Inteligência Artificial 02/07/2025 18:43

As agências de publicidade vão sobreviver à era da IA? Baidu e Meta dizem que não

É preciso reconhecer o talento dos apresentadores de infomerciais. Não é fácil empolgar quem está em casa para comprar seus produtos contando apenas com o item em si e suas habilidades de apresentação.

Recentemente, a partir dessa dinâmica, o empresário chinês Luo Yonghao e seu co-apresentador arrecadaram US$ 7 milhões em vendas ao longo de seis horas ininterruptas de uma transmissão da Baidu promovendo 133 produtos.

Como conseguiram isso? Simples: eles não estavam lá. Em vez disso, seus gêmeos digitais conduziram as vendas. Ao que tudo indica, os doppelgängers gerados artificialmente eram tão bons, tão convincentes na tela, que superaram o desempenho das transmissões humanas anteriores de Yonghao.

“A Meta está dando seu passo mais agressivo até agora para eliminar a intervenção humana no processo publicitário. Até 2026, a empresa pretende automatizar totalmente a criação, o direcionamento e a veiculação de anúncios digitais com o uso de inteligência artificial — sem equipes criativas, sem compradores de mídia e sem necessidade de segmentação detalhada do público.”

Isso representa uma mudança sísmica em relação ao modelo atual. Poucos anos atrás, seria quase impensável imaginar que a IA substituiria profissionais de marketing.

Afinal, essa é uma indústria com uma rica história. Pense na série Mad Men, da AMC. Embora fictícia, ela romantiza um passado não tão distante em que profissionais criativos impressionavam grandes empresas com a força de sua imaginação fértil.

Se a aposta da Meta se concretizar, as empresas do futuro poderão deixar de contratar agências de publicidade full service para suas campanhas.

Nesse cenário, muitas dessas organizações podem fechar as portas, levando com elas os empregos de diretores de criação, fotógrafos, videomakers, editores e redatores.

Em alguns anos, talvez nem seja mais necessário que agências negociem e comprem espaços publicitários na TV. IAs autônomas poderão cuidar diretamente dessas tarefas em nome das empresas contratantes.

Vídeos gerados por IA invadem o marketing

Já estamos testemunhando um futuro em que a presença humana na produção de conteúdo audiovisual se torna cada vez menos necessária. A empresa Kalshi causou grande impacto cultural no mês passado ao lançar um vídeo publicitário produzido inteiramente por inteligência artificial, sob a direção do famoso youtuber P.J. Accetturo.

Como relata o OPB.org: “O comercial da Kalshi teve uma estreia de alto nível, sendo exibido na transmissão do YouTube TV durante as partidas finais da NBA, em 11 de junho. Esse espaço e o conteúdo chamativo poderiam sugerir semanas de trabalho de uma equipe de criativos, cinegrafistas e atores em locais variados. Mas Accetturo afirma que usou ferramentas de IA, levando apenas dois dias para criar um comercial cujo tom alterna entre memes da internet e GTA (Grand Theft Auto).”

O anúncio da Kalshi surge num momento em que Hollywood também começa a se mostrar receptiva à IA como ferramenta essencial para se manter relevante no mercado.

A AMC, surpreendentemente, ganhou destaque ao firmar uma parceria com uma startup de inteligência artificial. “A tecnologia da Runway ajudará a AMC Networks a acessar com mais facilidade cenas de destaque e gerar imagens para uso promocional”, relata o Los Angeles Times.

“A tecnologia também será usada para acelerar a etapa de ‘pré-visualização’ durante o desenvolvimento de projetos, quando os estúdios utilizam imagens para definir o visual de uma produção antes das filmagens.”

A IA vai tornar as agências de publicidade obsoletas?

A série Mad Men tem cenas memoráveis em que o publicitário Don Draper demonstra sua genialidade criativa diante dos clientes. No episódio 13 da primeira temporada, “The Wheel”, ele transforma o projetor de slides da Kodak em algo muito maior do que uma simples máquina.

“Em grego, ‘nostalgia’ significa literalmente ‘a dor de uma antiga ferida’”, diz ele à plateia. “É uma pontada no coração mais poderosa do que a própria memória. Este aparelho não é uma nave espacial; é uma máquina do tempo. Ela vai para trás, para frente, nos leva a um lugar ao qual ansiamos voltar.”

As agências de publicidade de antigamente não eram construídas com base em códigos ou métricas de impressão.

Seu maior ativo era o capital humano — desde sessões de brainstorming madrugada adentro até mensagens de campanha e decisões de cinematografia. A pergunta que fica é: ainda precisamos de pessoas para conquistar corações e mentes?

Se perguntarmos a Yonghao ou Accetturo, eles provavelmente responderão que não. Ferramentas cada vez mais sofisticadas já conseguem realizar o mesmo trabalho — ou melhor. Houve um tempo em que fotógrafos eram profissionais disputados. Hoje em dia? É possível gerar imagens fotorrealistas a partir de um briefing usando o Midjourney.

Mesmo que as agências full service não tenham o mesmo destino da Kodak — desaparecendo na esteira da 5ª Revolução Industrial —, é provável que reduzam seu tamanho.

E se a criatividade humana simplesmente evoluir?

O comercial da Kalshi chamou tanta atenção justamente pela novidade. A maioria das matérias e vídeos que cobriram sua estreia durante as finais da NBA destacaram o caráter histórico de um anúncio totalmente gerado por IA.

Daqui para frente, será que o público continuará tão impressionado com o que a IA consegue fazer — ou voltará a se engajar mais com conteúdo feito por humanos?

Ainda é cedo para dizer.

Por ora, é seguro assumir que as empresas continuarão sendo movidas pelos mesmos incentivos que sempre guiaram seu comportamento. Sempre buscarão formas de reduzir custos — algo que a IA, sem dúvida, facilitará.

Mas também continuarão em busca de conexões mais profundas com seus públicos.

O futuro do marketing, portanto, pertencerá a humanos espertos como Yonghao e Accetturo, dispostos a aprimorar suas ofertas para se manterem competitivos.

Deu em Forbes

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista