Nova ofensiva na Argentina derruba 22 apps de streaming pirata usados no Brasil, como BTV, Blue TV e Red Play, e deixa 2 milhões de assinantes sem acesso de repente - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Cinema e TV 02/12/2025 10:07

Nova ofensiva na Argentina derruba 22 apps de streaming pirata usados no Brasil, como BTV, Blue TV e Red Play, e deixa 2 milhões de assinantes sem acesso de repente

Nova ofensiva na Argentina derruba 22 apps de streaming pirata usados no Brasil, como BTV, Blue TV e Red Play, e deixa 2 milhões de assinantes sem acesso de repente

Liderada pela Justiça argentina, a nova ofensiva contra apps de streaming pirata derruba 22 plataformas ligadas a TV boxes usadas no Brasil, corta o acesso de mais de 2 milhões de assinantes e reacende o debate sobre pirataria, prejuízo bilionário e proteção ao consumidor brasileiro em serviços digitais ilegais online.

Conforme o G1, os apps de streaming pirata voltam ao centro da disputa entre autoridades, indústria de conteúdo e usuários que buscavam pagar menos para assistir filmes, séries e esportes ao vivo.

A derrubada coordenada na Argentina atinge diretamente consumidores brasileiros, expõe a fragilidade desse mercado paralelo e reforça o alerta de que, em caso de bloqueio, não há garantia de serviço nem de reembolso.

Justiça argentina derruba 22 plataformas e atinge usuários no Brasil

A nova decisão da Justiça da Argentina desativou 22 apps de streaming pirata em uma única tacada.

Serviços como BTV, Red Play e Blue TV, populares entre usuários de TV boxes no Brasil, saíram do ar de forma repentina, deixando assinantes diante de telas de erro e canais fora do ar.

Segundo a associação Alianza, que reúne empresas de combate à pirataria audiovisual na América Latina, mais de 2 milhões de usuários pagavam para acessar essas plataformas ilegais.

Os apps de streaming pirata operavam principalmente em TV boxes e aparelhos de IPTV, que permitem transformar qualquer televisor em uma espécie de central de streaming.

Os 22 serviços atingidos na decisão são: ALA TV, Blue TV, Boto TV, Break TV, BTV App, BTV Live, Duna TV, Football Zone, Hot, Mega TV, MIX, Nossa TV, ONPix, PLUSTV, Pulse TV, Red Box, RedPlay Live, Super TV Premium, Venga TV, Waka TV, WEIV e WeivTV – Nova.

Em muitos casos, os usuários só perceberam o tamanho da operação quando passaram a ver mensagens de erro, como o código 503 exibido pelo aplicativo BTV, indicando falha de processamento no servidor.

Como funcionavam os apps de streaming pirata derrubados

Na prática, os apps de streaming pirata vendiam acesso a canais de TV fechada, filmes, séries e transmissões esportivas protegidos por direitos autorais, usando servidores fora do país e rotas técnicas para tentar driblar bloqueios.

O uso era concentrado em TV boxes e caixinhas de IPTV, dispositivos que, em si, são permitidos no Brasil, desde que certificados pela Anatel.

Essas plataformas ofereciam pacotes com centenas de canais, conteúdos sob demanda e eventos esportivos ao vivo por valores muito inferiores aos cobrados por serviços oficiais.

A combinação de preço baixo, acesso facilitado e suporte via grupos de mensagem ajudou a espalhar os apps de streaming pirata entre consumidores que buscavam economizar, mesmo sabendo que o conteúdo era irregular.

Segundo a Alianza, os clientes pagavam entre 3 e 5 dólares por mês, algo em torno de 16 a 27 reais, para manter a assinatura ativa.

O modelo de negócio somava milhões de assinantes espalhados pela América Latina, com uma parte relevante desse público concentrada no Brasil.

A decisão argentina mira justamente o núcleo operacional responsável por difundir esses sinais ilegais para a região.

Reclamações, direitos do consumidor e limites da proteção

Com os apps de streaming pirata fora do ar, muitos assinantes recorreram a plataformas de reclamação para cobrar explicações de supostos “provedores” e vendedores de pacotes de IPTV.

Multiplicaram-se queixas de usuários que pagaram por planos mensais ou anuais e, da noite para o dia, ficaram sem acesso e sem suporte.

Órgãos de defesa do consumidor, porém, têm sido claros: quem compra serviços ilegais abre mão, na prática, de boa parte da proteção garantida em produtos regulares.

O Procon de São Paulo já havia alertado que o consumidor “abdica de seus direitos” ao adquirir conscientemente um serviço irregular, sobretudo quando a empresa nem sequer existe formalmente ou não está regularizada.

Essa lógica se reflete na situação atual. Muitos intermediários que vendiam acesso a apps de streaming pirata operam sem CNPJ, sem endereço físico e sem contratos transparentes.

Na hora do colapso, o assinante que se sentia “cliente” descobre que, juridicamente, tem pouco ou nenhum amparo.

Não há obrigação legal de continuidade de um serviço que jamais poderia existir dentro das regras de mercado.

Papel da Anatel e risco de TV boxes não certificadas

Embora a Anatel não tenha participado diretamente da operação na Argentina, a agência já vinha alertando sobre o uso de TV boxes e aparelhos de IPTV não certificados.

A recomendação oficial é clara: comprar apenas equipamentos homologados, que sigam padrões de segurança, não abram brechas para invasões e não venham “travados” a serviços ilegais pré-instalados.

Na prática, boa parte dos usuários de apps de streaming pirata é atraída por TV boxes vendidas com listas prontas de canais e aplicativos já configurados.

Além de pirataria, isso costuma envolver riscos adicionais, como malware, invasão de rede doméstica e uso indevido de dados pessoais, já que esses aparelhos podem ser modificados para coletar informações do usuário.

A ofensiva contra apps de streaming pirata também funciona como recado indireto a esse mercado paralelo de hardware.

Quando o aplicativo cai, a caixinha perde parte do apelo.

E, sem a certificação da Anatel, o consumidor fica exposto a um aparelho que não é reconhecido, não tem assistência oficial e pode ser visto como parte de uma cadeia ilícita.

Operação 404 e o cerco à pirataria digital no Brasil

Enquanto a Justiça argentina mira a base de operação de determinados apps de streaming pirata, o Brasil segue com iniciativas próprias contra a pirataria digital.

Na última semana de novembro, uma nova fase da Operação 404, coordenada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, bloqueou 535 sites e 1 aplicativo de streaming com conteúdo pirata.

Essa ação não está ligada diretamente à decisão da Argentina, mas reforça que o cerco é internacional e contínuo.

A mesma Alianza que denunciou o esquema às autoridades argentinas já havia colaborado com investigações no Brasil, apontando a rota de distribuição de sinais ilegais, o uso de servidores no exterior e o papel de empresas que se apresentam como negócios legítimos, mas funcionam como centrais da pirataria.

Na primeira fase das medidas na Argentina, 14 serviços já tinham sido derrubados, incluindo nomes como My Family Cinema, TV Express, Eppi Cinema, Vela Cinema, Cinefly, Vexel Cinema, Humo Cinema, Yoom Cinema, Bex TV, Jovi TV, Lumo TV, Nava TV, Samba TV e Ritmo TV.

Somados, esses apps de streaming pirata tinham cerca de 6,2 milhões de assinantes ativos, sendo 4,6 milhões no Brasil, com faturamento anual estimado entre 150 e 200 milhões de dólares, algo em torno de 800 milhões a 1 bilhão de reais.

Dinheiro, investigação e a rota global dos apps de streaming pirata

A derrubada dos 22 novos serviços é resultado de uma investigação que começou ainda em 2024.

A Alianza apresentou denúncia ao departamento de crimes cibernéticos do Ministério Público Fiscal de Buenos Aires, que abriu um inquérito formal para rastrear a estrutura por trás dos apps de streaming pirata.

Em agosto de 2025, a Justiça argentina autorizou buscas em quatro escritórios de empresas que, na fachada, pareciam negócios comuns de tecnologia e comunicação, mas que funcionavam como centros operacionais da pirataria.

Nesses endereços, ficavam concentradas as áreas de marketing, vendas e suporte. A parte crítica do esquema, porém, estava fora do país.

As autoridades descobriram que a infraestrutura técnica estava hospedada na China, onde ficavam servidores e sistemas responsáveis pela distribuição do sinal e gerenciamento dos aplicativos.

Essa fragmentação é típica da economia clandestina de streaming ilegal, que combina empresas de fachada, servidores em múltiplos países, intermediários locais e revendedores autônomos espalhados por aplicativos de mensagem.

O resultado dessa teia é um negócio altamente lucrativo, mas extremamente volátil.

Quando uma decisão judicial corta o acesso ao coração dos apps de streaming pirata, toda a cadeia desaba de uma vez, deixando usuários sem serviço, revendedores sem produto e autoridades tentando acompanhar a próxima movimentação dos grupos envolvidos.

Deu em CPG

Ricardo Rosado de Holanda
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista