Comportamento 04/05/2023 08:45

Vídeos, fotos e filme plástico: passageiros adotam estratégias com medo de ter malas trocadas

Vídeos, fotos e filme plástico: passageiros adotam estratégias com medo de ter malas trocadas

Após a prisão injusta de duas brasileiras por tráfico de drogas na Alemanha, passageiros estão redobrando os cuidados na hora de despachar as bagagens no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Com medo de terem a mala adulterada ou trocada, viajantes adotam estratégias para tentar se proteger e revelam ao R7 quais são elas.

As goianas Kátyna Baía, de 44 anos, e Jeanne Paolini, de 40, ficaram 38 dias presas em Frankfurt sob a acusação de terem transportado 40 kg de cocaína. Durante investigação da Polícia Federal, foi comprovado que as bagagens das mulheres foram trocadas por funcionários terceirizados no aeroporto.

“Além de embalar, filmamos a bagagem aberta”

Em Guarulhos, há diversos quiosques que oferecem serviço para embalar bagagens, caixas e outros itens com filme plástico antes do check-in. O objetivo é inibir possíveis furtos e a inserção de drogas nas malas durante o transporte pelas companhias aéreas.

Mesmo com o valor salgado de R$ 109 pelo serviço, a administradora Lara Araújo Perez Silva, de 51 anos, e o marido decidiram embalar as malas.

Viajando pela primeira vez para a Itália, o casal embarcou no final da tarde do sábado (29).

Os dois vão passear durante 20 dias pelo país europeu e visitar cidades como Veneza, Roma e Pisa, entre outras. Com receio da repetição do caso das brasileiras, Lara e o marido decidiram tomar alguns cuidados extras antes de despachar a bagagem.

“A gente sempre viajou e nunca embalou as malas. Hoje, além de embalar, filmamos a bagagem aberta [em casa]. Colocamos etiqueta com o nosso nome, telefone, data, tentando nos prevenir de alguma forma”, conta Lara.

À reportagem, o funcionário que prestou o serviço ao casal disse que a procura pela embalagem das malas registrou aumento expressivo depois da prisão das brasileiras.

“Entretanto, as vendas poderiam ser muito maiores se os ‘clandestinos’ não atrapalhassem o nosso trabalho”, desabafa o homem, que prefere não ser identificado.

“Depois da prisão das goianas, a minha atenção redobrou”

Com fitas amarela e verde, um desenho da Pantera Cor de Rosa e filme plástico, a mala da aposentada Edna Peixoto dos Santos, de 64 anos, estava toda personalizada. Conterrânea de Kátyna e Jeanne, a idosa afirma que também ficou com medo e tomou algumas medidas de segurança.
“Eu sempre tomei cuidado, porque, no geral, todas as malas se parecem muito. Mudando no máximo a cor ou formato. Depois da prisão das goianas, a minha atenção redobrou. Quanto mais você personalizar a sua mala, fica melhor para visualizá-la na esteira”, aconselha Edna.

Enquanto se preparava em casa para a viagem, a aposentada também decidiu tirar fotos do interior da bagagem e compartilhar com a família. “Caso aconteça alguma coisa, a prova não está só comigo. Também vai estar com os meus familiares.”

Após sete meses da morte do marido, Edna escolheu viajar sozinha pela primeira vez para Lisboa, durante dez dias. Emocionada, ela mostrou à reportagem que carrega uma foto do companheiro na mala despachada.

“Antes éramos nós dois. Essa é a minha primeira vez sozinha. Sempre tive vontade de conhecer Portugal. Com o meu marido, já fui para os Estados Unidos e para a Itália.”

“Meu voo de conexão também é na Alemanha”

Para retornar à Irlanda, onde mora com a irmã há seis meses, o gerente de projetos em tecnologia Adriano Obeid, de 30 anos, também decidiu pagar pelo serviço de embalagem de bagagens oferecido em um quiosque do Aeroporto Internacional de Guarulhos.

De acordo com Adriano, a falta de cuidado dos funcionários no manuseio das malas durante o transporte até o avião e a possibilidade de extravio de objetos pessoais o motivaram a procurar pelo produto.

Rindo com um pouco de preocupação, o gerente de projetos ainda compartilha que, “por coincidência, o voo de conexão é na Alemanha [país onde as brasileiras foram presas]”. O que acende um alerta para redobrar os cuidados na hora do despacho nos guichês das companhias aéreas.

“Eu dei azar nas duas últimas vezes que eu viajei ao Brasil. As minhas malas não vieram, e eu tive que esperar alguns dias até elas chegarem. Na primeira vez, alguns itens vieram faltando. Eu fui reembolsado pela companhia, porém alguns objetos têm valor emocional”, relembra.

Fotografar as malas é o suficiente?
Não existe uma fórmula mágica para se proteger contra possíveis golpes e crimes, porém, de acordo com a advogada Carolina Vesentini, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), sempre há como tentar se prevenir.

“Fotografar ou filmar as malas no momento do check-in, em que os funcionários colocam a etiqueta de identificação, são medidas paliativas e práticas. As imagens são provas que facilitam o processo caso seja necessário comprovar que houve adulteração na bagagem”, afirma.

Existem variados formatos de rastreadores disponíveis no mercado, inclusive alguns já vêm embutidos nas malas de viagem. Algumas companhias aéreas oferecem o dispositivo aos passageiros, com acréscimo de uma taxa.

“Embora envolva custos adicionais, ele pode ter a função de provar onde está a sua mala em caso de algum problema como acusação de um crime”, afirmou Carolina Vesentini.

Deu em R7

Ricardo Rosado de Holanda


Descrição Jornalista