Empreendedorismo 10/12/2025 09:20
De engraxate no Brás ao bilionário que anda de metrô: como o rei dos dividendos Luiz Barsi Filho virou maior investidor pessoa física da Bolsa brasileira e fatura mais de R$ 1 milhão por dia

Nascido em 10 de março de 1939, em um cortiço do bairro do Brás, em São Paulo, Luiz Barsi Filho percorreu um caminho improvável até se tornar o maior investidor pessoa física da Bolsa brasileira.
Órfão de pai aos 1 ano de idade, criado pela mãe em uma vila operária apertada e depois em um cortiço com mais de 30 famílias, ele dividiu a infância entre a escola e o trabalho como engraxate na Avenida Rangel Pestana para ajudar nas despesas de casa.
Ao longo das décadas de 1960, 1970, 1980, 1990 e 2000, Barsi foi lapidando uma tese simples e radical: usar ações pagadoras de dividendos como uma espécie de previdência privada, reinvestindo tudo por anos até que a renda passiva superasse o salário.
Formado em Economia e Contabilidade em 1962, ele virou auditor, dono de corretora, colunista do Diário Popular, acumulou quase 3 milhões de ações da CESP, protagonizou operações marcantes em 1979, 2008 e 2012 e, hoje, aos 86 anos, colhe mais de R$ 1 milhão por dia em dividendos, mantendo o perfil de bilionário que ainda anda de metrô pela zona leste de São Paulo.

Luiz Barsi Filho veio ao mundo em 10 de março de 1939, no Brás, tradicional bairro operário de São Paulo. O pai morreu quando ele ainda tinha 1 ano, e a mãe, Maria Margarida Rui Santos Barsi, precisou recomeçar do zero.
Mãe e filho passaram por uma pequena casa em vila operária na rua Caetano Pinto até acabarem no fundo de um grande cortiço no Brás, um quintal com mais de 30 famílias dividindo espaço e dificuldades.
Maria Margarida trabalhou primeiro em uma fábrica de charutos e depois em uma bombonière de cinema. O dinheiro era curto, e o adolescente Barsi passou a ocupar cada minuto do dia.
Depois da aula, montava seu ponto como engraxate em um prédio da Avenida Rangel Pestana, também no Brás, lustrando sapatos de clientes para complementar a renda de casa. Mesmo assim, não abriu mão dos estudos, algo incomum para quem crescia em um cortiço nos anos 1940 e 1950.
Com 14 anos, conseguiu o primeiro emprego fixo como office boy em um laboratório de origem americana que prestava serviços para uma empresa que depois seria incorporada pela Unilever.
Aos 15, foi contratado por um escritório de contabilidade, o Della Torre, seu primeiro emprego com carteira assinada. Trabalhando durante o dia e estudando à noite, pagava do próprio bolso seus cursos e plantava as bases técnicas que mais tarde o ajudariam a ler balanços como poucos.
Depois do curso técnico, Barsi ingressou na Faculdade de Economia, Finanças e Administração de São Paulo, também no Brás. Em 1962, aos 23 anos, concluiu a graduação em Economia e Contabilidade em um cenário em que menos de 1% da população brasileira tinha ensino superior.
Em seguida, passou a dar aulas de contabilidade e atuar como auditor na empresa Rátio, analisando balanços e visitando pequenas e médias empresas.
Foi como auditor que ele começou a entender, na prática, como funcionavam as engrenagens das companhias. Em cada visita, observava os donos das empresas e notava algo que o intrigava: os empresários tinham uma renda mensal generosa, muitas vezes baseada em participação nos lucros. Essa constatação acendeu uma pergunta que mudaria a vida de Barsi: em vez de ser apenas funcionário, por que não se tornar sócio, ainda que em pequena escala, das empresas que davam lucro de verdade?
Daí nasceu a decisão que ele resume com simplicidade: entrar no universo dos investidores foi uma escolha consciente, não acidente.
Ele começou pequeno, comprando o que chamava de valores quase insignificantes, mas já guiado por uma ideia central: se o empresário enriquece com lucros recorrentes, o acionista que pensa no longo prazo também pode.
No final dos anos 1960, uma virada regulatória abriu novas portas. Em 1967, com a regulamentação do Conselho Monetário Nacional, foram criadas as sociedades corretoras e uma nova configuração para a bolsa de valores. Barsi e alguns parceiros compraram um título de corretora de valores.
Pouco tempo depois, o mercado evoluiu muito mais rápido do que eles imaginavam, e o grupo vendeu o título por um valor que Barsi descreve como astronômico.
Em 1971, no mesmo ano em que deixou de ser sócio da corretora, ele escreveu o primeiro artigo sobre mercado de ações no jornal Diário Popular.
Durante 17 anos, fechou a editoria de Economia todas as noites, analisando empresas e explicando o sobe e desce da Bolsa para o leitor comum. Nesse período, foi amadurecendo uma tese que se tornaria marca registrada da sua trajetória: a previdência baseada em ações pagadoras de dividendos.
Preocupado com o futuro da aposentadoria no Brasil, então gerida pelo INPS, Barsi mergulhou nos números do sistema.
Ele concluiu que o modelo dependia demais do equilíbrio entre contribuintes e aposentados e que, com famílias menores e maior expectativa de vida, o resultado era previsível: quem se aposentava como executivo corria o risco de terminar como indigente.
Inspirado pela experiência americana, em que muitos trabalhadores se aposentavam com base em carteiras de ações que pagavam dividendos, ele decidiu testar a hipótese no Brasil. Primeiro, estudou a multinacional de alimentos Anderson Clayton, projetando rendimentos por 30 anos.
