“Autismo? Sim, quero dizer, é um tratamento comum”, diz Salant, de acordo com uma gravação de um telefonema obtida pela ativista irlandesa Fiona O’Leary e compartilhada com o site “Vice News”.
“Não temos permissão para recomendar [nossos produtos] especificamente, mas sim, os protocolos do livro de Andreas Kalcker [que] temos em nosso site… são comumente usados para isso”, completou.
O pastor-rapper e o guru Andreas Kalcker são expoentes da teoria de conspiração pseudocientífica conhecida como Solução Mineral Milagrosa (MMS, do inglês Mineral Miracle Solution). Segundo a MMS, o dióxido de cloro pode ser usado como tratamento para uma ampla gama de doenças, incluindo câncer, HIV e autismo.
Autoridades, no entanto, como a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, ressaltam que o produto não passa de uma substância utilizada na formulação de produtos de limpeza, como alvejantes e tratamento de água, e não tem aprovação como medicamento em nenhum lugar do mundo.
Sua ingestão, inclusive, traz riscos imediatos e a longo prazo para os pacientes, principalmente às crianças.
Joe Salant propaga a MMS na função assumida nos últimos meses, como representante nos Estados Unidos de uma empresa chamada Safrax.
A companhia comercializa os tais comprimidos de dióxido de cloro, que são anunciados no site da empresa como produtos industriais para remoção de odores, desinfecção e como produtos de limpeza para banheiras de hidromassagem e jacuzzis. No entanto, por telefone, Salant faz a propaganda direcionada ao tratamento pseudocientífico.
Na última década, a Safrax vendeu no atacado seus comprimidos de dióxido de cloro, produzidos na China, comercializando-os como produtos de limpeza industrial.
Apesar da recente popularidade de seus produtos para o “tratamento” do autismo, o fundador da empresa, Steve Jean-Paul Dan, afirma que a empresa não está sugerindo que as pessoas usem seus produtos para curar problemas médicos.
“Nós advertimos explicitamente contra o uso de nossos comprimidos de dióxido de cloro para o tratamento de quaisquer doenças ou condições médicas. Se tal afirmação foi feita pelo Sr. Salant, não representa as opiniões ou recomendações da Safrax. Iremos investigar isso internamente e fazer as devidas correções”, informou Dan.
Apesar da afirmação, no site da empresa há a presença do livro “Saúde Proibida”, de Andreas Kalcker.
A publicação é uma das mais lidas entre os que defendem o tratamento com a água sanitária e contém uma lista exaustiva das doenças que o guru da MMS afirma que podem ser curadas com cloro.
À “Vice News”, a FDA não respondeu se a agência estava investigando a Safrax por vender dióxido de cloro a pessoas que o utilizavam para tratar autismo ou outras doenças.
Segundo a “Vice”, vários números de telefone listados no site da Safrax ficaram sem resposta quando o site tentou entrar em contato com Salant, reproduzindo uma mensagem gravada do pastor pedindo aos clientes que deixassem uma mensagem ou enviassem um e-mail.
Uma mensagem no site da Safrax informa aos clientes que há um atraso de 2 a 4 semanas no envio de pedidos, especificamente devido à enorme demanda pelo produto.
Já há relatos de mortes após a ingestão de soluções com alvejante de roupa, clorinato de sódio e ácido cítrico para “curar” o autismo de crianças e adultos.
Segundo a Anvisa, o dióxido de cloro é classificado como um produto corrosivo e sua manipulação exige o uso de equipamento de proteção individual, além de ser um produto que também traz riscos apenas pela inalação — quanto mais pela ingestão.
Deu em Extra