Por mais de 30 anos, o jornalista e escritor Carlos de Souza (1959-2019), o Carlão, movimentou a editoria cultural da TRIBUNA DO NORTE com sensibilidade, inteligência, e seu senso de humor todo peculiar.
Um exemplo significativo do que Carlão escreveu, bem ao seu estilo, está no livro “Cartas obscenas de Linda Baptista”, edição póstuma que reúne as primeiras crônicas escritas por ele na TN, entre outras, compiladas por seu filho, o jornalista Alex de Souza.
A obra será lançada no sábado (13), a partir das 10h, no Sebo Vermelho, Cidade Alta.
Linda Baptista foi o pseudônimo com o qual Carlão escreveu seus primeiros textos na TN, no final dos anos 80. Uma figura misteriosa que comentava a cena cultural e boêmia da cidade com ironia e humor.
Alex começou a levantar o material nos arquivos do jornal logo após o falecimento do pai.
“Eu tinha uma curiosidade especial sobre a época em que ele publicou as cartas como Linda Baptista, mas no jornal ele só aparecia como Carlos de Souza depois de 1988, e não havia citação à personagem”, conta.
O jornalista descobriu que o pai, no começo da carreira, assinava como Francisco Carlos, e foi procurar textos ainda mais antigos dele. Foi então que encontrou os primeiros traços de Linda Baptista, em janeiro de 1987.
“Os textos apareceram primeiro na seção de cartas do jornal, e depois de alguns meses saindo praticamente toda semana, passaram a integrar o caderno de domingo, que era editado pelo Luís Fausto”, explica.
O jornalismo cultural natalense vivia uma grande fase no final do século passado, e Carlão era uma parte essencial disso.
“O caderno de domingo da TN era um espaço bastante democrático e muito plural, um momento especial da imprensa local e do jornalismo cultural potiguar que considero insuperável, porque você tinha claramente ali duas gerações muito distintas dividindo espaço”, afirma.
Nomes de peso como Dorian Gray Caldas, Jaime Hipólito Dantas e Veríssimo de Melo escreviam ao lado de iniciantes do naipe de Tácito Costa, Carlos Peixoto, João Batista de Moraes Neto, Marize Castro, Adriano de Sousa e, é claro, Carlos de Souza. Era a competência da “velha guarda” ao lado dos jovens talentos ávidos por deixar sua marca e arejar as páginas tradicionais.
Beatnik lírico
Alex acredita que os textos de Carlão se sobressaíam na paisagem por apostar num lirismo pouco usual, uma linguagem meio beatnik que ele aproveitaria, por exemplo, em “Crônica da Banalidade”, seu primeiro livro, publicado em 1989.
“Além disso, havia o mistério e o rebuliço que as cartas provocaram entre os leitores do jornal, principalmente na boemia da cidade, pois acho que apenas o pessoal da redação sabia quem era o autor”, ressalta.
A irreverente Linda Baptista “causou”, mas durou pouco.
Segundo Alex, a linguagem lírica e despojada utilizada nas crônicas – o que chamou a atenção do público – também foi a causa do cancelamento do espaço, após alguns meses, encerrando a carreira meteórica de Linda Baptista nas páginas de domingo. Mas não a de Carlos de Souza, que seguiu marcando a imprensa local com sua prosa fina, acessível e cativante.
O livro traz cerca de 25 textos, incluindo a troca de crônicas com Jaime Hipólito, o primeiro texto assinado como Carlos de Souza (na 1ª revista Galo, da FJA), a crônica da TN em que ele assume a personagem, e uma carta póstuma do jornalzinho do Sebo Vermelho.
A publicação do livro também marca o aniversário do autor, que estaria completando 64 anos no dia 15 de maio.