Depois de conversar com o vice-presidente da empresa no Brasil e ouvir que a companhia poderia ser vendida, voltou seus olhos para um ativo nacional mais previsível: a CESP, Centrais Elétricas de São Paulo, conhecida por pagar dividendos regulares.
Com base nos números de 1974, refez o estudo e concluiu que, a partir do sexto ano, os próprios dividendos pagariam a compra de novas ações, transformando a carteira em uma espécie de previdência que se financiava sozinha.
O trabalho se materializou no artigo Ações garantem o futuro, no qual Barsi defendeu que investir em empresas sólidas, reinvestindo dividendos por décadas, era a forma mais segura de construir o próprio futuro financeiro.
Depois de publicar Ações garantem o futuro, Barsi decidiu seguir a tese ao pé da letra. Ao longo da década de 1970, passou a comprar ações de empresas que considerava perenes. Chegou a adquirir ações do Banco do Brasil por 60 centavos, papéis da Klabin por 14 centavos e acumulou quase 3 milhões de ações da CESP, o pilar da sua estratégia previdenciária.
Os resultados apareceram antes dos 40 anos. Em 1979, pouco antes de completar 40 anos de idade, os dividendos mensais já garantiam uma renda confortável, dando a Barsi a independência financeira que muitos só sonham em alcançar ao fim da vida.
O ex-engraxate do Brás havia se tornado, silenciosamente, um investidor capaz de viver apenas dos proventos da carteira.
A década de 1980 colocaria a tese à prova. O Brasil enfrentou inflação superior a 110% em 1980, chegando a beirar 200% nos anos seguintes, em meio a sucessivos planos econômicos fracassados. Enquanto boa parte da população via as economias derreterem, Barsi insistia em reinvestir dividendos, transformando cada crise em oportunidade para aumentar participação em empresas que julgava subavaliadas.
Quando as ações da CESP se valorizaram significativamente, ele decidiu vender parte da posição para diversificar. Entraram então novas apostas, como o Banco Noroeste, cujo controle seria vendido ao Santander anos depois.
A operação rendeu a Barsi um dos maiores ganhos individuais da carreira, mostrando que o método de reinvestir proventos podia gerar também grandes lucros de capital.
Houve erros. Os investimentos em instituições como Banco Nacional e Banco Econômico resultaram em prejuízo após as quebras nos anos 1990.
Mesmo assim, a estratégia se mostrou sólida: perdas pontuais eram absorvidas pelo peso dos dividendos acumulados e pelo foco absoluto no longo prazo.
Ao longo dos anos, Barsi consolidou a fama de rei dos dividendos e passou a ser chamado de Warren Buffett brasileiro. A lógica era semelhante à do investidor americano: comprar participações relevantes em empresas com negócios resilientes, pensando em décadas, não em meses.
Uma das operações mais emblemáticas de sua trajetória foi a construção de uma grande posição na Unipar. Com o tempo, o investimento cresceu até ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão aplicados em ações da companhia, transformando Barsi em um dos principais acionistas individuais da empresa.
Em 2008, ele protagonizou outro acerto histórico ao comprar ações do banco Nossa Caixa por cerca de R$ 14, apostando que a instituição paulista seria incorporada por um banco maior. Meses depois, o Banco do Brasil anunciou a compra por aproximadamente R$ 70 por ação, confirmando mais uma leitura certeira de mercado.
Nos anos seguintes, o foco permaneceu nos setores que sempre considerou perenes, em especial o setor elétrico. Em 2012, quando o governo Dilma Rousseff anunciou a renovação antecipada de concessões, o mercado entrou em pânico.
As ações da Eletrobras chegaram a cair mais de 70%, e muitos investidores correram para vender. Barsi enxergou o oposto: viu uma liquidação e ampliou posição, a ponto de brincar que tinha vontade de dar um beijo na boca da presidenta, tamanha a oportunidade que, na visão dele, se abria para quem pensava no longo prazo.
Ao defender sua forma de investir, Barsi costuma explicar: não tem como montar uma Petrobras, uma Eletrobras, uma Klabin ou uma Suzano, mas pode se tornar sócio dessas empresas em menor escala. A ideia de associar-se a bons negócios que pagam dividendos regulares é o eixo de tudo.
Hoje, aos 86 anos, Luiz Barsi continua fazendo basicamente o que já fazia na década de 1970: comprar ações, reinvestir dividendos e manter a mesma filosofia previdenciária. Seu patrimônio é estimado em cerca de R$ 4 bilhões, todo ele investido na bolsa de valores. Apenas em dividendos, a carteira rende mais de R$ 1 milhão por dia, consolidando a imagem de lenda viva do mercado acionário brasileiro e de maior investidor pessoa física da Bolsa.
Ao contrário de muitos bilionários que estruturaram holdings, offshores e fundos sofisticados, Barsi mantém os investimentos no próprio nome, como pessoa física, exatamente como sempre fez. Ele próprio costuma dizer que não gosta de comprar e vender com frequência, porque sua prioridade é acumular ações para aumentar a receita mensal de dividendos, não para ganhar com especulação de curto prazo.
Fiel a essa visão, sempre demonstrou pouca simpatia por renda fixa, que chama de “perda fixa”, e não se seduziu por fundos imobiliários. A aposta é persistente: ser sócio de boas empresas, com paciência e disciplina, deixando o tempo trabalhar a favor do investidor.
Apesar da fortuna bilionária, o estilo de vida continua simples. Barsi mora na zona leste de São Paulo, usa transporte público e é visto com frequência andando de metrô, reforçando a imagem do bilionário que não precisa ostentar para provar nada a ninguém. Para ele, investimento não é corrida de velocidade, mas maratona de décadas, baseada em constância, reinvestimento e entendimento profundo do que faz uma empresa prosperar.
Deu em CPG
Descrição Jornalista
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