Então, eles passaram a extrair o DNA das sementes, com ênfase em cerca de 10 mil sítios genômicos onde são geralmente encontradas características específicas de variedades. Os resultados foram comparados com bancos de dados de videiras modernas de todo o mundo.
Antigas sementes de uva sob um microscópio — Foto: Universidade de Haifa
Em 11 amostras, a qualidade do material genético era muito ruim para permitir quaisquer conclusões; já em outras três foram identificadas variedades locais de uva.
Finalmente, duas amostragens, ambas de cerca de 900 a.C., eram de variedades locais que existem até hoje.
Uma delas era quase idêntica à variedade Syriki, usada hoje para fazer vinho tinto de alta qualidade na Grécia e no Líbano.
É possível que o nome da planta, que marca seu local de origem, seja derivado de Nahal Sorek, um importante riacho nas colinas da Judeia.
Sementes de uva escavadas no Neguev compartilham ligações genéticas com variedades modernas — Foto: Guy Bar-Oz
Visto isso, a fruta provavelmente é a mencionada na Bíblia em Gênesis 49:11, durante a benção de Jacó ao filho:
“Ele amarrará seu jumento a uma videira, seu jumentinho ao ramo mais escolhido; ele lavará suas vestes no vinho, suas vestes no sangue das uvas”.
Outra passagem marcante é em Números 13:23, que descreve um gigantesco cacho de uvas trazido pelos homens enviados por Moisés para explorar a terra:
“Quando chegaram ao Vale de Eshkol (identificado por alguns como Nahal Sorek), eles cortaram um galho com um único cacho de uvas. Dois deles o carregavam numa vara entre si”.
A outra semente local não é bíblica, mas cresce misteriosamente nas areias de Palmachim, na costa de Israel, em remanescentes de vinhedos provavelmente abandonados em meados do século 20.
Trata-se da uva branca Be’er, usada hoje pela vinícola Barkan para fazer vinho branco especial.
Segundo o líder das investigações, o professor Guy Bar-Oz, da Universidade de Haifa, escavações no Neguev nos últimos anos revelaram “uma florescente indústria vinícola dos períodos bizantino e árabe inicial (por volta do quarto ao nono séculos d.C.)”.
Conforme Bar-Oz, esta indústria declinou gradualmente após a conquista muçulmana no século 7, uma vez que o Islã proíbe o consumo de vinho.
“O cultivo de uvas para vinho no Neguev foi renovado apenas nos tempos modernos, no estado de Israel, principalmente desde os anos 1980. Essa indústria, no entanto, depende principalmente de variedades de uva importadas da Europa”, ele explica.