Entrevista 25/05/2023 10:12

“Estão faltando líderes dentro do governo Lula”, afirma Kassab (Entrevista)

Em entrevista, Gilberto Kassab afirma que o governo Lula se ressente da ausência de articuladores como José Dirceu e Márcio Thomaz Bastos

Gilberto Kassab, de 62 anos, nunca foi tão longe na arte do equilibrismo como agora, ao acumular o cargo de secretário de Governo e Relações Institucionais do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, com o comando do PSD, partido do qual é presidente e que integra a base de apoio parlamentar de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ao PSD, foram destinados também três ministérios (Pesca, Minas e Energia e Agricultura Pecuária e Abastecimento).’

Nesta entrevista ao Metrópoles, dada no gabinete que ele ocupa no Palácio dos Bandeirantes, Gilberto Kassab analisa os cenários nacional, estadual e municipal.

Ele acha que faltam líderes ao presidente da República, reafirma que, na sua opinião, Tarcísio deveria disputar a reeleição em 2026 e diz que a prioridade do seu campo político é fazer uma aliança com Ricardo Nunes (MDB) para a disputa da Prefeitura de São Paulo, na eleição do ano que vem.

Eis a entrevista:

Você já disse que se sente feliz por ter ficado em São Paulo em vez de ter assumido um ministério no governo Lula. Por quê?

Não diria virar ministro porque não fui convidado. Sempre deixei claro que a minha opção era São Paulo. O Tarcísio se elegeu governador porque chegou com a imagem da eficiência e da transparência. Não é fácil uma pessoa ter um cargo de relevância em três governos com perfis totalmente diferentes — Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro –, e os três falarem muito bem dele. Durante a campanha, ele se apresentou no estado inteiro, estudando cada região que visitava, e conquistou todo mundo. Agora, as pesquisas mostram uma aprovação que nenhum governador teve em três meses de mandato. Estou feliz porque acertei o caminho, porque estou ajudando um governo sério. Não quero dizer com isso que está tudo errado no plano federal e que graças a Deus não estou lá. Não faria isso agora, até porque é o começo do governo Lula.

Qual é a diferença do Lula do primeiro mandato para o Lula deste terceiro mandato?

No primeiro mandato, o Lula empoderou duas pessoas que tiveram papel fundamental no governo, especialmente no início: o José Dirceu e o Márcio Thomaz Bastos. Neste governo, olhando à distância, parece que ele empoderou o Alexandre Padilha e o Rui Costa, mas não com a intensidade que deveria — e, por isso, tudo volta para o colo do Lula. Acho que está fazendo falta ter duas pessoas empoderadas. Até porque ele está mais velho, mais cansado, por mais que esteja bem de saúde. Estão faltando líderes dentro do governo. Neste início que o Lula precisa mudar tudo, porque assumiu como oposição, assim como em 2003, ele não tem equipe para promover mudanças, ou não a empoderou o suficiente. É um problema.

O PSD está com um pé no governo federal, com ministérios, e com o outro no governo Tarcísio aqui em São Paulo, com você na secretaria. Isso poderá criar algum tipo de constrangimento ao PSD?

O PSD procura se equilibrar ideologicamente. Eu diria que é um centro programático, não fisiológico. Só para lembrar, em 2018, nós apoiamos o Geraldo Alckmin para presidente, perdemos a eleição e ficamos quatro anos em uma posição de independência. Aliás, foi o único partido que estava com o Geraldo a permanecer independente. Todos os outros que o apoiaram entraram no governo Bolsonaro com tudo. Não preciso citar os partidos, todos sabem. Era uma realidade diferente da de agora. Todos sabem que o PSD fez de tudo para lançar o (senador) Rodrigo Pacheco candidato a presidente da República. Acabou não conseguindo. O Pacheco entendeu que as eleições seriam muito turbulentas e que ele tinha um papel como presidente do Senado a cumprir. Acho até que acertou, porque as eleições foram realmente tumultuadas e ele teve um papel muito importante na defesa da democracia. Ficamos sem candidato, liberando nossos parlamentares para optar pelo caminho que quisessem. Naqueles que apoiaram o presidente Lula, o PSD teve uma posição vitoriosa. E, evidentemente, eles foram convidados a participar do governo. Promoveu-se uma discussão dentro do PSD, e a corrente majoritária preferiu apoiar o presidente Lula. Dessa maneira, o PSD escolheu fazer parte da base, pela governabilidade e em total conformidade com nosso papel na campanha. Em São Paulo, nada mais natural do que participar do governo Tarcísio. Nós indicamos o vice (Felício Ramuth), fizemos a coordenação da campanha, estivemos na linha de frente.

E nas eleições municipais do ano que vem?

Acho que na eleição municipal nós vamos ter o mesmo cuidado. Procurar caminhar pelo centro, pela moderação. Seja um candidato de esquerda ou um de direita, ele terá muita dificuldade na campanha, se não tiver o campo da centro-esquerda ou da centro-direita para apoiá-lo. Até agosto deste ano, a gente vai examinar a possibilidade de ter uma candidatura própria, mas tudo caminha para não termos.

O apoio está mais para o prefeito Ricardo Nunes (MDB) do que para o deputado Ricardo Salles (PL)?

A prioridade será tentar uma aliança com o Nunes, sempre no campo programático.

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista