Artigo 26/02/2024 05:04

Análise: Bolsonaro consegue a foto que queria, mas não afasta o cerco da PF

Ex-presidente subiu no trio elétrico com um discurso calculado para não se complicar ainda mais com o inquérito sobre um suposto golpe de Estado

Por Jussara Soares

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado por atentado ao Estado Democrático de Direito, conseguiu a fotografia que queria para “mostrar ao Brasil e ao mundo” no ato da Avenida Paulista.

Na prática, entretanto, as fotos e vídeos não mudam em nada sua situação jurídica.

O ex-presidente segue inelegível e alvo de investigações da Polícia Federal que fecham o cerco contra ele, por supostamente tramar para permanecer no Poder após as eleições de 2022.

As imagens da Avenida Paulista coberta de verde e amarelo já alimentam as redes sociais como uma demonstração de que Bolsonaro tem força nas ruas e não está isolado politicamente. Foram produzidas para ilustrar a narrativa de que há uma perseguição contra o ex-presidente e a direita no Brasil.

Bolsonaro subiu no trio elétrico com um discurso calculado para não se complicar ainda mais com o inquérito. Pediu “pacificação”, falou em “passar uma borracha no passado” e rogou por anistia para os investigados e já condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.

O tom manso deste domingo (25) em nada lembrava o mesmo Bolsonaro que, em 7 de setembro de 2021, na mesma Avenida Paulista, chamou de “canalha” o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Nem o presidente que na Praça dos Três Poderes puxou o coro chamando a si mesmo de “imbrochável”, no bicentenário da Independência.

Três dias após ficar em silêncio no depoimento à Polícia Federal, a nova versão de Bolsonaro negou aos seus apoiadores que tramou para permanecer no poder.

“O que é golpe? Golpe é tanque na rua. É arma. É conspiração. É trazer classes políticas para o seu lado, empresariais. Isso que é golpe. Nada disso foi feito no Brasil. E fora isso, por que ainda continuam me acusando de um golpe?”, alegou.

Em seguida, o ex-presidente tentou minimizar a existência de uma minuta golpista. O texto que previa manobras para manter o ex-presidente no poder foi encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em janeiro de 2023.

Uma cópia de um plano pró-golpe também foi apreendida no gabinete de Bolsonaro na sede do PL pela Polícia Federal na operação do dia 8 de fevereiro.

“Agora, o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de Estado de Defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Golpe usando a Constituição. Deixo claro que Estado de Sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não”, disse.

Fora da bolha bolsonarista, o discurso não teve impacto. Ainda menos para os investigadores, que esperam concluir os trabalhos ainda neste ano e avaliam ter um volume de provas suficientes, que evidenciam a ligação do ex-presidente com a trama golpista.

Bolsonaro deixou a Avenida Paulista e foi a uma pizzaria comemorar. Saiu da manifestação com a fotografia que queria, mas só.

Nem os aliados mais otimistas acreditam que o ato deste domingo seja capaz de afastar uma possibilidade de prisão.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista