Exportação 19/01/2025 17:58

Secretário defende o fim do embargo europeu ao camarão pescado no RN

Entre os desafios estão a ampliação de rotas marítimas pelo Porto de Natal e a busca pelo fim do embargo europeu a pescados, especialmente camarão.

Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca do Rio Grande do Norte, Guilherme Saldanha, destacou avanços do agro potiguar em 2024 e as projeções para 2025 – atividade que movimenta cerca de R$ 1,5 bilhão na economia do Estado e gera aproximadamente 100 mil empregos diretos.

Impulsionada pela maior segurança hídrica do Estado, a expectativa é de crescimento nas safras de melão, melancia, mamão e manga, além de uma participação cada vez mais forte da citricultura.

O fortalecimento da pecuária leiteira, que dobrou a produção em oito anos, é outro destaque.

Além disso, a retomada de abatedouros e a perspectiva de exportação de gado vivo apontam novos caminhos para a pecuária potiguar, diz o secretário.

Entre os desafios estão a ampliação de rotas marítimas pelo Porto de Natal e a busca pelo fim do embargo europeu a pescados, especialmente camarão.

Uma projeção do Coex aponta crescimento de 8% na safra 2024/2025, somente na exportação de melão e melancia. Qual a perspectiva para este ano?

As exportações do agro desde 2019 vêm crescendo de forma bem significativa. Isso é muito bacana, a gente tem acompanhado isso de perto, tem conversado muito com o setor, tem barreiras, tem gargalos, e a gente precisa cada vez mais destravar isso, fazer com que a coisa cresça cada vez mais. O Rio Grande do Norte tem uma vocação muito especial para essa atividade, que é a produção e a exportação de frutas, por algumas questões. A principal: segurança hídrica. Então, a gente tem hoje a transposição do São Francisco, a gente tem três grandes barragens, com a quarta recém-inaugurada pela governadora Fátima, que é a barragem lá de Oiticica.

Do ponto de vista da localização geográfica, temos outra coisa espetacular. A proximidade das fazendas, seja do Vale do Açú, seja um pouquinho aqui no Mato Grande, seja lá da região do Alto Oeste, Oeste, com a Chapada do Apodi, você está muito próximo dos portos, seja o próprio Porto de Natal, seja um porto lá no Ceará. A gente deve ter batido algo em torno de US$ 250 milhões de exportação. Isso representa, com esse dólar acima de R$ 6, representa quase R$ 1,5 bilhão de dinheiro externo que entra para dentro da economia do Rio Grande do Norte. Os principais são melão, melancia, mamão e manga, os 4 Ms que a gente batizou. Hoje o Rio Grande do Norte é muito forte em melão, melancia e mamão. Ainda tem cana-de-açúcar, que o Rio Grande do Norte tem exportado bem. Tem os pescados, que também está se exportando bem. E quando você juntar tudo, eu acho que a gente chega em torno desses US$ 250 milhões.

Que gargalos seriam esses?

Mais rota de navio pelo Porto de Natal, porque essa produção que está ali no Vale do Açu e no Mato Grande, fica mais econômica para ser exportada pelo Porto de Natal. Hoje já é uma realidade. O porto, que existiu uma preocupação, acho que foi de 2022 para 2023, que o porto ia parar. Isso foi superado e a gente tem dialogado, tanto com a empresa que já está fazendo essa rota, quanto com a possibilidade, esse ano, de já vir outros navios. E aí você tem essa facilidade, você diminui o custo. Por determinação da governadora Fátima, a gente tem ido às feiras internacionais, porque está todo mundo ali, as duas principais em Madrid e em Berlim.

No caso do atum, há possibilidade de abertura para o mercado europeu? Como o RN tem trabalhado essa questão nas missões internacionais?

Não é nem só o atum, são os pescados como um todo, o camarão. Deve ter sido há cerca de seis, sete anos, houve um embargo da União Europeia com o pescado brasileiro. Houve um problema num barco de pesca em Santa Catarina, e aí foram embargadas as exportações de pescado para a União Europeia. Isso afetou muito. Era um mercado extremamente importante, não só para o atum, como também para o camarão.

E o pobre do camarão levou essa culpa do peixe. E esse embargo está até hoje. A gente tem conversado muito com o Ministro da Agricultura, da Pesca, o presidente Lula tem uma abertura muito grande com os países da comunidade europeia e a gente tem a expectativa de que isso seja retomado, esse canal de comercialização. Principalmente que isso seja liberado para a questão do camarão, que esse é o nosso foco. Com a saída do Reino Unido da União Europeia, abriu-se uma oportunidade e a gente tem conversado muito, com as embaixadas em Brasília, para que ocorram as exportações para o Reino Unido. A gente tem uma expectativa que esse ano de 2025, essa questão pelo menos para o camarão, que isso possa ser exportado.

Qual o impacto do agro hoje para a economia do RN, sobretudo na geração de empregos?

Hoje, estima-se que essa cadeia gera mais de 100 mil empregos diretos de carteira assinada. Esse setor não é importante para fazer só para exportação, ele não é importante para o Estado do Rio Grande do Norte, para o governo, para os agricultores, para o pecuário, ele é importante porque gera e movimenta a roda da economia. No finalzinho daquela seca de 2011 até 2018, a produção de cana-de-açúcar, que as usinas de cana do Rio Grande do Norte moíam, girava em torno de 2,5 milhões de toneladas. Hoje estão girando 4,5 milhões de toneladas. A cidade de Mossoró enfrentou a saída da Petrobras, a baixa produção de petróleo, mas é uma cidade que continuou pujante. Graças ao crescimento e o avanço da fruticultura.

A cidade de Mossoró deve ter hoje, sem sombra de dúvida, tem uns dez condomínios fechados, você tem empresas de retífica de motores, isso tem impacto no borracheiro que conserta o pneu dos tratores, lá na cidade de Baraúnas, Apodi, que isso tudo existe por causa do agro e o PIB desse serviço não é contabilizado por agro, para o agro. O agro do Rio Grande do Norte representa um PIB de 6%, 8%, 11%, mas, é muito maior. Hoje você tem equipamento de tecnologia, você tem serviços de empresas mundiais que estão sendo ofertados no Rio Grande do Norte por conta do agro.

Esse negócio de startup, essa questão do conhecimento, do avanço da tecnologia, e isso existe por conta do agro.

Em relação ao Terminal Pesqueiro de Natal, como está o processo para a nova tentativa de relicitação?

O primeiro leilão feito no governo Bolsonaro tornou o Terminal Pesqueiro totalmente sem nenhuma atratividade. O custo da concessão era caro, era muito oneroso, para você participar você tinha que, se ganhar, mesmo com o preço, você teria que fazer um depósito bancário em dinheiro, em uma conta de uma empresa que teria que ser criada para administrar a concessão do Terminal Pesqueiro. E era em espécie. Não apareceu ninguém. Fizemos um novo leilão em que a concessão passou a ser R$ 1,00. E eu dizia a ele: não é interessante para o governo querer arrecadar dinheiro com isso, é um equipamento que custou R$ 32 milhões e está parado. É melhor que ele entre em funcionamento, gere emprego.

As questões desse depósito seria através de uma garantia, não necessariamente dinheiro. Infelizmente, apareceram grupos empresariais interessados, mas o modelo de garantia ofertado, que no entendimento do Ministério estava ok, mas como o leilão era na Bolsa de Valores, na B3, a B3 entendeu que não podia. Então decidimos facilitar ainda mais essa questão da garantia. Exemplo, se eu tenho uma empresa com um patrimônio que vale X milhões e esse valor é o necessário para garantir que o terminal pesqueiro entre em operação, então o próprio capital social da empresa poderia ser ofertado com essa garantia. Isso obviamente volta para o Tribunal de Contas da União. A gente está na expectativa que ainda nesse primeiro semestre tenha nova licitação, tenha novo leilão.

O Diba, maior perímetro irrigado do RN, já tem representação no fomento da produção de frutas do Estado. Há perspectivas de novos investimentos para ampliação?

Aquele projeto, ele foi entregue 100%, 9 mil hectares de terra, 6 mil hectares de terra irrigada, ele iniciou em 1992, e no ano 2000, foi entregue através da venda da Cosern. O governador Garibaldi pegou uma parte do recurso e criou e concluiu a segunda etapa do projeto. Graças a um esforço do governo, isso começou, assim que eu entrei na secretaria, no governo Robinson, e a governadora Fátima deu todo o apoio e em agosto de 2023 nós entregamos a segunda etapa do Baixo Açu. A governadora foi lá, um pedaço da bancada, e teve agricultor lá que chorou emocionado, eu fui um deles, porque aquilo era um sonho que as pessoas tinham de muito tempo e hoje é uma realidade muito forte. Você veja que somente de 2023 para cá, entrou em operação dois mil hectares de terra lá.

E tem mais pelo menos uns mil e quinhentos para entrar em operação ainda, 2025, 2026, para a gente concluir em definitivo e ter seis mil hectares funcionando. Lá dentro do projeto tem quatro vilas de casa, de pessoas moram, habitam dentro do projeto, são cerca de 1,6 mil pessoas, fora os trabalhadores que trabalham, e é uma população volante. Hoje está se criando um grande polo de citricultura, que é uma coisa que a gente tem incentivado muito, entendendo os problemas que a citricultura de mesa, de exportação, tem enfrentado em São Paulo, a ponto da União Europeia proibir durante dois, três meses a exportação de fruta para lá. E o clima nosso dá show.

O RN também tem se destacado na produção de leite, que dobrou nos últimos oito anos. Qual o impacto dessa cultura na nossa economia?

A gente tem experimentado também um fortalecimento muito grande da pecuária de leite, esse negócio das queijeiras, do queijo artesanal. A gente saiu de uma produção de leite de 380 a 400 mil litros de leite, há oito anos, para hoje já ultrapassar a barreira dos 800 mil litros de leite por dia. Há 10 anos, o maior laticínio do Rio Grande do Norte processava 50 mil litros de leite, hoje o maior já processa 150 mil litros de leite. Então é uma cadeia que experimentou esse crescimento muito bacana e as queijeiras foram fundamentais nisso tudo. O governo do estado apoiou com mais de R$ 23 milhões de reais, só investindo nessas pequenas queijeiras, apoiando. E o bacana é que hoje no Rio Grande do Norte ele é conhecido por um queijo de manteiga e um queijo de coelho dos melhores do Brasil.

O sr. já declarou que o RN estuda a possibilidade de exportar gado vivo. Essa é uma possibilidade concreta? Podemos esperar algo neste ano?

O Rio Grande do Norte, infelizmente, nos últimos 20 anos, a legislação cada vez apertou mais o processo industrial em que os pequenos marchantes do interior começaram a desaparecer. A exigência sanitária para ter um abatedouro dentro do município inviabilizava que o município estivesse bancando aquele custo. E aí começa a entrar muita carne fria, carne congelada, carnezinha dentro do saco, pronta para ir para a prateleira, vindo de outros estados, como Maranhão, Pará, Tocantins. Esse negócio hoje passa de R$ 1 bilhão que sai da economia do Rio Grande do Norte. Fomos discutir com o setor para saber o que está havendo e o setor diz que não tem onde abater.

A gente cai num ciclo muito ruim. Eu não produzo gado porque eu não tenho a quem vender. E quem quer comprar não tem gado aqui, então vai comprar a carne de fora. Discutimos isso com a governadora Fátima e a gente tem alguns abatedouros sendo construídos pelo governo do Estado através da Emater e o presidente César [Oliveira] foi muito receptivo para a gente fazer um teste.

Fizemos isso com uma abatedouro em Vera Cruz, começou com uma demanda pequenininha, hoje abate em torno de 500 a 600 animais por semana, criamos um volume, acendemos a luz e pela primeira vez, depois de 10 anos, o Rio Grande do Norte passa a ter uma abatedouro, não privado, mas administrada pela iniciativa privada, em pleno funcionamento.

Mas ainda é muito pouco. Surgiu uma oportunidade de trazer a venda de gado vivo, que ocorre no Brasil – e são muitas cabeças de animal, isso gira em torno hoje de mais de um milhão por ano – normalmente ocorre no Pará, mas ocorre também em São Paulo e ocorre em um porto do Rio Grande do Sul.

O Porto de Natal, é muito tranquilo, porque ele está dentro do Rio, não está dentro do mar, o embarque de mercadoria é muito tranquilo. Tem empresários que fazem isso, principalmente para o mundo árabe, que é grande consumidor de gado vivo, que tem algumas questões de certificação, o que envolve questões religiosas, em que no Brasil não consegue atender, com animais abatidos, e aí eles compram o gado vivo, do mundo todo. Começou a negociação há cerca de quatro meses, isso nos foi apresentado através do senador Jean Paul Prates, e a gente está bem avançado para que a gente esse ano faça os primeiros embarques aqui.

Deu em Tribuna do Norte
Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista