A relação entre a “barriga de cerveja” e problemas no coração, segundo este estudo - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Saúde 02/12/2025 13:14

A relação entre a “barriga de cerveja” e problemas no coração, segundo este estudo

A relação entre a “barriga de cerveja” e problemas no coração, segundo este estudo

A chamada “barriga de cerveja” não é apenas um detalhe estético, mas pode ser um indicador para outros problemas de saúde. É o que indica um novo estudo apresentado na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA).

Esse acúmulo de gordura abdominal pode estar associado a mudanças estruturais perigosas no coração, mais severas até do que aquelas relacionadas ao peso corporal total. E, de acordo com pesquisadores do Centro Médico Universitário de Hamburgo-Eppendorf, na Alemanha, os homens são mais afetados com o problema.

A equipe analisou imagens de ressonância magnética cardiovascular de 2.244 adultos entre 46 e 78 anos, todos sem histórico de doença cardíaca.

Os pesquisadores compararam dois indicadores: o índice de massa corporal (IMC), que mede a obesidade geral, e a relação cintura-quadril (RCQ), parâmetro que identifica a obesidade abdominal, mais associada ao acúmulo de gordura visceral, aquela armazenada profundamente ao redor dos órgãos internos.

Os resultados chamaram atenção. Embora o IMC elevado esteja ligado ao aumento do tamanho das câmaras cardíacas, a obesidade abdominal mostrou um efeito mais preocupante.

Adultos com RCQ elevada apresentaram espessamento do músculo cardíaco e redução dos volumes internos das câmaras do coração, um padrão chamado hipertrofia concêntrica.

Nessa condição, o coração não cresce por fora, mas suas cavidades diminuem, comprometendo a capacidade de bombear sangue de maneira eficiente. Segundo os autores, esse tipo de remodelação pode evoluir silenciosamente até resultar em insuficiência cardíaca.

As alterações foram mais marcantes nos homens, especialmente no ventrículo direito, responsável por enviar o sangue aos pulmões. Para os pesquisadores, isso pode estar relacionado ao impacto da gordura abdominal sobre a respiração e a pressão pulmonar, aumentando o estresse cardíaco.

“Maior relação cintura-quadril (RCQ) se associa a maior massa do ventrículo esquerdo (VE) e menores volumes. O efeito nos volumes do ventrículo direito (VD) é mais fraco em mulheres. Índice de massa corporal (IMC) mais alto também se relaciona à dilatação ventricular e maior massa do VE, com relação mais fraca em mulheres — Foto: Jennifer Erley, médica, e RSNA
“Maior relação cintura-quadril (RCQ) se associa a maior massa do ventrículo esquerdo (VE) e menores volumes. O efeito nos volumes do ventrículo direito (VD) é mais fraco em mulheres. Índice de massa corporal (IMC) mais alto também se relaciona à dilatação ventricular e maior massa do VE, com relação mais fraca em mulheres — Foto: Jennifer Erley, médica, e RSNA

O estudo também identificou mudanças sutis no tecido cardíaco masculino, perceptíveis apenas com técnicas avançadas de ressonância magnética. Mesmo fatores de risco tradicionais, como hipertensão, tabagismo, diabetes e colesterol alto, não explicaram completamente os resultados, reforçando a influência direta da gordura visceral.

“As diferenças específicas de sexo sugerem que os pacientes do sexo masculino podem ser mais vulneráveis aos efeitos estruturais da obesidade no coração, uma descoberta não amplamente relatada em estudos anteriores”, disse Jennifer Erley, residente de radiologia no Centro Médico Universitário de Hamburgo-Eppendorf, na Alemanha, em comunicado.

Para identificar o risco em casa, os pesquisadores lembram que basta uma fita métrica. A RCQ é calculada dividindo a medida da cintura (no ponto mais estreito) pela medida do quadril (no ponto mais largo). Valores acima de 0,90 para homens e 0,85 para mulheres indicam obesidade abdominal segundo a Organização Mundial da Saúde.

“Em vez de se concentrarem na redução do peso total, os adultos de meia-idade devem se concentrar na prevenção do acúmulo de gordura abdominal por meio de exercícios regulares, uma dieta equilibrada e intervenção médica oportuna, se necessário”, orienta Erley.

Os autores também pedem que radiologistas e cardiologistas incluam a obesidade abdominal em suas avaliações de rotina. Segundo a equipe, padrões de remodelamento cardíaco frequentemente atribuídos a outras doenças podem, na verdade, estar ligados diretamente ao excesso de gordura visceral.

Deu em Galileu

Ricardo Rosado de Holanda
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