Vírus 12/09/2024 09:30
Novo vírus capaz de afetar o cérebro é detectado em chinês picado por carrapato
Estudo sobre a infecção sugere que outros 17 pacientes de quatro áreas distintas da China apresentaram sintomas inespecíficos, possivelmente ligados ao contágio pelo vírus
Um relato de caso publicado no último dia 4 de setembro no periódico New England Journal of Medicine descreve a descoberta de um novo ortonairovírus com capacidade de atingir o cérebro, que levou um homem de 61 anos a apresentar graves sintomas na China.
O paciente teve febre e disfunção de múltiplos órgãos após sofrer uma picada de um carrapato em um parque de pântanos.
O vírus que o infectou foi nomeado como “vírus das zonas úmidas” (ou simplesmente “WELV”, do termo em inglês Wetland virus).
O agente patológico foi investigado pelos especialistas do Instituto de Microbiologia e Epidemiologia de Pequim. Após isolar o vírus do paciente, a equipe desenvolveu experimentos em camundongos para verificar a sua capacidade de causar doenças.
Em comunicado, os autores destacam que o WELV foi classificado como um membro do gênero Orthonairovirus sp. da família Nairoviridae.
O patógeno está intimamente relacionado ao grupo que inclui o vírus da febre hemorrágica da Crimeia-Congo.
Para verificar a prevalência de infecção por WELV, os especialistas investigaram os quadros clínicos de diversos pacientes hospitalizados com febre e histórico de picada de carrapato. Com isso, identificou-se que 17 indivíduos de quatro áreas da China foram infectados pelo vírus.
O grupo apresentou sintomas inespecíficos — possivelmente ligados ao contágio. Entre os sinais, foram apontados: tontura, dor de cabeça, mal-estar, dor muscular, artrite e dor nas costas.
Com menor incidência, também se notou o aparecimento de petéquias (manchas na pele ou nas mucosas devido ao sangramento dos capilares), inchaço localizado dos gânglios linfáticos e sintomas neurológicos.
O diagnóstico do WELV foi confirmado a partir de exames, que apontaram baixos níveis de glóbulos brancos, baixa contagem de plaquetas no sangue e níveis mais altos de d-dímero (indicando coágulos sanguíneos) e lactato desidrogenase (sinal de danos aos tecidos).
O vírus do paciente picado no parque de pântanos apresentou efeitos citopáticos nas células que revestem a veia umbilical humana. Isso significa que a infecção levou a mudanças estruturais nessas células.
A injeção do vírus no abdômen de camundongos atestou que o patógeno tem capacidade de levar a danos cerebrais e até à morte.
Além disso, testes de soro de oito pacientes recuperados revelaram uma concentração quatro vezes maior de anticorpos específicos do WELV do que aqueles vistos em amostras coletadas durante a infecção aguda.
Uma investigação de campo encontrou RNA do vírus em cinco espécies de carrapatos, bem como em ovelhas, cavalos, porcos e zokors (um tipo de roedor), amostrados no nordeste da China.
As descobertas sugerem que o carrapato Haemaphysalis concinna pode transmitir o WELV a um animal, que então o passa para seus descendentes por meio dos ovários.
“Os sintomas iniciais da infecção por WELV se manifestam [em humanos] como uma doença inespecífica, necessitando, portanto, de um diagnóstico diferencial de outras doenças transmitidas por carrapatos”, descreveram os autores.
“Melhorar a vigilância e a detecção de ortonairovírus emergentes permitirá uma melhor compreensão do efeito que esses agentes têm na saúde humana”.
Deu em Galileu