Política 12/07/2025 11:36

Globo toma partido de Lula contra Trump e a conservadora Record acena ao presidente

A taxação de 50% sobre produtos do Brasil imposta por Donald Trump, influenciado pela família Bolsonaro, gerou um sentimento que estava adormecido havia muito tempo: o nacionalismo.

Atenção, não confundir com patriotismo ideológico.

A noção de cidadão pertencente a um país soberano — agora sob ameaça do trumpismo — fez milhões de brasileiros criticarem a atitude política do presidente dos Estados Unidos — e, consequentemente, suscitar apoio a Lula e seu governo.

Aconteceu também com a Globo e a Record, ambas com histórico anti-lulista e ex-apoiadoras da direita em diferentes períodos.

No ‘Jornal Nacional’, Lula ganhou 11 minutos (uma eternidade em TV) para criticar o tarifaço de Trump e defender uma resposta firme.

Ironicamente, foi entrevistado pela repórter Delis Ortiz, evangélica e vista entre colegas como simpática a Jair Bolsonaro, a quem ela presenteou com uma Bíblia num café da manhã com a imprensa em 2019.

Lula pedia espaço no ‘JN’ desde seu período de prisão na PF de Curitiba. Na época, lançou um desafio ao âncora e editor-chefe William Bonner: uma entrevista frente a frente para falar das acusações de corrupção. Nunca foi atendido pelo jornalista.

O petista e o apresentador fizeram as pazes em agosto de 2022, na sabatina com presidenciáveis, quando Bonner deu uma declaração surpreendente olhando para o então candidato: “O senhor não deve nada à Justiça”.

No começo do 3º mandato, Lula abriu o Palácio da Alvorada para receber Natuza Nery, da GloboNews. Gravaram uma longa entrevista. A primeira-dama, Janja da Silva, também deu atenção especial ao canal de notícias da Globo.

Agora, graças à cruzada política de Trump contra Lula, o ‘Jornal Nacional’ se tornou importante defensor do Brasil e das instituições nacionais.

“A decisão do presidente dos Estados Unidos de interferir em ação que tramita no STF por meio de chantagem tarifária teve repercussão no mundo inteiro”, anunciou Renata Vasconcellos na abertura de recente edição.

Deve ter soado como música aos ouvidos de Lula.

Nunca é demais relembrar que, no debate decisivo de 1989, o fundador da Globo, Roberto Marinho, apoiou Fernando Collor contra Lula e determinou que uma matéria no ‘Jornal Nacional’ fosse menos favorável ao sindicalista, às vésperas da eleição. O ‘caçador de marajás’ saiu vitorioso das urnas.

No velório de Roberto Marinho, em agosto de 2003, Lula disse que ele e o empresário de comunicação haviam se acertado após duas conversas reservadas.

‘Outra surpresa gerada pela polêmica de Trump: a Record levantou a bandeira branca a Lula ao entrevistá-lo por 7 minutos no ‘JR’. A condução da conversa foi de Christina Lemos.

O dono da emissora, bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal, foi apoiador de Lula no passado. Depois, migrou para o bolsonarismo. Após a confirmação do atual mandato do petista, ele recuou.

A Record propagar o discurso do presidente brasileiro contra Trump em horário nobre deve ter surpreendido os membros do governo e também a oposição conservadora.

Mas não podemos nos iludir. Não se trata apenas de jornalismo supostamente imparcial. Os proprietários das redes de TV são homens com inúmeros negócios — do agro ao universo bancário — e a taxação de 50% pode afetar algumas operações.

Ao dar a oportunidade de Lula se manifestar contra o prejuízo aos exportadores brasileiros em relação aos Estados Unidos, atuam também em causa própria. Quando o lucro está em risco, os inimigos se aliam. O capitalismo faz milagre.

Pela apuração da coluna, as entrevistas de Lula ao ‘Jornal Nacional’ e ao ‘Jornal da Record’ devem ter atingido cerca de 50 milhões de brasileiros em tempo real.

O presidente em conversa com Christina Lemos exibida no ‘Jornal da Record’: o bolsonarista Edir Macedo recuou
Foto: Reprodução/TV

Deu em Portal Terra

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista