Meio Ambiente 13/06/2023 11:00

Desmatamento no Cerrado cresce 32% em 2022 e atinge maior área em 3 anos

Por Ricardo Rosado de Holanda

Para além da Amazônia, o Cerrado também é afetado pelo desmate de áreas florestadas, com um aumento de 32,4% em 2022.

Apesar do Brasil ser um dos países mais biodiversos do mundo, a ação humana vem constantemente afetando degradando os biomas nacionais. Entre os principais responsáveis, o desmatamento segue sendo uma prática em constante crescimento no país.

Para além da Amazônia, o Cerrado também é afetado pelo desmate de áreas florestadas, com um aumento de 32,4% em 2022.

O dado é do Relatório Anual de Desmatamento no Brasildivulgado nesta segunda-feira (12) pelo MapBiomas Alerta. De acordo com o documento, no ano passado o desmatamento no Cerrado atingiu cerca de 659 mil hectares (ha); em 2021, foram 498 mil hectares.

Esse é o maior número registrado desde que o monitoramento começou, em 2019, e levanta um alerta já que a área afetada corresponde a quase um terço da supressão da vegetação nativa no país (32,1%).

Para Roberta Rocha, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), um dos principais motivos para esse aumento é a abertura de novas áreas com foco na expansão agropecuária.

“A combinação de investimentos em técnicas de correção do pH dos solos do Cerrado, que são ácidos, bem como condições de relevo adequadas e solos bem desenvolvidos, favorecem a atividade agropecuária”, diz Rocha, em comunicado do IPAM divulgado à imprensa.

Áreas mais afetadas

Num panorama geral, cerca de 708 municípios do Cerrado registraram pelo menos um evento de desmatamento em 2022. A lista dos 10 locais mais prejudicados é dominada por cidades do oeste baiano, do sul do Maranhão e do sudoeste do Piauí, localizados na região do Matopiba.

Área desmatada por estado no Cerrado em 2022 — Foto: RAD/MapBiomas Alerta/IPAM

Área desmatada por estado no Cerrado em 2022 — Foto: RAD/MapBiomas Alerta/IPAM

O estado da Bahia teve mais de 157 mil hectares derrubados, um aumento de 67,8% em relação a 2021. O Maranhão, que liderou a lista em 2020 e 2021, desmatou cerca de 152 mil hectares e ficou em segundo lugar. Já no Piauí, o desmatamento aumentou 137% em relação a 2021, o maior aumento entre todos os estados, com mais de 136 mil hectares desmatados.

Mas é no Matopiba que o perigo se concentra, onde, mais de 512 mil hectares foram derrubados. Isso representa 77,7% de todo o desmatamento do bioma. É nesse local que se concentram os maiores produtores de soja, algodão e milho do Brasil, o que também contribui para a devastação.

“Este cenário em conjunto com a expansão de novas áreas para agricultura e pastagem, e a deficiência de ações de fiscalização por parte dos órgãos ambientais, contribui para a concentração do desmatamento nesta região”, destaca Rocha.

Desmatamento nos 10 municípios que mais desmataram no Cerrado em 2022, todos localizados na região do Matopiba — Foto: RAD/MapBiomas Alerta/IPAM

Desmatamento nos 10 municípios que mais desmataram no Cerrado em 2022, todos localizados na região do Matopiba — Foto: RAD/MapBiomas Alerta/IPAM

O município de São Desidério (BA) lidera o ranking, tendo desmatado mais de 36 mil hectares no ano passado; Formosa do Rio Preto (BA) vem logo atrás com 33.416 hectares afetados; Balsas (MA) fica em terceiro lugar, com 27.854 hectares; e Uruçuí (PI), com 23.745 ha, e Jaborandi (BA), com 20.665 ha, completam a lista.

Mais preocupações

Mas, além do perigo da derrubada de áreas florestadas, o relatório ainda inclui outros alertas, como a velocidade em que o desmatamento vem ocorrendo. Em média, o Cerrado perdeu 1,8 mil hectares por dia em 2022.

Muitas das atividades são feitas, inclusive, sem autorização dos órgãos estaduais e em áreas protegidas. Dentro de Unidades de Conservação, o aumento foi de 47%. Foram 52 mil hectares desmatados, e desse total 98% ocorreu em Áreas de Proteção Ambiental (APAs).

Ao cruzar dados das autorizações de desmatamento com as coordenadas de reservas legais, áreas de proteção permanente, nascentes e áreas protegidas, os pesquisadores também constataram que 99% do desmatamento detectado no Cerrado apresenta algum indício de irregularidade.

“Para reduzir o desmatamento no Cerrado, precisamos de ações integradas por meio do fortalecimento dos órgãos de comando e controle, além da ampliação da fiscalização e da implementação de punições severas contra grileiros e desmatadores ilegais, levando a autuações e ao embargo dessas áreas”, destaca Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM.

Deu em Galileu/Um só Planeta
Ricardo Rosado de Holanda


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