisão, Gilmar Mendes disse que os pedidos de impeachment passaram a ser usados com motivação política, o que criaria um “ambiente de intimidação” contra ministros da Corte.

O cientista político André César avalia que o movimento não foi isolado e reflete uma preocupação dentro do próprio Supremo.

“Há um receio real entre os ministros. A possibilidade de um Senado mais hostil colocar afastamentos na pauta sempre foi discutida internamente. A decisão do ministro Gilmar não é algo que se tira da cartola; é uma medida conversada e que já conta com maioria para ser validada no plenário”, avalia.

Para o analista, porém, o efeito imediato é de esgarçamento entre Legislativo e Judiciário. “Se já havia crise, agora uma nova frente foi aberta. O ambiente piora muito e a temperatura sobe em um momento em que isso não era esperado”, ressalta.

O Senado reagiu rapidamente. A articulação para votar ainda neste ano uma nova Lei do Impeachment ganhou força, com apoio do presidente da Casa, Davi Alcolumbre, e previsão de que o texto seja pautado na CCJ já na próxima semana.

Efeitos práticos

Para o advogado criminalista Fábio Souto, a decisão tem impacto imediato sobre pedidos já protocolados no Senado.

“Por se tratar de regra processual, a liminar estanca pedidos que não tenham sido apresentados pela PGR. A lei de 1950 permitia que qualquer cidadão denunciasse um ministro do STF, mas esse trecho foi retirado pela decisão e agora aguarda confirmação do plenário”, explica.

Se a liminar for confirmada, Souto avalia que a situação pode consolidar uma jurisprudência mais restritiva.

“O risco é que se fortaleça uma interpretação mais protetiva, num cenário em que já são raras as punições efetivas. A tendência é de um Judiciário ainda mais blindado institucionalmente”, observa.

Governo tenta ficar de fora

A movimentação ocorre num momento em que o Planalto não deseja abrir novas frentes de conflito. Segundo André César, o governo observa a disputa “de longe”, avaliando que ela pode desviar o foco do desgaste que atingiria o Executivo.

“O governo prefere deixar Legislativo e Judiciário se enfrentarem. Mas, por outro lado, essa briga pode atrapalhar os planos do Executivo no fim do ano, quando ainda há votações importantes e pouco tempo antes do recesso”, constata.

Para ele, a próxima semana será decisiva. “Se o conflito escalar, afetará a pauta econômica e administrativa do governo. Lula não quer ser envolvido, mas pode acabar sendo.”

Ricardo Rosado de Holanda
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