A taxação do Governo dos Estados Unidos ao Brasil pode gerar um prejuízo anual de quase R$ 280 milhões para o setor da pesca de atum no Rio Grande do Norte, um dos principais exportadores do pescado para o país norte-americano.
A informação é do presidente do Sindicato da Indústria da Pesca no RN (Sindipesca), Arimar França, que explica que os Estados Unidos recebem praticamente toda a produção potiguar.
Nesta terça-feira (15), o Governo do Rio Grande do Norte e diversas entidades do setor produtivo farão uma reunião para discutir medidas preventivas ao aumento de tarifas do país norte-americano.
Segundo informações do Sindipesca, o Rio Grande do Norte exporta cerca de 80% da produção para os Estados Unidos, representando cerca de US$ 50 milhões por ano, o equivalente a R$ 278 milhões na cotação atual.
São pelo menos 4 mil toneladas de pescado, tanto peixes frescos quanto congelados. Em relação a esta última modalidade, os envios de cargas já estão sendo paralisados, uma vez que a viagem para o país norte-americano pode durar 15 dias e, caso se concretize a taxação, o pescado poderá chegar nos EUA já sob os efeitos da nova tarifa.
“Já não estamos exportando nada congelado, porque pode chegar lá já em agosto e pegar já essa taxação, com o comprador não querendo pagar. Vai ser muito complicado para o Rio Grande do Norte se essa tarifa continuar. Em relação ao pescado fresco, dá para enviar, uma vez que ele vai de avião e são 48h [de viagem]”, explica.
Ainda de acordo com Arimar França Filho, caso a taxação continue as embarcações potiguares não deixarão a costa. Outro impeditivo é que o mercado brasileiro não tem condições de absorver o pescado, tanto em razão da quantidade, quanto do preço.
“Como desde 2018 não podemos exportar para a Europa, estamos muito preocupados e estamos esperando uma resolução. Vamos participar de reunião com a Fiern e CNI e saber quais serão as próximas etapas para a gente. Caso não haja uma mudança na intenção e ocorra a taxação, vamos ter que parar toda a frota porque, economicamente, ficará inviável”, disse Arimar França.
De acordo com dados do Observatório da Indústria Mais RN, entre janeiro e junho de 2025 foram exportados mais de US$ 11,5 milhões em peixes frescos ou refrigerados do RN para os Estados Unidos.
O produto está entre as cinco principais exportações da indústria potiguar para o país, além de óleos de petróleo (US$ 24, 3 milhões) e produtos de origem animal (US$ 10,3 milhões), que ocupam a primeira e terceira colocação, respectivamente. A pesca oceânica de atum no Estado gera cerca de 1 mil empregos diretos e 4 mil indiretos, segundo dados do Sindipesca-RN.
“Os barcos estão chegando e vamos correr para descarregar, pegar esse embarque no mês de julho ainda. Agosto é totalmente incerto. Se não sair nenhuma mudança, todos os barcos – pelo menos os nossos – não vamos colocar no mar, porque essa notícia nos deixou sem chão. Foi um impacto gigante. Nossos insumos são caros, o abastecimento de uma embarcação dessa é elevado e nosso insumo maior, a lula, é comprada em dólar. Na hora que tem uma taxação nessa proporção o mercado interno não consegue abarcar nosso produto pelo volume e o valor de venda; não conseguiríamos nem compor as despesas”, explica o diretor da Martuna Pescados, empresa de pesca com dois navios no RN, Marcelo Martini.
“O RN é um dos grandes exportadores de atum e o mercado norte-americano é muito comprador desse pescado. Infelizmente essa taxação pode tornar o atum sem competitividade do ponto de vista do preço, não só do RN mas como de Santa Catarina, do Ceará”, cita.
Até 21 mil empregos afetados
O presidente da FIERN, Roberto Serquiz, alerta que a medida adotada pelos Estados Unidos pode trazer consequências significativas para setores estratégicos da economia potiguar.
Além de pressionar a inflação, o cenário atinge diretamente o mercado e o ambiente de investimentos no estado, podendo afetar até 21 mil empregos no RN, segundo o Observatório da Indústria MAIS RN.
A indústria salineira, por exemplo exporta cerca de 40 mil toneladas por mês para os EUA e emprega aproximadamente 4,5 mil pessoas no RN. Já a fruticultura, outro setor fortemente impactado, é responsável por cerca de 9 mil empregos no estado.
Setores como a indústria da pesca, que tem 100% da produção voltada para exportação, estão mais expostos ao risco. A fruticultura e o sal também sentem fortemente os efeitos. “Uma vez que esse problema perdure, teremos um risco de inflação, de desemprego, aumento de juros, o que interfere no investimento. Isso mexe na economia e é isso que estamos, preventivamente, buscando trabalhar”, afirma Serquiz.
“A nossa missão é reunir informações, conversar com cada setor e formular saídas e soluções que minimizem os impactos, caso a situação não seja revertida”, conclui o presidente.

Governo convoca reunião
O Governo do Rio Grande do Norte convocou representantes dos setores produtivos do Estado para uma reunião nesta terça-feira (15), a partir das 16h, com o objetivo de discutir as implicações e possíveis impactos na economia potiguar de um aumento, pelos EUA, da tarifa sobre os produtos brasileiros.
O convite foi feito pelos secretários Carlos Eduardo Xavier (Fazenda) e Alan Silveira (Desenvolvimento Econômico). A reunião será na sede da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), no Centro Administrativo, em Lagoa Nova, Natal. O secretário de Agricultura e Pesca, Guilherme Saldanha, também participará da reunião.
No convite, os secretários destacam que o objetivo da reunião é “definir uma estratégia conjunta diante dos impactos do aumento da tarifa”.
“Diante da urgência da problemática e dos possíveis impactos econômicos da tributação americana sobre os produtos exportados pelo nosso estado, convidamos para uma reunião [com o intuito de] mobilizar os setores afetados e articular as melhores estratégias em prol do nosso desenvolvimento econômico”, declararam os secretários na convocação aos dirigentes de federações empresariais, sindicatos e instituições que atuam nas áreas relacionadas à exportação.
“Estamos juntando o setor e dialogando com o Governo Federal, sob a liderança da governadora Fátima, para que se abram novos mercados. Existe um mercado europeu que desde 2018 está trancado por contas relacionadas a barcos de pesca. Já abrimos diálogos com o Ministério da Agricultura e o da Pesca, porque isso precisa ser retomado, pois a Europa é um grande comprador e pode ser uma saída momentânea para esses novos pescados, inclusive o camarão”, disse o secretário Guilherme Saldanha (Sape).
Contêineres com atum parados nos portos do país
Para o setor pesqueiro, os EUA representam o principal mercado não só no RN, mas também no Brasil, representando 70% dos embarques, com mais de US$ 240 milhões movimentados por ano, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca).
A associação informou que a tarifa de Trump paralisou as exportações de 58 contêineres de pescados. Há contêineres parados em diversos portos, especialmente nos estados da Bahia, Ceará e Pernambuco. Um deles está com carga do RN.
“A CNI tem um acesso muito bom com o Governo e estamos aguardando para entender quais são as alternativas”, disse o presidente do Sindipesca-RN, Arimar França.