Governo Federal 17/06/2025 08:38

Comunicação do governo Lula: após 5 meses, Sidônio ainda busca marca para alavancar gestão

Com a árdua tarefa de conter o desgaste na popularidade do presidente Lula, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, lida com sucessivas crises, viu a pasta se transformar em um “bunker” no Palácio do Planalto e, cinco meses após assumir, ainda não encontrou uma marca com potencial de alavancar o governo.

Chamado de “bombeiro” por outros integrantes da gestão, o marqueteiro já lidou com turbulências provocadas por anúncios sobre o Pix, a revelação de desvios em aposentadorias do INSS e, agora, os efeitos da tentativa do governo de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Cotado para ser o principal estrategista da campanha de Lula em 2026, Sidônio, por ora, administra as crises de 2025. Do seu gabinete, no segundo andar do Planalto, comanda reuniões, orienta colegas do primeiro escalão, escolhe porta-vozes para cada tema e dá o tom da mensagem que o governo quer passar a cada nova tempestade. Procurada, a Secom não se manifestou.

A atuação não foi capaz, até o momento, de evitar contratempos. Após o aumento do IOF, no fim de maio, Sidônio conseguiu que o recuo fosse anunciado antes do que sugeria o ministro Fernando Haddad (Fazenda).

O argumento levava em conta a análise das redes sociais, que apontava a repercussão negativa crescendo.

O trabalho da Secom também não conteve os novos capítulos da crise: nesta semana, em um intervalo de 24 horas, Haddad bateu boca com bolsonaristas na Câmara, em episódio explorado pela oposição, e o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou a votação de um texto que acelera a derrubada das mudanças feitas pelo governo no imposto.

O impasse sobre o IOF ocorreu enquanto o governo ainda lidava com as consequências do escândalo do INSS, episódio que levou às saídas do ministro da Previdência, Carlos Lupi, e do presidente do instituto, Alessandro Stefanutto.

No ápice do escândalo, Sidônio fez reuniões diárias com o novo chefe do INSS, Gilberto Waller, e o substituto de Lupi, Wolney Queiroz.

Para o chefe da Secom, a decisão mais célere que o governo precisa tomar agora é de onde sairá o dinheiro para ressarcir os aposentados.

A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para que a verba do ressarcimento fique fora das regras fiscais, o que pode abrir uma nova frente de embates para o Planalto, criticado no Congresso por não ter apresentado medidas de corte de gastos.

Entrevistas e redes

Com o bombardeio da oposição, Sidônio tem convocado entrevistas com o intuito de fazer Lula expor realizações da gestão.

A estratégia ocorreu na véspera da divulgação da Quaest, no início de junho, quando o presidente falou sobre números positivos da economia, a reação do governo à crise do INSS e antecipou programas que pretende lançar nas próximas semanas, e em janeiro, quando a gestão enfrentava a fase mais aguda da crise do Pix.

Outra frente é a cobrança para que aliados se engajem mais nas redes sociais, uma tentativa de duelar com a capilaridade dos posts do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Internamente, Sidônio repete que há papéis para a comunicação do governo, mas os apoiadores externos também precisam fazer seus esforços.

Lula na tela de um celular — Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula na tela de um celular — Foto: Ricardo Stuckert/PR

Nesse contexto, ele tem sido procurado pelos colegas em momentos delicados.

O ministro Carlos Fávaro (Agricultura) foi consultá-lo sobre como conduzir os anúncios que envolviam a descoberta de gripe aviária no Rio Grande do Sul. No caso do Pix, no entanto, ele se queixou a aliados por não ter sido avisado da proposta da Receita Federal.

Sidônio lidou também com desgastes provocados por viagens internacionais da primeira-dama Janja da Silva, exploradas pela oposição, e a demissão do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeita de desvio de emendas parlamentares, o que ele nega.

Na visão de parte dos colegas, as respostas às crises agora têm método e estão mais organizadas. Há, porém, uma avaliação de que o publicitário ainda não imprimiu uma marca nova na comunicação — o que também falta ao próprio governo.

Aliados do ministro admitem que a gestão começou, em 2023, com a mentalidade de que bastava recriar programas dos governos petistas anteriores, mas que o tempo foi mostrando que o Brasil não é mais o mesmo dos primeiros mandatos de Lula.

Outra crítica é a demora na elaboração da licitação para a comunicação digital, suspensa pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em julho do ano passado, ainda na outra gestão da Secom, após os vencedores terem sido anunciados na véspera pelo portal “O Antagonista”. Na ocasião, o governo negou irregularidades. Sem isso, a pasta tem limitações para atuar nas redes.

Após tomar posse, em 14 de janeiro, Sidônio disse que pretendia abrir “imediatamente” uma nova concorrência. Porém, o edital ainda está em fase de elaboração.

Há previsão que seja concluído e lançado em junho. Embora haja uma preocupação da organização da operação digital , o ministro não vê esta licitação como a bala de prata para reposicionar o governo na disputa com a oposição. Internamente, defende que apoiadores do governo e o PT se juntem nesse esforço.

Apesar das críticas, a equipe de Sidônio argumenta que mesmo com o pouco tempo já conseguiu aumentar o alcance das contas oficiais. De acordo com dados da Secom, houve avanços especialmente no Instagram e no TikTok.

Deu em O Globo

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista