O bairro histórico da Ribeira, em Natal, recebeu neste sábado (13) uma ação conjunta para identificar e registrar fachadas com risco de desabamento.
E não são poucos em situação preocupante.
De acordo com a Defesa Civil municipal, 67 já estão interditados mediante monitoramento contínuo que a pasta realiza.
Há casos em que a interdição já dura uma década.
Diante disso, o chamado Mutirão de Avaliação Estrutural, coordenado pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Norte (Crea-RN), reacendeu a necessidade de medidas para evitar acidentes.
Segundo o presidente do Crea-RN, Roberto Wagner, a ação também destaca a importância da conservação do bairro.
“Engenheiros e especialistas estão fazendo avaliação e registro para que a gente tenha, de fato, um mapeamento das fachadas que estão em risco de colapsar. É uma oportunidade de trazer o tema da Ribeira para a sociedade natalense e mostrar que o bairro pode ser devidamente habitado e contribuir para a economia da cidade”, afirmou.
Wagner detalhou que foram encontradas fachadas com ferragens expostas e até inclinações que indicam risco iminente.
“Ao primeiro momento, a gente vai identificar e a Prefeitura vai demarcar as áreas para evitar circulação e acidentes. Os proprietários serão acionados, porque a responsabilidade de conservação é deles. Em cerca de três meses, teremos um relatório consolidado, processado com uso de inteligência artificial, para apoiar as futuras ações de fiscalização e interdição”, completou.
A força-tarefa contou ainda com a participação da Defesa Civil, Instituto Brasileiro de Perícias e Avaliações de Imóveis (IBAPE-RN), Associação Norte-rio-grandense de Engenheiros Civis (ANEC), além de professores e alunos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Essa vistoria também é uma resposta às ocorrências recentes de desabamento na capital potiguar, como o registrado em março deste ano, na Rua Frei Miguelinho, quando um casarão desabou, deixando de pé apenas a fachada e destruindo o prédio vizinho, onde funcionava um almoxarifado.
Não houve feridos, mas o caso trouxe à tona o péssimo estado de conservação dos imóveis históricos da região.
A diretora da Defesa Civil de Natal, Paloma Evangelista, destacou que o problema é acompanhado há anos e que o município possui um monitoramento ativo da região.
“A Ribeira já é monitorada pela Defesa Civil há muito tempo. Nós temos uma lista de 67 imóveis já interditados, todos no sistema da prefeitura”, afirmou. Porém a maioria desses prédios é de propriedade particular.
“O proprietário precisa fazer o reparo, respeitando as leis do Iphan, por se tratar de um patrimônio histórico. Mas a maioria está em espólio, são prédios do século passado. Então existe toda uma tratativa municipal e federal para que esse reparo seja feito. Muitos já estão judicializados e o Ministério Público acompanha esses processos”, explicou.
Durante o mutirão, foi utilizado o aplicativo Janela Urbana, ferramenta desenvolvida pelo Crea-RN que coleta dados georreferenciados e registros fotográficos.
O banco de dados criado será entregue à Prefeitura de Natal para subsidiar o trabalho da Defesa Civil e integrar o projeto “Revitalização da Ribeira”.
A representante do IBAPE-RN (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia), Elba Roberta, reforçou que o levantamento classificará o grau de risco de cada edificação para priorizar intervenções.
“Encontramos muitas estruturas com armaduras expostas, infiltrações e até vegetação crescendo nas paredes, o que é um sinal de fragilidade. Em casos mais graves, será solicitado o isolamento imediato da área para evitar acidentes”, disse ela.
O mapeamento das fachadas é considerado pelos órgãos participantes como passo fundamental para garantir a preservação do bairro e evitar novos desabamentos. Para o diretor da Associação Norte Rio Grandense de Engenheiros Civis (ANEC), Emerson Cruz, a iniciativa é crucial para garantir a segurança da população.
“Estamos identificando as edificações que precisam de intervenção imediata, para que os órgãos competentes notifiquem os responsáveis e as adequações sejam feitas. A prefeitura faz sua parte notificando, mas os processos muitas vezes são lentos. Por isso essa ação conjunta é tão importante”, afirmou.