Em 2022, houve um declínio tímido no número de óbitos, chegando a 31.174 registros.
Apesar da aparente melhoria, o Brasil, com 203 milhões de habitantes, ocupa um incômodo terceiro lugar no ranking de países com mais mortes em decorrência de acidentes de trânsito, segundo o relatório Status Report on Road Safety, da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nas primeiras posições estão a Índia (1,428 bilhão de habitantes) e a China (1.425 bilhão de habitantes), respectivamente.
Ainda de acordo com os dados do Ministério da Saúde, os motociclistas são as principais vítimas nas vias e rodovias do país, seguidos pelos ocupantes dos automóveis e pedestres. A faixa etária mais vulnerável está entre 20 e 59 anos.
O presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, Davi Duarte, explica que as medidas para reduzir os óbitos existem, mas não são implementadas com afinco.
“Há um programa, o Pnatrans [Programa Nacional de Redução de Mortes no Trânsito], que é uma política do governo para reduzir mortes e lesões no trânsito. É o programa que a gente tem, mas tem saído pouco do papel. As nossas ações ainda são muito tímidas em relação aos desafios que temos pela frente. Nós estamos perdendo o jogo na questão do trânsito”, diz Davi.
Principais causas
As mortes no trânsito em decorrência de acidentes veiculares configuram a oitava principal causa de óbito no Brasil. Isso se deve, em grande parte, à negligência dos motoristas.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a principal causa dos acidentes de trânsito é a reação tardia ou ineficiente ou mesmo ausência de reação do condutor, que podem ser provocada por fatores como não observar a sinalização na via, deixar de manter a distância de segurança do veículo à frente, distrações com dispositivos eletrônicos e falta de descanso antes da viagem.
Além disso, muitos acidentes fatais são atribuídos à combinação perigosa de álcool e direção.
O uso irresponsável de bebidas alcoólicas compromete a capacidade dos condutores, afetando reflexos e tomada de decisão.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 10.887 pessoas perderam a vida em decorrência da mistura de álcool com direção em 2021. A média é de 1,2 óbito por hora.
Trauma para a vida toda
Este domingo (19/11) é o Dia em Memória das Vítimas de Acidentes de Trânsito e seus Familiares. Para além das mortes, os acidentes de trânsito deixam também feridas emocionais e físicas.
Caroline Conde, de 43 anos, presenciou o capotamento do carro em que estava a mãe, a irmã e a madrinha.
“Estávamos chegando em Alto Paraíso [Goiás], indo para Tocantins. Minha mãe estava dirigindo. A gente acredita que o motorista do caminhão da frente tenha cochilado, e quando ela [a mãe] foi ultrapassar, ele [o caminhoneiro] jogou o caminhão para o lado. Minha mãe retornou para a via dela, só que quando ela voltou, ele [o caminhoneiro] também voltou. Minha mãe teve que jogar o carro para o outro lado, mas bateu na ribanceira e capotou”, relata Caroline.
“O cara não prestou socorro, foi embora. Eu estava no carro da frente, vi o veículo capotando pelo retrovisor. Minha mãe passou um ano sem dirigir, minha irmã tem uma cicatriz enorme no braço e sente dor até hoje. Minha madrinha, infelizmente, não resistiu. Um dos dias mais tristes da minha vida”, desabafa Caroline.
O presidente da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico, José Octavio Soares Hungria, explica que as lesões causadas por acidentes de trânsito acarretam não só danos físicos, mas também emocionais e econômicos.
“O custo do cuidado médico prolongado, a perda de um membro que sustenta a família ou os custos adicionais necessários para cuidar de pessoas incapacitadas impactam significativamente a família, tanto emocionalmente, como a renda do lar”, afirma.
Educação é a chave
A educação viária é aquela voltada ao incentivo de boas práticas no trânsito. Por isso, ela se torna essencial para a diminuição dos acidentes e mortes em vias e rodovias, segundo o presidente Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, Davi Duarte.
“É com educação que você dá informação, que conscientiza, que sensibiliza para que as pessoas adotem comportamentos corretos, comportamentos seguros. Isso é essencial. A educação ensina como atravessar a pista, passa toda a informação ao condutor para reconhecer a velocidade, reconhecer a fragilidade dos outros, se colocar no lugar do próximo. No Brasil, a gente tem falhado nisso”, diz Davi.
Confira dicas essenciais para evitar óbitos em acidentes:
- Use sempre o cinto de segurança;
- Respeite a velocidade;
- Não use o celular enquanto dirige;
- Faça manutenção no veículo;
- Mantenha distância segura do carro da frente;
- Mãos sempre ao volante;
- Dirija com máxima atenção;
- Cuidado ao fazer ultrapassagens;
- Não dirija caso esteja sem condições físicas ou emocionais.
Deu em Metrópoles