Adeus, cimento? Invenção australiana cria paredes firmes com papelão descartado - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Construção Civil 01/12/2025 15:35

Adeus, cimento? Invenção australiana cria paredes firmes com papelão descartado

Adeus, cimento? Invenção australiana cria paredes firmes com papelão descartado

Poucas novidades chamam tanta atenção no setor da construção quanto um material capaz de reduzir custos e derrubar emissões sem sacrificar desempenho. Pesquisadores da Universidade RMIT, em Melbourne, Austrália, avançaram exatamente nessa direção.

Os cientistas desenvolveram uma alternativa criada só com solo, água e papelão reciclado. O resultado promete substituir o cimento em edificações menores, mantendo estabilidade e diminuindo drasticamente o impacto ambiental.

A proposta surge em um momento estratégico, quando a cadeia global de obras movimenta cerca de US$ 500 bilhões e busca soluções que equilibrem preço e eficiência.

A dependência do cimento, responsável por quase 8% das emissões anuais de CO₂ segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, já não se mostra sustentável. Por isso, tecnologias limpas ganham força e atraem interesse de empresas e pesquisadores.

Mais do que um experimento acadêmico, o material da RMIT abre espaço para uma nova lógica de construção, apoiada em insumos abundantes e de baixo custo. O avanço combina viabilidade, resistência e benefícios climáticos, criando uma alternativa que pode transformar práticas tradicionais..

Como funciona o material

A equipe batizou o sistema de terra compactada confinada em papelão (CCRE, na sigla em inglês), ao combinar solo compactado com tubos descartados de papelão para erguer um sistema de parede simples e robusto.

Além de prático, exibe pegada de carbono quatro vezes menor que a do concreto. Também custa menos de um terço para produzir.

Os tubos atuam como revestimento estrutural, evitando fissuras e suportando cargas verticais sem recorrer ao cimento. Ademais, a composição permanece minimalista: solo, água e um tubo de papelão. O conjunto recicla e reutiliza integralmente os elementos, reduzindo ou até eliminando resíduos de obra.

Processo de fabricação

Imagem: ScienceDirect / RMIT University

Os pesquisadores produzem o CCRE no próprio canteiro, compactando solo e água em moldes de papelão reciclado. O processo aceita trabalho manual ou equipamentos de baixa potência, sem fábricas centralizadas ou transporte pesado.

Em seguida, cilindros com dispositivos de fixação e filme de polietileno secam por 28 dias em estrutura oca.

Impacto ambiental e cadeia de suprimentos

Na Austrália, mais de 2,2 milhões de toneladas de papel e papelão seguem para aterros a cada ano. Redirecionar parte desse fluxo para obras reduziria emissões e custos. Além disso, a matéria-prima local corta deslocamentos e simplifica a cadeia de suprimentos.

Como resumiu o professor emérito Yi Min ‘Mike’ Xie, citado pelo ScienceDaily:

“Em vez de transportar toneladas de tijolos, aço e concreto, os construtores precisariam apenas trazer papelão leve, já que quase todo o material pode ser obtido no local”.

Essa lógica favorece regiões remotas com infraestrutura precária e dialoga com a construção localizada e de baixo carbono. Consequentemente, atende países em crise habitacional sob mudanças climáticas, onde insumos intensivos em energia tornam-se inviáveis.

Desempenho estrutural e térmico

A espessura dos tubos de papelão define a resistência, e a equipe já modelou essa variável. Portanto, o sistema oferece modularidade para adequar obras a requisitos distintos.

Em aplicações de alto desempenho, testes com fibra de carbono elevaram os níveis de resistência a patamares comparáveis aos do concreto avançado.

Em climas quentes, a compactada destaca-se pela alta massa térmica, que regula temperatura e umidade internas. Métodos modernos, porém, costumam adicionar cimento e perder vantagens.

Práticas de taipa de pilão existem há milhares de anos, comprimindo solo úmido em formas sólidas. Contudo, o CCRE reinterpreta essa tradição ao manter a resistência sem cimento por meio do confinamento cilíndrico. Assim, ele evita rachaduras e suporta cargas verticais com baixo impacto.

Deu em Capitalist
Ricardo Rosado de Holanda
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