Diagnósticos de câncer crescem quase 300% entre jovens adultos no Brasil - Fatorrrh - Ricardo Rosado de Holanda
FatorRRHFatorRRH — por Ricardo Rosado

Saúde 13/10/2025 09:03

Diagnósticos de câncer crescem quase 300% entre jovens adultos no Brasil

Diagnósticos de câncer crescem quase 300% entre jovens adultos no Brasil

O número de jovens adultos com câncer no  aumentou 284% entre 2013 e 2024, segundo dados do Sistema Único de  (SUS).

Os registros nessa faixa etária — de 18 a 50 anos — saltaram de 45,5 mil para 174,9 mil casos, revelando uma mudança preocupante no perfil da doença, que antes era mais associada ao envelhecimento.

Os tumores de mama, colorretal e fígado são os mais incidentes, com destaque para o câncer de mama, que registra mais de 22 mil novos casos anuais em mulheres de até 50 anos — um aumento de 45% no período.

Cerca de 75% dos pacientes com câncer no país dependem do SUS, mas especialistas alertam que o número real pode ser ainda maior, já que a rede privada, responsável por 25% da população, não tem dados consolidados. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou que não é possível mensurar a incidência de câncer no setor privado devido à ausência de notificações compulsórias desde 2010.

 também não possui estatísticas completas, apenas projeções trienais.

Estilo de vida moderno e fatores de risco explicam avanço

câncer colorretal teve um aumento de 160% entre 2013 e 2024, passando de 1.947 para 5.064 diagnósticos. O oncologista Samuel Aguiar, do A.C.Camargo Cancer Center, explica que é uma “doença de estilo de vida”:

“Só 5% dos casos são hereditários; mais de 90% têm relação com alimentação, sedentarismo e obesidade.”

Ele ressalta que o consumo de alimentos ultraprocessados, a falta de atividade física e o estresse crônico têm contribuído para o aumento da incidência em pessoas mais jovens.

obesidade é apontada como fator agravante, pois provoca inflamações crônicas que podem favorecer mutações genéticas. Além disso, exames de rastreamento precoce, como a colonoscopia, raramente são realizados antes dos 50 anos — o que atrasa o diagnóstico.

Entre os sintomas de alerta estão:

  • perda de peso sem causa aparente;
  • sangue nas fezes ou urina;
  • nódulos persistentes;
  • alterações no hábito intestinal;
  • cansaço extremo e sangramentos anormais.

Falta de rastreamento e desigualdade no acesso

A médica nuclear Sumara Abdo, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), destaca que os protocolos de rastreamento ainda priorizam pessoas acima dos 50 anos, mesmo com evidências de crescimento da doença entre jovens.

“Precisamos parar de associar o câncer a idosos. O corpo fala, e o diagnóstico precoce salva. No Inca, vemos mulheres de 30 anos com tumores agressivos e sem histórico familiar”, afirmou.

A especialista defende programas ampliados de prevenção e monitoramento para grupos de risco, levando em conta fatores como histórico familiar, obesidade e sintomas persistentes.

Entre as recomendações para reduzir o risco estão:

  • adotar dieta rica em fibras, frutas e vegetais;
  • evitar ultraprocessados, álcool e tabaco;
  • manter atividade física regular;
  • realizar exames de rotina conforme orientação médica.

Diagnóstico tardio e limitações do SUS

A oncologista Isabella Drummond aponta que, mesmo com avanços como a expansão da mamografia a partir dos 40 anos no SUS, o sistema ainda não está preparado para lidar com o novo perfil etário da doença.

“A demora entre o diagnóstico e o início do tratamento segue um desafio. Muitos pacientes não começam dentro dos 60 dias previstos por lei”, destacou.

Ela lembra que terapias modernas e testes genéticos — fundamentais para personalizar tratamentos — ainda são quase exclusivos da rede privada, o que acentua a desigualdade no enfrentamento do câncer no país.

Deu em ContraFatos
Ricardo Rosado de Holanda
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