Além de parecer eficaz, o estudo também sugere que a Tedopi provoca menos efeitos colaterais, verificados em 11% dos participantes, contra 35% dos pacientes submetidos à quimioterapia.
O medicamento foi desenvolvido pela Ose Imunotherapeutics, startup francesa com sede em Nantes, no Oeste da França.
No comunicado divulgado, a empresa ressalta que o estudo publicado na revista científica destaca que se trata de uma “vacina pronta para o uso” contra o câncer.
A empresa ainda menciona que, além da redução no risco de morte, a vacina também permitiu aos pacientes melhorar sua qualidade de vida.
O professor Benjamin Besse diretor de pesquisa clínica do centro de combate ao câncer Gustave Roussy e principal investigador do ensaio clínico, afirma que a Tedopi é a primeira
vacina contra o câncer a mostrar resultados positivos na sobrevivência em um estudo de fase 3, a última fase de estudo antes da obtenção do registro sanitário.
“A avaliação contínua da Tedopi® é totalmente justificada como tratamento de segunda linha do CPNPC [câncer de células não pequenas] avançado ou metastático, a fim de poder oferecer esta vacina contra o câncer para pacientes difíceis de tratar, cujas necessidades médicas são urgentes”, afirmou Besse no comunicado divulgado pela Ose Imunotherapeutics.
Como funciona?
A Tedopi é um medicamento para tratar e não para prevenir o câncer.
O princípio é o mesmo da boa e velha vacinação: a vacina é feita com proteínas parecidas com as dos tumores. Isso estimula os linfócitos T, as células de defesa do corpo, que passam a reconhecer as células cancerígenas e eliminá-las.
Apesar dos resultados promissores, os responsáveis ressaltam que são necessárias várias aplicações durante o tratamento. E lembram que o medicamento surtiu efeito em um grupo muito específico do estudo: pacientes que já tinham passado por imunoterapia há pelo menos três meses.
A imunoterapia é um tratamento endovenoso que estimula o sistema de defesa do corpo a atacar as células do câncer.
Dois fatores foram essenciais para chegar à nova vacina, segundo os responsáveis: o primeiro foi a revolução da imunoterapia, que começou em 2010. E o segundo foi a Covid-19, já que o desenvolvimento de vacinas deu um salto após a pandemia.
A pesquisa é uma das últimas etapas para determinar a eficácia do imunizante antes de ser submetido às agências regulatórias.
Outras esperanças
A vacina Tedopi não é a única a apresentar resultados positivos. Os últimos meses foram marcados pela publicação de outros trabalhos promissores.
Em dezembro de 2022, a Moderna e a Merck divulgaram um ensaio preliminar de uma vacina de RNA mensageiro contra o melanoma em estágio avançado, uma forma de câncer de pele.
A vacina apresentou uma redução de 44% no risco de recorrência e morte pela doença.
As farmacêuticas BioNTech e Roche, poucos meses depois, publicaram pesquisas também animadoras para pacientes que sofrem de câncer no pâncreas.
Ainda que o estudo tenha usado uma amostra muito pequena, de apenas 16 pacientes, metade dos participantes desenvolveu uma resposta imune positiva ao tratamento.
Em junho, a Transgene, também francesa, apresentou uma vacina para prevenir a recorrência de cânceres que afetam a região otorrinolaringológica. Dos 16 pacientes tratados, nenhum teve recaída mais de dez meses após as aplicações.