Pandemia 27/12/2023 09:24

Impacto da pandemia na saúde mental das pessoas idosas

A pesquisa revela o impacto na saúde mental de pessoas idosas em todo o mundo

Pesquisa da UFRN revela o impacto da pandemia da covid-19 nos sintomas depressivos e na ansiedade entre idosos no cenário mundial.

As descobertas são resultado do trabalho que Romeika Carla Ferreira de Sena realizou durante sua tese do curso de doutorado do Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGE) da UFRN, vinculado ao Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRN), sob a orientação de Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, professor do Departamento de Enfermagem (DENF/UFRN).

O trabalho contou, ainda, com a colaboração da enfermeira e pesquisadora Bruna Vale.

A tese teve como área de concentração a enfermagem na atenção à saúde e seguiu a linha de pesquisa em Enfermagem na vigilância à saúde.

Além do impacto provocado pela pandemia, o estudo descobriu quais fatores que influenciaram nesse aumento dos sintomas depressivos e na ansiedade, são eles: estresse; fatores econômicos, como renda ou perdas salariais;

preocupações familiares; medo; redução de atividades físicas e, consequentemente, redução do desempenho físico; e piora na qualidade de vida e do sono.

Mulheres adoeceram de depressão e de ansiedade mais que os homens. Foto; Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

Além disso, a pesquisa chama a atenção para alguns aspectos sociodemográficos como questões de gênero, uma vez que mulheres adoeceram de depressão e de ansiedade mais que os homens.

“Isso se dá porque a mulher ocupa um lugar e uma situação social que induz a mais consequências psíquicas do que o homem”, explica Romeika.

A metodologia empregada foi de revisão sistemática com metanálise, um método que une resultados de outras pesquisas com o mesmo objetivo.

Por meio da metanálise, verificou-se em 50% dos estudos utilizados uma ligação muito forte da pandemia nesses sintomas depressivos e na ansiedade em idosos, ou seja, mais de 16 mil pessoas avaliadas dentro dos estudos mundiais apresentaram altos índices de depressão e de ansiedade.

Foram utilizados como base alguns sites de coleta de dados internacionais, como Scopus, Medline, Embase e PsycInfo.

A pesquisadora coletou evidências científicas sobre o tema produzidas mundialmente durante o período de 2020 a 2023 e encontrou 6.595 estudos relacionados com a temática. Romeika analisou esses artigos com a ajuda da pesquisadora e enfermeira Bruna Vale.

Desse total, foram selecionados 19 artigos desenvolvidos na China, na Espanha e no Brasil que serviram como referencial teórico para a tese.

As pessoas tiveram quadros depressivos e de ansiedade devido ao isolamento social. Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN

O trabalho também faz parte de um projeto multicêntrico que estuda envelhecimento, saúde e qualidade de vida associado a três países:

Brasil, Portugal e Espanha.

A pesquisadora conta que escolheu esse tema porque já desenvolvia pesquisas científicas sobre saúde mental desde a época de graduação, em 2013. Recentemente, Romeika voltou seu trabalho para o público idoso.

“Com o advento da pandemia, o idoso foi caracterizado como grupo de risco, inclusive a mídia deu bastante foco à doença mental, algo que antes era visto como um tabu, mas depois da pandemia esse tema passou a ser mais debatido”, pontua.

Segundo ela, as pessoas tiveram quadros depressivos e de ansiedade alarmante dentro desse contexto devido ao isolamento social, devido às perdas e, principalmente em relação ao idoso que já vive em si um sentimento de abandono intrínseco, por causa da velhice e pela falta de uma rede de apoio.

De acordo com Romeika, a pesquisa faz um alerta à comunidade científica e comunidade geral quanto aos impactos da pandemia da covid-19 na saúde mental das pessoas idosas, tendo em vista os diversos fatores e a vulnerabilidade social que esse grupo enfrenta.

O tema já era objeto de estudo de Romeika desde a graduação. Créditos: Acervo pessoal

“O estudo também poderá servir para o embasamento de políticas públicas voltadas para a temática e que promovam a prevenção dos agravos e a promoção da saúde mental e física desse grupo social que é tão afetado pelas questões biopsicossociais.

Afinal, o mundo está envelhecendo e todos nós um dia seremos considerados como pessoas idosas!”, ressalta.

Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, professor orientador, frisa que o envelhecimento mundial está acelerado e os países não estão preparados para essa mudança, em que a expectativa de vida vem aumentando e a taxa de natalidade diminuindo.

“O Brasil é um exemplo disso, se levar em consideração os resultados censitários divulgados em que ocorre um aumento de pessoas idosas e uma redução da taxa de natalidade”, coloca.

Ainda segundo o professor, do ponto de vista acadêmico e social, o trabalho possibilitou produzir evidências e elucidar novos caminhos para futuras pesquisas clínicas, como também produziu evidências atuais sobre a saúde mental de idosos no cenário mundial.

Deu no Portal da UFRN

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista