A obra traz perfis de centenas de mulheres que comandaram esses polêmicos estabelecimentos comerciais, desde os anos 1920 até os dias de hoje.
As famosas ‘zonas do baixo meretrício’ atravessam o tempo se debatendo entre a má fama, o preconceito, e as muitas histórias ao redor delas.
O pesquisador e escritor Gutenberg Costa adentrou pelas alcovas da memória para escrever o livro “Cabarés na Cidade de Natal” (Editora 8), que foi lançado nesta quinta (20), às 17h, no Temis Club Balcão Bar, e no sábado (22), às 11h, na banca de revistas do Atheneu.
A obra toca em um tema ainda inédito na historiografia da capital potiguar, baseando-se em pesquisas e entrevistas.
O livro é resultado de 30 anos de pesquisa, algo que Gutenberg começou em 1993, entre anotações e entrevistas com várias das personagens citadas.
A obra traz perfis de centenas de mulheres que comandaram esses polêmicos estabelecimentos comerciais, desde os anos 1920 até os dias de hoje.
“Perfilei nomes, datas, endereços, causos, frequentadores famosos, etc. Estive em várias redações de jornais natalenses ao longo de mais de três décadas, e fiz muitos registros preciosos do assunto”, diz.
A maior parte das personagens mais antigas são da Ribeira.
Nomes que desapareceram (ou não) das memórias boêmias, como Rita Loura, Francisquinha, Alaíde, Virgínia, Dona Nenê, Josefa Paula, entre muitas outras. E claro, a célebre Maria Boa, que reinou na Cidade Alta.
“Ela se destacou por ter ganhado muito dinheiro com os americanos e criar um ambiente refinado, luxuoso, com clientela elitizada. Mas Natal teve muitas outras casas famosas, apesar de menores e humildes”, ressalta Gutenberg.
Além de trazer os perfis das damas da noite, a obra também cita diversas curiosidades, como as várias personalidades nacionais que vieram a Natal e passaram pelos cabarés, como o cantor Nelson Gonçalves e o finado Arpege, da Ribeira; o cantor Sílvio Caldas, que adora o ambiente alegre do Wander Bar;
o presidente João Goulart, que esteve em Maria Boa em 1963, além de Waldick Soriano, Ariano Suassuna, entre muitos outros artistas e intelectuais do passado.
“Apesar dos cabarés serem muito associados ao sexo, muita gente ia a eles apenas para beber, se divertir, conversar. Eram pontos de encontro para várias coisas”, afirma Gutenberg.
O autor ressalta que os textos se limitam às personagens, já que muitas possuem descendentes vivos, que não desejam ser expostos ao preconceito e estigma que ainda cercam a profissão “mais antiga do mundo”.
O livro traz ainda fotos antigas e raras, além de ilustrações. Gutenberg afirma que esse é o livro “de sua paixão”, outro de sua extensa bibliografia, no qual ele aborda um assunto pouco visto nas estantes potiguares.
O autor já escreveu sobre bares, carnaval, e outros temas populares.
Deu na Tribuna do Norte