Como define o deputado Guilherme Boulos, pré-candidato a prefeito pelo PSol?
A esquerda sempre teve dificuldade de fazer uma boa gestão na cidade de São Paulo. Tanto é que a Luiza Erundina não conseguiu fazer o sucessor. A Marta Suplicy, foi o José Serra que sucedeu. O Fernando Haddad não foi para o segundo turno. A esquerda tem uma preocupação correta com assistência social, educação, que realmente merecem ter atenção prioritária, mas ela não conseguiu nesses três mandatos fazer mais do que fizeram os outros prefeitos. Quanto à infraestrutura e zeladoria, ao combate ao comércio ilegal, o PT tem dificuldade nas grandes cidades. O Boulos, caso se eleja, terá grandes problemas. Ele privilegiará ações voltadas para o social, o que é certo, mas numa dimensão exagerada, que é própria da esquerda — esquecendo que, se você tem uma cidade bem cuidada, as pessoas vão frequentá-la mais, haverá mais turistas, aumentará a receita, o que é fundamental para diminuir as desigualdades. Acho que o Boulos pode ganhar as eleições e tenho muita preocupação, se ele não mudar o discurso, que ele não seja um bom prefeito.
O prefeito Ricardo Nunes tem sido bastante criticado por falhas na zeladoria da cidade. Você, inclusive, cobrou isso dele, segundo interlocutores.
Eu não digo que cobrei. O que tenho alertado a ele, em conversas que tivemos, é que um prefeito não consegue se reeleger se tiver buraco na rua, canteiros, praças e escolas mal cuidados, albergues funcionando de forma inadequada. Essa questão de zeladoria tem importância enorme numa eleição municipal. Prefeito não ganha eleição municipal se não apresentar um bom serviço.
Até que ponto a CPI do MST pode ser uma virtine para o Ricardo Salles viabilizar-se como candidato a prefeito em São Paulo?
Acho que instrumento não será, mas pode atrapalhar muito o Boulos. Porque essa CPI dará visibilidade a essa onda de violência que o MST promove. Sou coerente. Veja que concordei com a decisão do governador de liberar a feira do MST no Parque da Água Branca. Afinal de contas, é o lado bom da reforma agrária. São produtos que eles mesmos produzem em áreas regularmente ocupadas. Agora, eu também estou entre aqueles que defendem punições exemplares para quem promove invasões. Essa questão das invasões, e a CPI dará visibilidade a ela, vai atrapalhar muito o Boulos. Mas acho que não ajuda em nada o Salles.
A polarização política não pode inviabilizar a reeleição do Ricardo Nunes, como ocorreu com o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB) nas eleições passadas, por exemplo?
Eleição municipal é diferente. Como você tem o prefeito que é candidato, ele certamente terá muito tempo de televisão e infraestrutura para montar a sua rede social. Ele vai ter oportunidade de mostrar bons serviços, se tiver bons serviços. Se não tiver, ninguém vai acreditar nele. Aí está o nó.
É um erro apostar na polarização entre o petismo e o bolsonarismo nas eleições municipais de 2024, então?
Acho que é um erro, em especial nas grandes cidades. Na capital, porém, se houver um candidato de esquerda enfrentando um candidato de direita, o centro tem a propensão de ficar com a esquerda. No interior do estado, a tendência é a de ficar com a direita.
No governo Tarcísio, alguns dizem que ele delegou toda a articulação política a você e que a preocupação do governador é com o papel de gestor, de executor. Falam isso para criticá-lo. Procede?
Essa análise não tem nenhuma vinculação com a realidade. O Tarcísio gosta de política, gosta de conversar sobre política. Entendo que seja um bom político. Aliás, ninguém se elege se não tiver capacidade política. Ele sabe dialogar, sabe articular. O meu papel é ser assessor dele nessa questão política, nas relações institucionais, seja com parlamentares, seja com prefeitos ou demais instituições. Meu papel é de cooperação e não de liderança. Ele realmente é protagonista também na parte política.
Os bolsonaristas têm cobrado mais espaço no governo Tarcísio por causa do apoio que deram ao governador na campanha. Como vocês lidam com esse assédio?
Não é cobrança, nem assédio. A base sempre aspira a dar mais contribuição, seja com ocupação de cargos ou por meio da criação de programas. Qualquer governo tem de lidar com isso, do primeiro ao último dia. São pessoas que tiveram papel importante na campanha… O principal apoiador dele foi o próprio presidente Bolsonaro, além de todos esses parlamentares, juntamente com diversos outros que estão no espectro ideológico mais ao centro. Vejo isso com naturalidade.
Diante da possibilidade de Bolsonaro ficar inelegível para as eleições de 2026, aliados têm defendido o nome de Tarcísio como candidato mais à direita para a Presidência da República. Mesmo nesse cenário, você acha que o melhor caminho para o governador é disputar a reeleição, como disse recentemente?
Eu acho.
Por quê?
O prefeito Rafael Greca, de Curitiba, me disse outro dia numa conversa por telefone: “Alerte o Tarcísio para ele não cair no canto das sereias que habitam os palácios. O Serra caiu, o Doria caiu, o Jaime Lerner caiu’”. Acho que o Tarcísio é jovem, tem todas as condições de fazer um bom governo, tentar a reeleição, reeleger-se e, então, apresentar-se para o Brasil da mesma maneira que se apresentou aqui em São Paulo, com a imagem da eficiência, da transparência, do bom governo, e sair candidato a presidente em 2030. Mas a decisão é dele, lógico.
Você considera o quadro definido para Lula, se ele for candidato em 2026?
Acho que o Lula pode ganhar ou pode perder… Tendo a crer que ele será candidato. Mas, independentemente de como o Lula chegará em 2026, hoje a minha posição é por Tarcísio ser candidato à reeleição. Essa é uma opinião pessoal minha. A que vale é a dele. Acredito que ele pode ficar oito anos e deixar um legado grande aqui em São Paulo.
Qual seria, então, o nome da centro-direita que você vê com mais possibilidade de enfrentar Lula ou outro candidato da esquerda?
Os políticos que vejo com condições de se apresentar nesse campo ideológico são o Romeu Zema, o Ratinho do Paraná e o próprio Rodrigo Pacheco. São pessoas que poderiam tranquilamente fazer uma belíssima campanha. O Pacheco cresceu muito no último ano. O Zema e o Ratinho se reelegeram para o governo dos seus estados.
Se Lula não for candidato em 2026, por alguma razão, quem você acha que pode sair a presidente pelo PT?
Acho que será o Lula.
Afinal de contas, na sua visão, a chance de Lula ganhar é grande?
Ele já ganhou cinco eleições. Três vezes ele mesmo, duas vezes a Dilma. Lula sabe ganhar eleição.
Você pensa em se candidatar novamente a um cargo no Executivo?
Penso. Eu gosto de eleições, me dei muito bem em eleições. Quem é que não sonha em ser governador do seu estado, ser presidente da República, com os cargos de relevância que já ocupei? Mas não é nenhuma obstinação. Muito provavelmente não serei candidato a um cargo no Executivo por questão das circunstâncias. Até por lealdade ao governador, estou em um cargo político. A minha prioridade tem de ser o projeto dele, senão seria deslealdade minha. Estou fazendo aqui a política do governador e do governo, não estou fazendo a minha.
Além de secretário de Governo, você é presidente nacional do PSD. Tem pretensão de herdar o espólio do PSDB em São Paulo, que perdeu o governo depois de 28 anos no poder?
Não. Tenho tido muito cuidado no atendimento aos prefeitos de não perguntar qual é o partido, qual é a religião, para que a gente não repita o erro dos tucanos. No último ano da última gestão, eles obrigaram 150 ou 200 prefeitos a mudarem para o PSDB. O que eu percebo é que esses quase 400 prefeitos do PSDB vão acabar saindo, porque a presença deles lá era artificial. Estão voltando para o seu leito natural. Com uma tendência de o PSD, o PL e o Republicanos, e um pouquinho de MDB e PP, serem o destino desses prefeitos.
O PSDB vai acabar, na sua opinião?
Tem líderes importantes no PSDB, governadores. Falar que vai acabar seria uma afirmação muito arriscada do ponto de vista político. Com tantos anos de janela, não vou cometer esse grande equívoco.
Você se licenciou da Casa Civil do governo João Doria antes mesmo de assumir e não voltou para a gestão dele. O que mais o frustrou em relação ao governo Doria?
Posso te responder com uma pergunta? Aponte algo que ele fez em São Paulo, em quatro anos de governo.
A aquisição das vacinas na pandemia.
Ele quis aparecer com as vacinas. O que era para ser positivo foi negativo. Ele se apresentava como dono do (Instituto) Butantan. Ele vendia a vacina como se fosse pasta de dente, com aquele sorriso, maquiagem… A impressão que dava, e as pesquisas mostravam isso, é que ele tirava proveito da tragédia. Setecentas mil pessoas morreram de Covid. Ele organizava aquelas coletivas como se fosse um cenário de filme. Veja a diferença do Tarcísio em São Sebastião, no caso dos desmoronamentos. Foi lá, colocou o pé na areia, trabalhou e não tinha essa necessidade de ficar aparecendo.
Deu em Metrópoles