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Pastor vende água sanitária para ‘tratamento’ de crianças com autismo

Joe Salant também é rapper e representante da Safrax, empresa que fabrica pastilhas de alvejante industrial, e diz ser comum o uso do produto para o transtorno Por Pedro Guimarães 18/09/2023 11h32 Atualizado 18/09/2023

Famoso por gravar um rap em apoio ao senador americano Ted Cruz, o pastor evangélico Joe Salant agora vende comprimidos de alvejante industrial.

Até aí, tudo bem. O problema é que, por telefone, ele admite que muitos dos clientes usam o produto para “tratar” crianças com autismo.

“Autismo? Sim, quero dizer, é um tratamento comum”, diz Salant, de acordo com uma gravação de um telefonema obtida pela ativista irlandesa Fiona O’Leary e compartilhada com o site “Vice News”.

“Não temos permissão para recomendar [nossos produtos] especificamente, mas sim, os protocolos do livro de Andreas Kalcker [que] temos em nosso site… são comumente usados ​​para isso”, completou.

O pastor-rapper e o guru Andreas Kalcker são expoentes da teoria de conspiração pseudocientífica conhecida como Solução Mineral Milagrosa (MMS, do inglês Mineral Miracle Solution). Segundo a MMS, o dióxido de cloro pode ser usado como tratamento para uma ampla gama de doenças, incluindo câncer, HIV e autismo.

Autoridades, no entanto, como a Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Brasil, ressaltam que o produto não passa de uma substância utilizada na formulação de produtos de limpeza, como alvejantes e tratamento de água, e não tem aprovação como medicamento em nenhum lugar do mundo.

Sua ingestão, inclusive, traz riscos imediatos e a longo prazo para os pacientes, principalmente às crianças.

Joe Salant propaga a MMS na função assumida nos últimos meses, como representante nos Estados Unidos de uma empresa chamada Safrax.

A companhia comercializa os tais comprimidos de dióxido de cloro, que são anunciados no site da empresa como produtos industriais para remoção de odores, desinfecção e como produtos de limpeza para banheiras de hidromassagem e jacuzzis. No entanto, por telefone, Salant faz a propaganda direcionada ao tratamento pseudocientífico.

Na última década, a Safrax vendeu no atacado seus comprimidos de dióxido de cloro, produzidos na China, comercializando-os como produtos de limpeza industrial.

Apesar da recente popularidade de seus produtos para o “tratamento” do autismo, o fundador da empresa, Steve Jean-Paul Dan, afirma que a empresa não está sugerindo que as pessoas usem seus produtos para curar problemas médicos.

“Nós advertimos explicitamente contra o uso de nossos comprimidos de dióxido de cloro para o tratamento de quaisquer doenças ou condições médicas. Se tal afirmação foi feita pelo Sr. Salant, não representa as opiniões ou recomendações da Safrax. Iremos investigar isso internamente e fazer as devidas correções”, informou Dan.

Apesar da afirmação, no site da empresa há a presença do livro “Saúde Proibida”, de Andreas Kalcker.

A publicação é uma das mais lidas entre os que defendem o tratamento com a água sanitária e contém uma lista exaustiva das doenças que o guru da MMS afirma que podem ser curadas com cloro.

À “Vice News”, a FDA não respondeu se a agência estava investigando a Safrax por vender dióxido de cloro a pessoas que o utilizavam para tratar autismo ou outras doenças.

Segundo a “Vice”, vários números de telefone listados no site da Safrax ficaram sem resposta quando o site tentou entrar em contato com Salant, reproduzindo uma mensagem gravada do pastor pedindo aos clientes que deixassem uma mensagem ou enviassem um e-mail.

Uma mensagem no site da Safrax informa aos clientes que há um atraso de 2 a 4 semanas no envio de pedidos, especificamente devido à enorme demanda pelo produto.

Já há relatos de mortes após a ingestão de soluções com alvejante de roupa, clorinato de sódio e ácido cítrico para “curar” o autismo de crianças e adultos.

Segundo a Anvisa, o dióxido de cloro é classificado como um produto corrosivo e sua manipulação exige o uso de equipamento de proteção individual, além de ser um produto que também traz riscos apenas pela inalação — quanto mais pela ingestão.

Deu em Extra

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista