Como a Alemanha passou de exemplo na pandemia a um dos países mais golpeados pela covid-19 na Europa - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Saúde 18/12/2020 08:08

Como a Alemanha passou de exemplo na pandemia a um dos países mais golpeados pela covid-19 na Europa

Mistura de medidas muito brandas, demora em reagir e falsa sensação de segurança abalou o modelo de prevenção implantado por Governos locais, mesmo sob apelo de Merkel

Como a Alemanha passou de exemplo na pandemia a um dos países mais golpeados pela covid-19 na Europa

Quase 1.000 mortos em 24 horas. Em questão de poucos dias, a Alemanha deixou de ser o aluno exemplar para se tornar um dos países mais golpeados pela covid-19 na Europa.

Essa cifra de mortos é a espuma que emerge apenas ao final de uma pandemia de digestão lenta, em que o drama é gestado semanas antes em lojas, asilos e lares. A Alemanha enfrenta um pesadelo antes de um Natal que poucos esperavam.

A partir desta quarta-feira, dia 16, o país se fechou a sete chaves. Lojas, escolas, bares, restaurantes, atrações culturais —tudo parado.

Os efeitos desse fechamento levarão algumas semanas para aparecer. Enquanto isso, uma pergunta surge com força: o que deu errado?

 

Após se sair relativamente bem na primeira onda e de conter a segunda até poucas semanas atrás, o vírus volta agora a crescer de forma exponencial na Alemanha: 27.728 contágios em um dia, 952 mortos.

São cifras inéditas num país que, na primeira onda, alcançou um pico de 6.000 contágios diários.

Desde o início da epidemia, a Alemanha soma 23.427 mortos entre seus 83 milhões de habitantes, o que continua sendo um balanço melhor que alguns dos países dos arredores, mas a virulência dos contágios nos últimos dias causou preocupação e forçou à paralisação das atividades.

Com 341 casos por 100.000 habitantes em 14 dias, a incidência no país é maior que na França (236) e Espanha (218, segundo o Centro Europeu para o Controle de Enfermidades), similar à do Reino Unido (348), mas inferior à da Itália (428).

Não existem causas conclusivas que expliquem esta nova propagação, como reconhece o Instituto Robert Koch (RKI).

Obedece mais a uma soma de fatores, alguns deles até certo ponto intangíveis. Por um lado, existe o consenso de que há mais de um mês, quando começou o crescimento exponencial, já era necessário paralisar a vida pública, como só se fez agora.

Mas, naquele momento, alguns Estados alemães relutaram e impediram o consenso federal.

A coreografia se repetia. A chanceler Angela Merkel pedia medidas mais firmes, e alguns Länder se opunham. No sistema alemão, cabe aos Estados determinar e aplicar as medidas, que foram diferentes e em pouco contribuíram para esclarecer os cidadãos.

Mas, independentemente de medidas concretas, o fato é que durante um tempo se estimulou uma falsa sensação de segurança, especialmente em algumas regiões do país. Isso foi bastante notável na antiga Alemanha Oriental, onde a primeira onda passou praticamente ao largo, mas agora está sendo fortemente afetada.

A Saxônia tem uma incidência de 400 casos por 100.000 habitantes num período de sete dias. Logo atrás vem a Turíngia, também no leste, com 255.

Se durante o fechamento inicial, no primeiro semestre, os contatos se reduziram em 60%, desta vez caíram apenas 40%.

Deu em El Pais

Ricardo Rosado de Holanda
Ricardo Rosado de Holanda


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