Comércio 15/07/2025 11:09
E se o Brasil retaliar os EUA? Economistas listam riscos da reciprocidade
O Brasil responder as tarifas dos Estados Unidos com reciprocidade é um cenário temido por alguns especialistas ouvidos pela CNN.
O governo brasileiro conta com mais essa carta na manga em meio à tensão comercial com Donald Trump após o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ter assinado o decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade Econômica na segunda-feira (14).
Contudo, o que se observa é que o “efeito rebote” de uma escalada deve ser mais impactante do que eventuais restrições que o Brasil possa levantar contra os norte-americanos.
“Não tem como entrar numa batalha comercial com os Estados Unidos, dependemos muito mais deles do que eles da gente. É uma batalha econômica que o Brasil não tem como vencer, só tem a perder. Querer usar a reciprocidade é uma estratégia não muito inteligente também porque vai bater de frente invés de negociar, o que aparenta ser o que Trump quer ao dar tempo antes da tarifa entrar em vigor”, avalia Leonardo Neves, analista da Constância Investimentos.
Neves reforça que, além do efeito negativo estrutural para a balança comercial, o Brasil deve sofrer com a perda de investidores estrangeiros, uma vez que a alíquota aplicada contra o país já destoa do resto do mundo, e só tende a piorar em caso de contra-ataque.
A Lei da Reciprocidade estabelece critérios de proporcionalidade para o governo brasileiro reagir a ações externas unilaterais que afetem negativamente a competitividade internacional do país.
Pela norma, o Brasil pode oferecer a cidadãos e governos estrangeiros o mesmo tratamento que eles conferem ao país, seja em questões comerciais, concessão de vistos, relações econômicas ou diplomáticas.
Na última quarta-feira (9), o presidente dos EUA anunciou que irá aplicar, a partir do dia 1º de agosto, uma tarifa de 50% contra os produtos importados do Brasil.
Em carta enderaçada a Lula, Trump apontou discordâncias políticas por trás de sua decisão – como o andamento do julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a regulação das big techs e redes sociais no país -, além de afirmar que o Brasil tem sido ruim com os EUA quanto a uma relação comercial desproporcional. Trump aponta para barreiras comerciais não tarifárias que o país impõe contra os produtos que entram por aqui, ponto destacado por Simão Silber, professor doutor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo), especialista em economia internacional.
“O Brasil tem um espaço muito pequeno para retaliar os Estados Unidos. É redundante falar em lei de reciprocidade. Nós já temos uma tarifa de importação muito elevada, o espaço não existe, o Brasil não pode fechar mais sua economia, tem um efeito sobre sua produtividade, que já é baixíssima, uma das piores do mundo”, afirma.
De janeiro a junho, os brasileiros exportaram US$ 20 bilhões em produtos aos norte-americanos, enquanto importaram cerca de US$ 21,7 bilhões, numa balança desfavorável para nós em US$ 1,675 bilhão.
Nesse sentido, Daniel Teles, analista da Valor Investimentos, avalia que um dos primeiros efeitos a ser sentido com uma escalada entre as duas nações “é inflação, a gente pode ter aumentos do IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] porque temos demanda de importação americana”.
Petróleo, produtos de aço e ferro, café, aeronaves e carne estão entre os produtos mais vendidos para os EUA.
Enquanto isso, o Brasil importa motores e máquinas não elétricos, óleos combustíveis, peças para indústria aeronáutica e outros da indústria de transformação.
Apontar o impacto setor a setor ainda seria preliminar, segundo Carlos Eduardo Carvalho, professor de economia da PUC-SP e da pós-graduação em economia da UFABC.
Ele defende, contudo, uma postura firme mas cautelosa por parte do governo. “O pior cenário seria não contra-atacar. Seria a desmoralização do país, do capital político que o Brasil acumulou no exterior em tanto tempo, além de criar fraturas internas difíceis de resolver.
Esse é o objetivo maior de Trump: desmoralizar o país, reduzir o Brasil à vassalagem”, avalia Carvalho. “O contra-ataque tem que ser feito, com moderação, cautela, cálculo cuidadoso. Não avançar demais, não recuar. E avaliar os efeitos rebote, procurar reduzir os danos internos e as divisões de interesses do país”, conclui.
Negociação e ampliação “O cenário menos pior – e menos pior porque não vejo um cenário no qual as tarifas voltem para zero – para nós é se o governo brasileiro sentar na mesa de negociações invés de tentar comprar essa guerra comercial e negociar algo que não fizesse a tarifa do Brasil destoar do resto do mundo”, pontua Leonardo Neves.
Nessa trilha, da negociação, alguns pontos de atenção ainda são destacados pelos analistas no que tange a postura errática de Trump, que chegou a ameaçar levantar tarifas de mais de 200% contra a China.
Encabeçando esta frente da política brasileira está o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), que vai liderar um grupo com empresários contra a tarifa de Trump.
Na segunda, o vice de Lula afirmou que o Brasil ainda não pediu a redução da tarifa aos EUA, mas reforçou que sua equipe atua para tornar a situação favorável ao país e que irá conversar com empresas norte-americanas.
“A única coisa que tem é tentar conversar. Mas Trump foi muito claro que só conversa com Lula no dia que tiver vontade, caminho que não parece estar aberto agora e depende da vontade soberana, imperial e briguenta de Trump”, indaga Simão Silber.
Assim, Carlos Eduardo Carvalho aponta para a alternativa de o Brasil trabalhar, em paralelo, o laço com outras nações que possam se fortalecer juntas ante as restrições de Trump.
“O cenário mais positivo para o país inclui: ampliar relações comerciais externas e parceria diplomáticas; reduzir a dependência dos mercados do EUA, que se revelam agora um parceiro não confiável; evitar que divergências internas conduzam a rupturas; e isolar os que preferem agir contra o país.”
“Ampliar parcerias com outras vítimas do trumpismo é um caminho óbvio e promissor. O Brasil já tem essas parcerias, convém aprofundá-las com o cuidado de não criar novas dependências, sem hostilizar ninguém, mas dar passos calculados. Não é tarefa simples, mas é a exigência da hora.”
Deu em MSN
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